Um orador sobe à tribuna e passa a fazer um discurso eloquente. Seu nome é Fernando Collor de Mello, e por mais que eu me esforce para reagir racionalmente, sou sempre dominado por emoções intensas quando o vejo novamente em ação: lembranças traumáticas, repulsa, nojo – uma sensação de inconformismo ante a constatação de que uma figura pertencente a uma página que eu supunha virada da história está de volta: “belo e formoso”, como diriam com sarcasmo minhas tias italianas – e, pior, eleito.
Seu eloquente discurso é contra seu colega de Senado Pedro Simon. Nunca consegui confiar nesse gaúcho franciscano, que descende da ala esquerdista do PMDB e fez uma longa carreira brandindo a bandeira da moral. Se eu fosse fazer um filme sobre política ele seria minha primeira opção para representar um demagogo que se vale do denuncismo moralista como forma de manutenção do poder político. Não que eu saiba de qualquer denúncia séria em que ele estivesse envolvido – simplesmente não vou com a cara dele, só isso. O que há de concreto em relação a Simon é a insistência na contradição surrealista de dar apoio à governadora de seu partido contra a qual pesam graves acusações de corrupção ao mesmo tempo em que defende, com seu teatralismo excessivo, a saída do senador também de seu partido igualmente acusado de corrupção.
Seu eloquente discurso é contra seu colega de Senado Pedro Simon. Nunca consegui confiar nesse gaúcho franciscano, que descende da ala esquerdista do PMDB e fez uma longa carreira brandindo a bandeira da moral. Se eu fosse fazer um filme sobre política ele seria minha primeira opção para representar um demagogo que se vale do denuncismo moralista como forma de manutenção do poder político. Não que eu saiba de qualquer denúncia séria em que ele estivesse envolvido – simplesmente não vou com a cara dele, só isso. O que há de concreto em relação a Simon é a insistência na contradição surrealista de dar apoio à governadora de seu partido contra a qual pesam graves acusações de corrupção ao mesmo tempo em que defende, com seu teatralismo excessivo, a saída do senador também de seu partido igualmente acusado de corrupção.
E é justamente contra a defesa que Simon fez da saída de Sarney da Presidência do Senado que Collor se insurge no discurso. Eu sei que só as “velhinhas de Taubaté” e (o que vem a ser a mesma coisa) a ala poliana do PT não percebem que ejetar Sarney da Presidência do Senado não passa de uma estratégia da oposição para tentar tirar das forças situacionistas uma posição vital da República a pouco mais de um ano das eleições presidenciais. Há de se considerar, ainda, que mesmo se a operação de extração do coronel maranhense fosse bem-sucedida, faltaria ainda expurgar do Congresso mais 299 “picaretas”, segundo as contas e as escolhas vocabulares que nosso atual Presidente da República fez tempos atrás.
De qualquer modo, ao atacar Simon e defender Sarney, o discurso de Collor visa beneficiar, em última análise, o governo Lula. Como esse apoio teoricamente ajudaria a tornar ainda mais remota a possibilidade de o país, após as próximas eleições, voltar a ser governado pelo privatismo anti-Brasil e anti-povo do conluio DEM/PSDB – hipótese que considero catastrófica – eu deveria me regojizar com a atitude de Collor, como outros colegas que compartilham de visões políticas semelhantes fizeram e continuam fazendo, na internet ou no mundo, vasto mundo, ante o destemido discurso do ex-caçador de marajás alagoano.
Afinal, a pantomima cínica e hipócrita de virgílios, álvaros e rauls, que disfarça pragmatismo político em moralismo tosco, pede uma resposta à altura. Por outro lado, como o PSOL – que sofre da doença infantil do esquerdismo – empurrou o governo Lula no colo dos representantes da pior elite, preferindo transformar-se em linha-auxiliar da direita privatista/financista sem receber nada em troca, o jogo político tem de ser jogado com as peças à mão. No entanto, mesmo fazendo todas essas ressalvas, a aliança do atual governo - sabe-se lá em troco do quê - com o ex-presidente enxotado do poder ultrapassa os limites do bom senso e esgarça ainda mais o tecido da realpolitik lulista.
Afinal, Collor atacando Simon para defender Sarney, tendo por fim preservar interesses políticos de Lula soa, para mim, como realismo fantástico em forma de política.
Ao mesmo tempo em que marca, à revelia da razão, o ponto a partir do qual minhas escolhas políticas perdem importância ante minhas convicções éticas, como indica o enjoo de estômago e os engulhos de repugnância que sinto ante tamanha nojeira.
De qualquer modo, ao atacar Simon e defender Sarney, o discurso de Collor visa beneficiar, em última análise, o governo Lula. Como esse apoio teoricamente ajudaria a tornar ainda mais remota a possibilidade de o país, após as próximas eleições, voltar a ser governado pelo privatismo anti-Brasil e anti-povo do conluio DEM/PSDB – hipótese que considero catastrófica – eu deveria me regojizar com a atitude de Collor, como outros colegas que compartilham de visões políticas semelhantes fizeram e continuam fazendo, na internet ou no mundo, vasto mundo, ante o destemido discurso do ex-caçador de marajás alagoano.
Afinal, a pantomima cínica e hipócrita de virgílios, álvaros e rauls, que disfarça pragmatismo político em moralismo tosco, pede uma resposta à altura. Por outro lado, como o PSOL – que sofre da doença infantil do esquerdismo – empurrou o governo Lula no colo dos representantes da pior elite, preferindo transformar-se em linha-auxiliar da direita privatista/financista sem receber nada em troca, o jogo político tem de ser jogado com as peças à mão. No entanto, mesmo fazendo todas essas ressalvas, a aliança do atual governo - sabe-se lá em troco do quê - com o ex-presidente enxotado do poder ultrapassa os limites do bom senso e esgarça ainda mais o tecido da realpolitik lulista.
Afinal, Collor atacando Simon para defender Sarney, tendo por fim preservar interesses políticos de Lula soa, para mim, como realismo fantástico em forma de política.
Ao mesmo tempo em que marca, à revelia da razão, o ponto a partir do qual minhas escolhas políticas perdem importância ante minhas convicções éticas, como indica o enjoo de estômago e os engulhos de repugnância que sinto ante tamanha nojeira.
24 comentários:
Vomitemos a perversa realidade deste senado transformado em quadrilha de jagunços rapinando seus feudos e perpetuando a miséria que os sustenta.
Puebla
Puebla,
Seu comentário foi um verdadeiro sal-de-fruta para os meus engulhos políticos.
Temos de renovar esse Senado: só fica a Marina Silva, o resto troca tudo!
Não concordo apenas com areferência ao PSOL. Se denuncia o gov é aliado da direita, se não denuncia, é vendido.
O PSOL tinha que adotar uma posição, preferiu ñ seguir o PT e vender sua alma, aliás, a história da fundação do PSOL já demonstra a impossibilidade de acordo com o PT
Raphael,
Respeito sua opinião, mas não concordo com ela.
Se a esquerda (não só o PSOL, mas até setores do PMDB) tivesse se unido ANTES da eleição em torno de um projeto realista de país, com ambas as partes cedendo um pouco, Lula não teria sido jogado no colo das elites.
Pois o fato é que sem maioria no Congresso não se governa.
E outra coisa: o PSOL teve algum ganho político com as atitudes que tomou recentemente? Nenhum, entrega tudo de bandeja à pior direita. É um inocente útil.
Antes do que, Caleiro? Do golpe da direito da PT, vulgo Campo Majoritário e a Carta ao povo brasileiro?
O pessoal do PSOL foi expulso do PT por se manter coerente Às bandeiras do PT histórico, foram apunhalados, expulsos e fundaram o que é hoje o PSOL.
A direita do PT cedeu no quem? Nunca cedeu, decidiu expulsar antes de dialogar.
O que não se podia esperar é que um partido de Esquerda apoiasse Sarney, Collor, Calheiros e etc, como o PT faz. Se apoiar a direita é denunciar essa corja então... O que sobra pra esquerda?
Exatamente, antes de tudo isso. Quando, 2 anos, 2 anos e meio antes da eleição, se discutia as alianças e os projetos da candidatura Lula.
Só foram expulsos porque foram intransigentes, insistiram em manter posições insustentáveis num governo de coalisão, com toda a mídia contra e com amplas suspeitas de como se comportaria no poder. Pior: reafirmaram que continuariam mantendo tal posição à revelia do partido nas votações legislativas.
Não deixaram opção: era ou mantê-los no partido e abdicar da chance de conquistar a Presidência ou livrar-se deles e compor mais à direita.
Se tivessem negociado, cedido em algumas coisas para obter outras, não teriam jogado Lula no colo da direita. Releia a Carta ao Povo Brasileiro - é um documento de estratégia política, para acalmar certos setores, nada além disso.
E, poir sinal, bem mais realista do que a proposta do PSOL de acabar com o sistema bancário...faça-me o favor, né, não dá nem pra levar a sério.
O mesmo processo, em outra escala, se dá agora com a postura do PT em relação a Sarney. Como insiste na sua saída dá palanque à pior direita: Collor. Daí, quando a casa cair e a Presidência for parar no colo do PSDB, a culpa é dos setores de direita e não do PT que não defendeu o governo que alegadamente representa.
VocÊ garanta que, antes de tudo isso, a Esquerda do que hoje é o PSOL não tenha ficado contra as alianças com Sarney e cia?
Mas o que a minoria podia fazer senão, depois de consumado o golpe contra as bandeiras históricas, continuar a defender todas elas?
Se votar à revelia do partido é defender o Socialismo, as bandeiras do partido que este abandonou, então tem - como tinham - meu total apoio!
Não aceitaram se vender.Como pode a líder do PT no Senado, a HH, de um ano pro outro, sem ter mudado um cm de posição, de repente vira rebelde e está errada, expulsa?
"Você garante que", corrigindo!
Ué, era ela com suas idéias irreais de acabar com o capitalismo ou a conquista do bjetivo maior de todo partido político: o poder.
Irreais? Talvez, mas por anos a fio era o que o PT defendia. Uma eleição depois esta defesa tornou-se inadequada... Porque será?
O PT defendia, não. Uma ala mais à esquerda do PT defendia.
E tornou-se inadequada exatamente porque o esquerdismo intransigente afugentaria setores médios e impediria a vitória na eleição. Na remota hipótese de que, ainda assim, Lula vencesse, não conseguiria governar.
Primeiro, porque composições com outros setores seriam necessárias para aprovar projetos no Congresso, pois o PT mesmo inteiro não se bastaria;
Segundo, porque a pressão da mídia e dos setores de direita a um governo de extrema esquerda seria ainda mais insuportável do que já foi, quem sabe incorporando práticas como o boicote e a escassez de produtos como forma de gerar a insatisfação dos setores médios, como no Chile de Allende.
Maurício,
No Twitter, vinhamos conversando sobre o quanto pesa ou pode pesar a realpolitik na estratégia política do PT. Só p/ contextualizar:
EU: O PT escolheu dar a cara a tapa e tentar melhorar a vida do povo, em vez de esperar a revolução comendo pipoca. Inevitável a realpolitik.
@flavio_as Mas se o PT realmente apoiasse o governo que diz representar a realpolitik não precisaria ser tão elástica. Este é meu ponto
@M_Caleiro Hmm concordo: foi o pré-lançamento da pré-candidatura da min. Dilma que colocou o Governo de joelhos há 1 ano das eleições.
@M_Caleiro De qqr. forma, penso como a bancada no Senado, de que não seria um "maremoto" a renúncia do Bigode. Novas eleições, oras!
@flavio_as É, mas é um risco desnecessário, não? Seria muito mais fácil se o PT parassede brincar de entregar o poder aos outros partidos...
Como eu disse, concordo e discordo.
Concordo que seja um risco desnecessário. O amanhã, principalmente na política, só à complexidade cósmica pertence. Por mais que o Planalto pudesse contar com a parceria do PMDB, nada garantiria que nada pudesse escapar do controle. O PMDB, sabemos, é uma panela de pressão, uma larga confederação de interesses, cheia de "radicais livres", e fazê-los consolidarem-se em torno de uma posição é difícil, dados os numerosos interesses (na maior parte das vezes, espúrios) que têm que ser conciliados.
Além disso, qualquer mente mais bem informada ou minimamente razoável sabe que o problema da crise do Senado não é Sarney il-même. Como o sen. W. Salgado disse ontem, jogaram o bigodudo de boi-de-piranha a fim de tirar a atenção da opinião pública p/ o fato de que a Nova Ética virgílica não é seguida nem por ele mesmo. Pode reparar que muitos dos que vem c/ discurso moralóide na oposição são basicamente DEM e PSDB, isto é, srs. que estão desesperados p/ se reeleger. Oras, o eminente senador e diplomata Arthur Virgílio Neto, não foi ele que recebeu só 5% dos votos nas últimas eleições p/ Governador?
E verdade seja dita. Visto que a criançada do parlamento, digo, o PSOL -- e tantas outras forças de esquerda que optaram por esperar pela Revolução comendo pipoca enquanto torcem contra o Lula -- não são forças p/ uma possível aliança de centro->esquerda, não restará opção p/ o PT que não seja se aliar ao PMDB num eventual governo Dilma. Não adianta espernear, fazer capa de Veja, brandir a moral. O PMDB continuará aí, chantageando quem quer que esteja no poder. Quem quiser governar vai ter que fazer concessões.
Porém, vejamos que o outro lado não é tão custoso assim. Eventualmente, pode ser até recompensador. Tenho a impressão de que Sarney não é dono do PMDB. Se você quer saber quais são os líderes do PT, você acessa seu site e procura lá "Executiva nacional". Já no PMDB, isso é impossível! Suspeito que o verdadeiro comando desse partido esteja na Lua, daí o Brasil não conseguir lançar um foguete sequer pro espaço.
Então, oras, se cai o sr. Bigode, certamente a liderança do Governo poderia negociar c/ outros grupos de interesse -- ou c/ o mesmo de Sarney, tanto faz -- uma nova acomodação. Talvez a mídia não dê tregua p/ um eventual novo nome -- já que o objetivo, sabemos, é permitir ao PSDB levar o Senado no tapetão, objetivo que compele a uma missão jornalística incansável. Mas, Sarney ganharia c/ essas "férias" dos jornais p/ poder se recompor. O Governo não se ferraria e isso até pegaria bem com a Frente Nacional Pela Moral e Bons-Costumes, que poderia se proclamar vitoriosa e diminuiria a marcação no PT.
Além disso, tenhamos em conta que a posição da bancada não é por esta ter caído no conto do Vigário. Mesmo a população não dando tanta atenção aos jornalões, é fato que a recondução de vários dos senadores ficaria comprometida, ou a concretização de outras estratégias políticas. Principalmente p/ os senadores de São Paulo. Falo da classe-média, da zélite branca paulista, que aqui no Estado é uma força eleitoral potente e pode derrubar Mercadante ou Suplicy em função desse escândalo -- lembrando que a rejeição ao PT aqui não é coisa bonita.
Infelizmente, para a maior parte do eleitorado que apoia Lula ou não, as instituições políticas são produto das pessoas que as exercem. Isso não é devido a um pretenso "apolitismo" do povo, ou a sua falta de instrução. Acontece apenas que nem todo mundo é politólogo, nem todo mundo vive de estudar Marx ou Schumpeter; nem deveria. Daí o poder do discurso moralóide tucano. Na "cobertura" que fiz da 1a sessão do semestre no Senado, comentei no twitter:
Sen. Álvaro Dias disse que não quer falar do passado. A História não interessa. O problema do Senado é "moral". Ledo engano.
Como resolver isso? Tirando os motivos que os tucanos têm p/ discursar, isto é, sanando as crises. Algo como o que você disse no seu texto: precisamos tirar o palanque dos malandros, antes que eles tomem o nosso.
Obrigado pela atenção,
Um abraço,
F.
Uma ala extremamente relevante e de grande visibilidade que foi neutralizada e expulsa, ou melhor, não foi neutralizada, então, expulsa.
Será que foram os "radicais" que mudaram de opinião" ou os majoritários que trocaram as bandeiras pela governabilidade?
Eu não concordo com o radicalismo de alguns setores do PSOL, tampouco concordo com o que o PT virou.
E o PT venceu com a Esquerda "radical", depois resolveu expulsar.
E pelo visto o PT não precisa dos"radicais" pra rachar, tem MErcadante e Cia e o próprio Lula que de amigo do peito agora parou de defender o Sarney, "é problema dele"!
Flávio,
Concordo integralmente com tudo que você escreveu no primeiro comentário, não tenho nada a acrescentar.
Quanto ao segundo, parece-me evidente que o pressuposto de que não há como compor com "as crianças do parlamento" (adorei isso!) está certo, assim como que a aliança natural dar-se-à com o PMDB.
Agora, acho mais problemáticas as conclusões que você tira a partir daí. Exemplos atuais e pregressos (respectivamente, Sarney e Severino Cavalcanti) mostram que o PT, em eleições parlamentares, pode ser um grande fator de desequilíbrio para os arranjos políticos lulistas.
Não tenho dúvidas de que a mídia fará de tudo contra o candidato governista à Presidência do Senado assim que ele se apresentar como tal. Se um coronel com décadas de "janela", como Sarney, está balançando, muito mais fácil abalar um político menos graduado (como certamente virá a ser o candidato do Planalto). Se, dái, o PT repetir a postura "poliana" e o medo da opinião pública exibidos no "Caso Sarney" - ou se insistir num candidato próprio, como ameaça fazer - aí a possibilidade de um "Severino Cavalcanti, o Retorno" passa a ser real, e desastrosa e um ano das eleições presidenciais. Pelo menos é a minha opinião,
Obrigado por prestigiar o blog e volte sempre.
Um abraço,
Maurício.
Tsavkko,
Decida-se: o PT "venceu com a Esquerda "radical", depois resolveu expulsar", como você afirma em seu último comentário, ou "Antes do que, Caleiro? Do golpe da direito da PT, vulgo Campo Majoritário e a Carta ao povo brasileiro"?, como no primeiro?
Quanto ao PT não precisar dos "radicais" pra rachar, enfim concordamos em algo.
Maurício,
É... temos que convir que o PT é meio "fominha" c/ alianças, coligações e afins. Em matéria de política, o partido aprendeu a multiplicar, mas não entendeu ainda o "dividir".
Quanto ao problema da mídia -- ah!, sempre a mídia! --, provavelmente você está certo. Mas, como diz a sabedoria popular: "A queda do topo é sempre mais dura."
Que, no caso Sarney, complementa-se c/ aquele latino: "Corruptio optimi pessima", algo como "A corrupção da zélite é 5 estrelas".
Quero dizer: c/ um nome mais "moralmente respeitável", um Tião Viana da vida, por ex., teríamos menos problemas c/ a Polícia da Moral e dos Bons Costumes, a Sturmabteilung do PiG.
O que me atemoriza mesmo é uma volta do baixo clero, massa de manobra das Fiesps da vida. Isso me preocupa. Aliás, já viu aquela entrevista do Ciro Gomes c/ o Sócrates? Não sei se foi daqui a indicação, mas fica o link:
http://www.youtube.com/watch?v=vbzqRgF0JN4
[]s!
Flávio,
A entrevista é ótima, sobretudo pela coragem dele de fazer as acusações que faz. Agora, isso não significa que eu compraria um carro usado dele.
Essa possibilidade do baixo clero ascender parece grande, se o Lula não conseguir manter o Sarney. Aguardemos os próximos capítulos...
Abs.
Maurício e Tsavkko,
Desculpem estar comentando apenas agora, li o post ontem já muito tarde da noite.
Sobre o cisma do PT, o que tínhamos ali era um grande e heterogêneo partido que juntava uma verdadeira miríade de grupos e tendências muitas vezes antagônicos entre si no campo da esquerda.
Você pega o pré 2002 e temos a Articulação, o grupo não apenas hegemônico como conjuntivo do PT, dando uma guinada pra centro-esquerda, quase pro centro.
Alguns grupos econômicos estavam descontentes com o modo tucano de governo e se sentam à mesa com a Articulação para negociar. O ambiente internacional, por sua vez, era propício para uma mudança, mesmo que longe do ideal, víamos o abandono americano da região assim como a falência de seus projetos.
Cada um cede pra lá e pra cá e temos o Governo do PT. Lula consegue avanços como dar o tiro de misericórdia numa ALCA que nem os americanos levavam a sério e não somente faz isso como elabora uma saída viável para tanto. Por outro lado, é obrigado a engolir um homem da FEBRABAN ali dentro, Meirelles, e até Hélio Costa, homem da Globo - que Lula comeu pelas beiradas no seu Governo.
Pois bem, diante disso, muitas dessas correntes resolveram tensionar para tentar abortar esse movimento do partido. Contavam que a eventual comoção que a expulsão de alguns membros impediria que essa decisão fosse tomada e mantiveram uma posição intransigente. Erraram no cálculo político e caíram.
Sobre o fato de que HH e os demais membros expulsos do PT quererem acabar com o Capitalismo, menos, menos. O PT, mesmo grande parte das alas mais à esquerda do partido, nunca quis. Sempre usaram camiseta do Che, mas no fim das contas aquilo sempre foi uma briga para decidir se teríamos uma social-democracia mais ou menos profunda - peguem o próprio PSOL e ele é um partido social-democrata na média das suas várias correntes.
O Negócio não é o fato de um socialista cristão como Plínio de Arruda Sampaio estar ser muito de esquerda - ele não é -, mas sim aquele mal-estar entre a centro-esquerda e a esquerda, numa cenário onde chamar o outro de direitista é o pior xingamento que existe - e vira até clichê.
A Articulação cortou na própria carne para provar que tinha o controle do partido e provou - não somente aqui, mas também no episódio da votação em cima do clima do Mensalão.
O PSOL que nasce em decorrência disso, já surge com os muitos dos defeitos do PT; uma grande quantidade de correntes, não raro antagônicas entre si, mas não há um grupo majoritário aqui que sirva como tecido conjuntivo do partido. Daí, convivem o pessoal da esquerda cristão de Plínio com o pessoal extremista.
O PT então se firma como partido reformista e o PSOL oscila entre o reformismo mais profundo e o extremismo. Ambos não representam uma esquerda radical, isto é, fiel à sua radix e verdadeira e efetivamente revolucionária - e quando falo em Revolução não me refiro a um novo Outubro Vermelho, mas um movimento que rompa com as contradições indissolúveis do nosso tempo e avance com o processo histórico de acordo com as nossas necessidades.
(continua)
Parte 2
O PT, por ora, é a única agremiação partidária capaz de, ao menos, abrandar a irracionalidade furiosa, vil e incivilizadora de nossa elite seja por sua amplitude, seja por sua profundidade e inserção em muitos movimentos sociais e nas próprias instituições da nossa República corrupta. Nesse momento, isso cria uma certa estabilidade que evita o descalabro, o que, dentro de uma visão histórica, o torna indispensável por ora, mas a necessidade de supera-lo é premente.
Estou muito longe de achar que o PT é um governo igual a FHC ou coisa que o valha, mas muito longe de achar que ele é a última bolacha do pacote histórico da esquerda. Sobre o PSOL, o partido pode sim ocupar uma posição interessante no campo da esquerda, desde que supere os próprios defeitos que herdou do PT e consiga superar essa relação mecânica que há entre as suas correntes para forjar uma teoria revolucionária para o nosso tempo - e uma dica: Larguemos é percepção limitada da filosofia e pensemos as coisas de uma perspectiva mais ampla, antropológica.
abraços coletivos
Hugo,
Sua análise é, como de costume, muito rica em perspectivas.
Faço apenas uma ressalva: HH e os demais membros expulsos do PT que fndaram o PSOL afirmaram no documento fundador do partido terem como fim último a destruição do sistema bancário e do regime capitalista. Não é invenção da minha cabeça, está lá, preto no branco.
Um abraço,
Maurício.
Sabe, Mau, se vc escrevesse numa revista eu comprava. Você sabe que é um parrhesist? (que ser isto: http://en.wikipedia.org/wiki/Parrhesia)
Boa ideia, Flavia, vou começar a cobrar (rss!!).
Olha, se eu sou um parrhesist, não sei. Mas é exatamente o que eu gostaria de ser.
Mauricio,
Estar no manifesto, no documento de fundação e etc não quer dizer muita coisa. Ter um horizonte em que aquelas idéias seriam possíveis ou almejadas é diferente de, na prática cotidiana, defender ferrenhamente tudo isso.
Sempre uso o exemplo do PNV basco, eles defendem o nacionalismo, a independência mas sempre se mostraram acomodados com a autonomia regional.
Tem o horizonte da independência mas ñ se esforçam tanto assim.
E, se formos levar em conta os programas dos partidos o PT deveria ser de esquerda e o PCdoB Comunista! Como vemos, nada mais longe da verdade ou do possível!=)
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