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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Aldo e o desprezo pelo conhecimento

O fato de alguém sem conhecimento científico, sem a mínima experiência na área, sem sequer um curso universitário, ser nomeado ministro da Ciência e Tecnologia de uma das 10 maiores economias do mundo seria, por si, um acontecimento espantoso.

Atualmente, o perfil mínimo que se espera para tal cargo, em qualquer país decente, é ou o de um gestor científico com décadas de experiência ou o de um acadêmico responsável por pesquisas de monta, em ambos os casos com titulação mínima de doutor. Afinal, ele será a mais alta autoridade a lidar diretamente tanto com desenvolvimento tecnológico quanto com pesquisa - fora e, em parceria com o MEC, dentro da academia,  em níveis diversos, inclusive de ponta.



Na contramão do mundo
Mas o Brasil, após 12 anos sob administração petista, tornou-se um país em que, ao contrário do que acontece no resto do mundo, quanto mais qualificada a pessoa, mais risco ela corre de não conseguir emprego.

Cresce de forma exponencial, ano após ano, o número de doutores desempregados – gente que dedicou mais de uma década ao estudo e à pesquisa, fez graduação, mestrado e doutorado, para, ao final, já não tão jovem, subsistir em subempregos ou viver o drama do desemprego.



Uma comparação
O caso-síntese desse estado de coisas veio a público em um dos debates eleitorais (na Globo), em que a então candidata Dilma, respondendo pergunta de uma economista de meia idade, com doutorado, desempregada, recomendou-lhe que “se reciclasse” fazendo um curso técnico no Pronatec, menina dos olhos da mandatária. Algo como sugerir a um graduado em Engenharia da Computação que aprenda conserto de computador por correspondência.

Aldo Rebelo (PC do B/AL) não sabe consertar computador, não tem curso técnico no Pronatec, graduação, mestrado e muito menos doutorado. Sequer currículo Lattes, item mandatório para quem lida com ciência, ele tem. A formação dele é muito pior do que a da economista desempregada alvo da resposta desdenhosa de Dilma. Mas, como recompensa a tanto despreparo, a presidente decidiu nomeá-lo ministro da Ciência e Tecnologia.



Palavras ao vento
Pois, à revelia do que Aldo fará em relação a Ciência e Tecnologia, Dilma, cuja alegada prioridade à educação raramente transcende o mero discurso para além do ensino técnico, sabe que pode contar com a fidelidade canina do assessor. Afinal, ele também não entendia nada de Esporte e foi ministro da pasta.

O “novo” ministro, um nacionalista autoritário, é tão ignorante em relação à área sob sua responsabilidade que “faz parte do grupo de pessoas que nega o aquecimento global, um debate que já não faz mais parte da ciência. Comprovadamente, o aquecimento está sim acontecendo, como mostram 10.883 dos 10.885 artigos revisados por pares em climatologia em 2013” - aponta Tulio Baars, em artigo demolidor no Brasil Post.



Contra a ciência
Fica ainda pior: Aldo demonstra desconhecer a própria metodologia científica ao considerar o materialismo diáletico, método forjado por Marx a partir de bases hegelianas, uma “ciência da natureza” - algo que a própria crítica marxista de ponta há tempos revisou.

Isso justifica o temor, ora difundido no universo acadêmico-científico, de que ele venha a sobrepor ideologia à ciência. Sua relação com seu colega da Educação, Cid Gomes (PMDB/CE), ex-governador que vivia às turras com os professores, é também motivo de constrangimento e preocupação. Abaixo-assinados com milhares de assinaturas vêm circulando em tais ambientes e devem ser remetidos à Presidência.



Dupla dinâmica
Os receios se justificam. Há fortes indícios de que a principal função de Aldo, no novo cargo, será repetir a tabelinha que, em 2011, fez com a “Miss Desmatamento” Kátia Abreu (PMDB/TO) – agora sua colega da Agricultura. Na época, os dois atuaram intensamente em prol da votação do projeto de reforma do Código Florestal, a qual visava permitir o cultivo em Áreas de Preservação Permanente, diminuir a conservação da flora nas margens dos rios e isentar de multas os agricultores desmatadores.

Ou seja, ele deve funcionar como uma especie de cão de guarda junto à comunidade científica. Por um lado, concentrando esforços no sentido de estimular a produção de material de sustentação teórico-metodológica ao modelo predatório de desenvolvimento tão ao gosto de Dilma. E, por outro, retendo financiamentos e boicotando a realização ou a difusão de pesquisas que deixem claros e quantifiquem os danos ambientais inerentes a tal modelo.



O país relegado
Sua nomeação ao ministério da Ciência e da Tecnologia é um escárnio. Causa indignação, mas não surpresa, pois revela o retrato acabado de um governo que recusa sistematicamente o diálogo, e que não demonstra o mínimo pudor em sacrificar mérito, experiência e qualificação em prol da imposição acrítica e totalitária de seus objetivos. Os quais, como o caso Petrobras ilustra de forma clara, estão longe de coincidirem com o que seria melhor para o país.



(Foto de Dida Sampaio/AE, retirada daqui)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O ministério da discórdia


Como convém aos fatos que buscam baixa repercussão, o anúncio de boa parte da reforma ministerial de Dilma Rousseff teve lugar na véspera dos feriados de final de ano. Época em que os principais comentaristas políticos estão em férias, a mídia limitada a plantões e retrospectivas e as atenções da maioria da população voltadas para lazer, presentes e congraçamento social.

A escolha de tal data tem razão de ser: apesar de sucessivamente adiada, a definição dos novos ocupantes da Esplanada não só deixa de trazer as novidades ou melhorias esperadas, como revela-se profundamente decepcionante, tanto do ponto de vista qualitativo quanto, sobretudo, ético, como se depreende da análise criteriosa de cada uma das nomeações.




Ponderaçoes iniciais
Não se desconhece a dificuldade de se conciliar a escolha de quadros preparados e confiáveis com os interesses dos diversos partidos que formam aliança governista, embora as justas críticas a esse modo de fazer politica - que loteia o Estado entre aliados, qualificados ou não, e está no cerne da corrupção generalizada - se anteponham a qualquer consideração específica sobre as escolhas de Dilma. Ainda mais porque havia, no cardápio da eleição presidencial, oferta de outros modelos de adminsitração do Estado.

Também não se deixa de reconhecer os eventuais acertos: a nomeação, para o ministério da Igualdade Racial, de Nilma Leno Gomes (sem partido), pedagoga e PhD em Sociologia – e primeira afrobrasileira a assumir a reitoria de uma universidade federal (a Unilab) -, bem como a manutenção, no Turismo, de Vinicius Lage (PMDB/AL), de perfil acadêmico e egresso do Sebrae, constituem exemplos de escolhas saudadas em suas respectivas áreas. Mas, reunindo qualificação, passado ilibado e competência, são exceções que distoam dos demais nomeados, como veremos, de forma documentada, a seguir.



Descritério
Para as Minas e Energia, em que a corrupção é um tema particularmente sensível - pois a pasta lida diretamente com a Petrobras, imersa em escândalo - a presidente nomeou Eduardo Braga (PMDB/AM), um sujeito investigado pelo STF por fraude, peculato e formação de quadrilha. Assim fica realmente difícil acreditar em Dilma quando afirma priorizar o combate à corrupção.

Para escolher seu ministro do Esporte, a presidente também não demonstrou preocupação em adotar um critério que levasse em conta competência na área ou manutenção de padrões éticos. Preferiu usar a pasta para preencher a cota do PRB e da bancada evangélica, nomeando o deputado federal George Hilton (MG). Pastor midiático da IURD, ligado ao “bispo” Edir Macedo, foi expulso do PFL - vejam bem, do tolerante PFL - em 2007, após ser detido pela Polícia Federal no aeroporto de Pampulha (MG), com 11 caixas de papelão contendo R$600 mil. Alegou tratar-se de dinheiro amealhado entre os fieis.



No MEC, um inimigo dos professores
Na Educação, área que Dilma sempre afirma ser prioridade, a escolha presidencial foi das mais polêmicas, contemplando um político que já vestiu a camisa de cinco partidos políticos, inclusive, por oito anos, do PSDB. O atual responsável por coordenar a Educação no país, quando governador do Ceará, dirigiu-se a professores grevistas nos seguintes termos: “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário”. E não se limitou a despautérios verbais: entrou na Justiça contra o pagamento do Piso Salarial Nacional dos Professores, aprovado pelo Congresso.

No quesito ética, não faltam escândalos à biografia d agora ministro Cid Gomes: em 2010, a Polícia Federal abriu uma investigação para apurar seu envolvimento em um desvio de R$300 milhões do Ministério da Integração Nacional quando ocupado por seu irmão Ciro. Para completar, tem o vício coronelista da censura à imprensa: após a Isto É denunciar que ele estaria envolvido no escândalo do Petrolão, processou a revista e conseguiu, graças à decisão de uma juíza de Fortaleza, que a circulação do número em questão fosse vetada em todo o país e a revista proibida de publicar matérias que ligassem seu nome ao escândalo. Posteriormente, o STF reviu a decisão, em sentença do ministro Luis Roberto Barroso, que sustentou, peremptório: “A Constituição proíbe, expressamente, a censura”.



Ideologia versus Ciência
A escolha, para a Educação, de um político com tal backgrund, somada à nomeação do nacionalista autoritário Aldo Rebelo (PC do B/AL) para o ministério da Ciência e Tecnologia, suscita, no momento, grandes preocupações no ambiente acadêmico. Autor de uma lei que visava banir o uso de palavras estrangeiras, Rebelo, na contramão da ciência contemporânea, defende com convicção que o aquecimento global não passa de “uma trapaça ambiental” promovida por “um movimento ambientalista internacional” que é”cabeça de ponte do imperialismo”. 

Soa inacreditável que, em um país com tantos cientistas e gestores científicos de alto nível, a escolha do ministro da área desconsidere qualquer credencial meritória e recaia sobre uma figura tão desinformada e jurássica como Rebelo, que, num curioso raciocínio, considera o materialismo dialético uma ciência, e a metodologia científica uma ideologia. 

 Ademais, em um momento histórico de internacionalização científica e acadêmica, todos aqueles que se preocupam com o nível de qualidade da universidade e da pesquisa científica brasileiras têm, com a dupla Rabelo e Gomes no comando de seus respectivos ministérios, ainda mais motivos para se preocupar.




Ecos malufistas
Também numerosas e ainda mais graves são as acusações que pairam sobre o novo ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD/SP). Oriundo do malufismo, trata-se de um controverso político de ascensão fulminante, contra quem abundam susoeitas de improbidade administrativa e financiamento ilegal de campanha, e cujo enriquecimento rápido tem chamado a atenção da Justiça reiteradas vezes

Na primeira, quando seu patrimônio teria crescido 316% entre 1994 e 1998. Na segunda, quando chegou a ser cassado por um dia do cargo de prefeito de São Paulo devido a “Doações ilegais [à sua campanha] somariam dez milhões de reais. As empreiteiras patrocinadoras teriam recebido 243 milhões de reais em contratos já pagos pela prefeitura desde 2009”, como resume o Estadão. Na terceira – o caso Controlar – foi absolvido da acusação de reativar um contrato caduco originalmente assinado por Maluf em 1996 e que teria gerado um prejuízo de R$1 bilhão aos cofres municipais. Na quarta, foi condenado por improbidade administrativa pelo Tribunal da Justiça (SP) em junho deste ano, pelo não-pagamento de R$118 milhões em precatórios. Cabe recurso. 

Além disso, em 2013, quatro assessores de Kassab, por ele nomeados a cargos de confiança, foram presos, "acusados de integrar um esquema de cobrança de propina que gerou um prejuízo de R$ 200 milhões aos cofres públicos, segundo o Ministério Público". Pesam sobre eles crimes de corrupção, concussão, lavagem de dinheito e advocacia administrativa.

Deixou a prefeitura paulistana sob reiteradas acusações de corrupção, a ponto de seu sucessor – o petista Fenando Haddad - ter se recusado a renovar o contrato com a Controlar e criado uma força-tarefa para investigar os desmandos do aliado federal, a qual levou meses para identificar e alegadamente sanar práticas e esquemas. Agora Dilma coloca um homem público com tal folha corrida - a quem os próprios petistas reiteradas vezes se referiram como corrupto e incompetente (“O pior prefeito do Brasil”) - para administrar um ministério que controla volumoso orçamento voltado a obras públicas. Depois, quando a bomba estourar, virá a público dizer que “não rouba nem deixa roubar”?




PT e UDR, enfim juntos
Mas o nome mais polêmico do novo ministério de Dilma é, sem dúvida, o de Kátia Abreu (PMDB/TO), senadora, pecuarista e líder ruralista envolta em diversas denúncias que incluem, de forma reiterada, grilagem de terras, desmatamento ilegal e exploração do trabalho escravo. Em sua atução parlamentar, trabalhou intensamente para aprovar anistia aos violadores no Código Florestal e barrar a aprovação da PEC do Trabalho Escravo. Possuidora de 2.500 hectares de terras improdutivas, refere-se aos movimentos sociais que atuam no campo como “milícias” e “movimento dos sem lei”.

Sua nomeação suscita graves temores em relação à preservação do meio-ambiente, à justiça social no campo e ao respeito aos direitos indígenas – já violados, no primeiro mandato Dilma, em um grau só comparável ao da ditadura militar. A nomeação da "Miss Desmatamento", titulo outorgado pelos ambientalistas, tem sido motivo de protestos e abaixo-assinados e de chacota internacionais: o de ordinário sóbrio diário britânico The Guardian destacou, em manchete: “Brazil's 'chainsaw queen' appointed new agriculture minister” ["Rainha brasileira da serra elérica” indicada ministra da Agricultura].

Trata-se de uma escolha tão retrógrada e estapafúrdia que que nem mesmo alguns militantes petistas de carteirinha, daqueles que tudo aceitam e justificam, têm engolido. E é importante ressaltar que ela não foi nomeada por imposição da aliança ou pressão de seu partido, mas na cota pessoal da presidente Dilma, com quem tem laços de amizade, o que torna a escolha ainda mais escandalosa.





De outros carnavais
Causam preocupação, ainda, entre os novos ocupantes da Esplanada dos Ministério anunciados na terça-feira, o novo titular da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB/RS), ex-ministro de FHC que é réu no chamado “escândalo dos precatórios”, e Helder Barbalho (Pesca), denunciado por improbidade administrativa quando prefeito de Ananindeua (PA) e filho do “coronel” Jader Barbalho, de históricas ligações com o conservadorismo e pivô de denúncias de enriquecimento ilícito e desvios milionários da SUDAM. Em 2002, Jader chegou a ser preso e algemado pela Polícia Federal em Belém, tendo sido acusado de desviar R$9 milhões para o ranário da mulher. Soa a humor negro saber que o filho responderá, no governo Dilma, entre outros ramos da atividade pesqueira, pela ranicultura no país.

Para a Defesa, ministério com frequente interlocução com os setores militares, Dilma escalou Jacques Wagner (PT), controverso ex-governador da Bahia responsável por uma gestão truculenta, em que maltratou professores e funcionários públicos e enfrentou uma ruidosa greve da PM, contra a qual convocou o Exército. Em seu mandato, Wagner envolveu-se em nada menos do que treze escândalos de corrupção. Apesar de tal desempenho, foi recompensado por Dilma com o ministério da Defesa.



Mais do mesmo
Ricardo Berzoini (PT/SP) é a escolha de Dilma para a estratégica pasta das Comunicações. Como coordenador da campanha de reeleição de Lula, foi um dos envolvidos no “Escândalo dos aloprados”, arquivado pelo TSE por falta de provas. À frente das Comunicações, deve completar a obra de Paulo Bernardo (PT/PR), que tomou posse prometendo regularizar a mídia, enquadrar as teles e democratizar a banda larga e deixa o cargo com a Secom abastecendo os cofres da mídia corporativa, a banda larga fora do alcance da maioria da população e as teles reiteradamente anistiadas, apesar de prestarem um dos serviços mais caros e precários do mundo – líder de queixas no Procon.

Os ministros anunciados esta semana irão se somar aos novos ocupantes da área econômica, anteriormente nomeados por Dilma e liderados pelo ultraortodoxo Joaquim Levy, pupilo dileto de Arminio Fraga, a escolha antecipada de Aécio para a Fazenda execrado pelo marleting petista durante a campanha eleitoral. Grave falta de coerência ou estelionato eleitoral?



Expectativas frustradas
Tudo somado, ficam claras a falta de consistência do ministério e a forma como experiência e expertise foram preteridas em nome de um arranjo improvisado para acomodar interesses políticos, com absoluta despreocupação em dotar o país de um ministério formado pelos melhores quadros.

A tal déficit de qualificação soma-se a inexplicável demora na escolha dos nomes para, ao final, nomear sujeitos sobre os quais, em sua maioria, pairam graves suspeitas de corrupção. Do processo resulta evidente que Dilma Rpusseff encontra-se perdida e mal assessorada. O ministério por ela nomeado, além dos problemas relativos a qualificação e ética, acima apontados, é tão ou mais conservador do que seria o de seus principais adversários na eleição, seja Marina Silva ou mesmo Aécio Neves. Só não vê quem não quer.

Com um Congresso dividido, o pais em crise econômica e em meio a um caso particularmente grave de corrupção, já havia razões de sobra para temer por 2015 e pelo futuro do Brasil a médio prazo. Com a nomeação de um ministério eticamente suspeito e de baixa qualidade técnica, a presidente consegue uma façanha: torna os prognósticos ainda piores.



(Imagem retirada daqui e editada)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Playlist de Natal

Compartilho com os leitores e leitoras do blog uma playlist natalina (quase) nada piegas (será possível?). Afinal, nem todos celebram o Natal, mas música todos ouvem.

Feliz Natal aos que comemoram a data, e uma ótima semana aos que não a celebram!


Abrindo os trabalhos, A MUSA:







3) James Brown - Santa Claus go Straight to the Ghetto 

4) Ottis Redding – Merry Christmas Baby
  




6) Johnny Winter – Please come home for Christmas 

7) Ella Fitzgerald - Have yourself a Merry Little Christmas 

8) João Donato - Depois do Natal 

9) Vinicius de Moraes - Poema de Natal 

10) Caetano Veloso - In the hot sun of a Christmas Day
 

 


12) Iggy Pop – White Christmas 

13) The Ramones – Merry Christmas (I don't want to fight tonight) 




 
15) The Beatles - Jingle Bell Rock

16) Elvis Presley - Santa Claus is back in town 

17) Brenda Lee - Rockin' around the Christmas Tree


   





20) Jimmy Cricket (Cliff Richard) – When you wish upon a star 

"Hors concours") John Lennon - Happy Xmas (War is over)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Falácias alimentam tolerância à corrupção

O escândalo de corrupção da Petrobras toma proporções cada vez mais graves à medida que o teor das delações premiadas começa a vir à tona, revelando uma teia de envolvidos e um modus operandi que, com pequenas ressalvas, sugerem um novo “Mensalão”, mais descarado e em maior escala.

Com o depoimento da ex-gerente Verina Velosa, as acusações chegam à alta cúpula da estatal, atingindo diretamente a presidente Graça Foster, a qual Dilma Rousseff teima em manter no cargo, a despeito do enorme desgaste para a imagem e o desempenho mercadológico da empresa.



Liberou geral
Além de ativar contra Verina a máquina de desconstrução do partido, tão atuante nas últimas eleições, a resposta-padrão do petismo, repetida por blogueiros “progressistas” e por Carta Capital - que cada vez mais se assemelha a uma Veja chapa-branca - tem sido que o escândalo envolve políticos de todos os partidos. Trata-de de meia verdade, a serviço de uma empulhação completa.

Meia verdade porque, dos 28 nomes elencados pela delação de Paulo Roberto Costa, só um não pertence à base aliada (Sérgio Guerra, do PSDB; o ex-governador Eduardo Campos, à época das denúncias, ainda pertencia). O tucano, tudo indica, é a exceção que confirma a regra, pois o PT e o PMDB têm, cada um, oito nomes citados e o PP do aliado Maluf, 10. Mais: não há menção a nenhum político do PSOL ou dos demais partidos à esquerda.

E se trata de empulhação integral porque a (falsa) premissa implícita em tal resposta-padrão é: se todos roubam, então o PT e seus aliados não podem ser punidos. Locupletemo-nos todos e viva a impunidade!



Cadeia de comando
Tal presunção não se sustenta nem ante a Justiça nem ante a Ética – as quais pressupõem que todos os envolvidos em corrupção têm de responder por suas trangressões legais. Pior: ignora o fato de que a responsabilidade pela administação da Petrobras, estatal nacional de economia mista, cabe sobretudo ao governo federal, acinista majoritário, ao qual a empresa está subordinada e que é o responsável pela nomeação de presidente e diretores e por assegurar que as linhas-mestras ditadas para as áreas de biocombustível e tecnologia sejam por eles cumpridas a contento e com lisura.

E o governo federal está, há mais de uma década, a cargo de uma aliança capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores – tempo mais do que suficente para conhecer bem sua maior e principal empresa e identificar os desvios milionários causados por um esquema de grandes dimensões, envolvendo planejamento, maquiagem de contas e dezenas de políticos próximos, em um verdadeiro achaque contra os cofres públicos.

Ao invés disso, prefere, a despeito dos vários alertas enviados à presidência da estatal denunciando o golpe, simular total desconhecimento, sustentando uma pouco crível argumentação segundo a qual um esquema que teria beneficiado 27 membros do alto escalão da base aliada fosse desconhecido pela presidente da empresa, pela cúpula dos partidos envolvidos e pela presidente da República, cuja familiariedade com meandros da administração petrolífera inclui não apenas seus dois anos e meio à frente do ministério das Minas e Energia, mas a chefia do conselho da Petrobras até 2006.



Bode expiatório
Outro estratagema petista para tentar desqualificar as denúncias do Petrolão é alegar que a mídia as destaca com furor, enquanto pouco ou nada fala dos escândalos protagonizados pelo PSDB, notadamente o maior deles, o “Metrolão” paulista, envolvendo 18 empresas e contratos suspeitos que somam mais de R$ 400 milhões.

Trata-se, de modo geral, de uma crítica procedente, que se refere a um grave problema da mídia brasileira. Mas mesmo em relação a isso o PT tem sua parcela de responsabilidade, pois, se não tivesse se acovardado e recuado de seu projeto de constituir um novo marco regulatório para a mídia, talvez a questão estivesse encaminhada. Mas não: parece ser cômodo para o partido que a militância berre histericamente contra o “PIG”, enquanto os cofres da Secom acariciam os bolsos dos magnatas das comunicações e Dilma faz omelete com Ana Maria Braga.

De qualquer modo, efetiva, a assimetria de tratamento que a mídia dispensa aos escândalos de um e de outro partido deve como tal ser denunciada e combatida. Mas ela não constitui, de modo algum, uma justificativa para que os escândalos de corrupção petistas deixem de ser investigados, como insinuam parte dos militantes. Pelo contrário: o que ela evidencia é a necessidade de isonomia de tratamento para a corrupção, provenha de onde provier, e de atenção a casos que recebem menos atenção da mídia, sem prejuízo do rigor para com qualquer caso de corrupção. O contrário disso é leniência e omissão – práticas tornadas lugar comum no governo Dilma, que ainda por cima, em relação ao Petrolão, quer faturar como seus os louros da investigação conduzida, por iniciativa própria, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.



Corrupções várias
O tempo talvez tenha embotado a memória de muitos, mas, há doze anos, a promessa de renovação que alçou o PT ao poder incluía não apenas um novo pacto social - com combate à pobreza via programas governamentais e inclusão de minorias via sistema de cotas -, mas um compromisso de lisura ética no trato da coisa pública, em consonância com o papel que o partido desempenhara junto ao Ministério Público e nas denúncias dos casos de corrupção dos governos Sarney, Collor e Fernando Henrique.

A Carta ao Povo Brasileiro, assinada pelo candidato Lula na reta final da campanha de 2002, serviu para tranquilizar o mercado e frear os ânimos anticapitalistas que até então moviam parcelas do petismo, mas, como demonstrou com propriedade o economista José Paulo Kupfer, ela se limita a firmar um compromisso de respeito às regras gerais de funcionamento do mercado. No entanto, nem mesmo nas entrelinhas, permite que se confunda a concordância com tais normas com renúncia a aperfeiçoá-las, a manipulá-las a fim de se alcançar objetivos políticos sem transgredi-las ou a combater seus efeitos colaterais – dos quais a corrupção é o mais evidente.

No governo, o modo de operar foi bem outro, e à realpolitik por demais elástica dos primeiros tempos chegamos, através da nomeação de Joaquim Levy ao ministério da Fazenda, à rendição ao mercadismo mais abjeto, tão criticado na recente campanha eleitoral, que o petismo, em sua ânsia irrefreada pelo poder a qualquer custo, transformou na mais suja da história do país. Se o golpe na mais simbólica e historicamente mais relevante empresa do Brasil – hoje reduzida, na melhor das hipóteses, à metade de seu valor de quatro anos atrás, num caso claro de ma gestão – marca o ápice da corrupção na era petista, a nomeação de Levy e, a confirmar, a de Kátia Abreu, são a expressão do grau de corrupção moral da aliança governista, descomprometida com qualquer coerência ideológica ou programática.



Exercicio mental
Isso posto, para encerrar, convido o leitor ou a leitora a fazer um exercício de projeção: imagine que um político tucano estivesse há 12 anos na Presidência e, além de não ter o mínimo pudor de trair os compromissos de campanha, fosse descoberto, durante seuu governo, um enorme caso de corrupção numa estatal, em que tivesem sido surrupiados no mínimo R$30 bilhões do povo brasileiro em prol dos bolsos dos aliados do poder. Qual seria a reação do petismo?



(Imagem retirada daqui)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Comissão da Verdade faz história

 É um marco histórico a entrega do relatório final da Comissão da Verdade, realizada hoje (10/12), em Brasília. Sua importância simbólica e efetiva, como registro documental dos crimes perpetrados pelo Estado durante o período militar, supera as criticas que se possa fazer às condições, restrições e táticas dissimulantes das quais foi vítima desde sua tardia implementação.

O vício das conciliações por cima, traço distintivo do modus operandi das elites brasileiras, fez com que sejamos o último dos países latino-americanos a não acertar as contas com seu passado ditatorial mais ou menos recente. E, no caso, graças a uma casuística Lei de Anistia, implementada por quem dela se beneficiaria, o único em que à constatação de crimes oficiais como tortura, assassinato e ocultação de cadáver não corresponde a devida punição legal.



Desinformação política
Esse anacronismo – e o desconhecimento histórico para o qual ele contribui de froma determinante - talvez ajude a explicar porque proliferam, nas manifestações conservadoras recentes, clamores por um novo golpe militar, alegada panaceia que visaria, sobretudo, o combate à corrupção. Trata-se de um raciocínio tão denunciador, a um tempo, de ignorância histórica e de ingenuidade política de quem o perpetua que tende a soar sempre como mera provocação, trollagem de quem não tem o que fazer.

Pois foi justamente à sombra silenciosa do arbítrio que, enquanto o sangue escorria nos porões, a corrupção assumiu um caráter sistemático e gigantesco, em megaobras superfaturadas e no loteamento do acesso ao Estado. Além da relação incestuosa entre o regime militar e o sistema financeiro – que gerou casos como o Coroa-Brastel, do Banco Nacional e da falência da Panair- , proliferaram, como nunca, as concorrências viciadas, em casos como a “Operação Capemi” [referência à Caixa Pecúlio dos Militares, evidenciando envolvimento direto de militares], a construção da Ponte Rio-Niterói, e a rodovia Transamazômica, símbolo máximo do desperdício de dinheiro público, de corrupção e da falácia do projeto de desenvolvimento modelo “Brasil Grande”.



Resgate necessário
Ademais, o saudosismo golpista não é autorizado pela infeliz constatação infeliz de que o PT, em suas primeiras décadas um partido que priorizava a ética na política, tenha decidido fechar os olhos para a corrupção e adotar uma realpolitik tão elástica que inclui “fazer o que todos fazem no poder” - tática cujos resultados mais evidentes são os casos “Mensalão” e a administração pra lá de irresponsável da Petrobras.

Pelo contrário: tal constatação antes reforça a necessidade de a esquerda resgatar, nos programas de seus partidos, o caráter precípuo do combate à corrupção - não só pelo risco de se tornar, na prática, indistinguível dos partidos conservadores com histórico de grossa bandalheira, mas, com a descrença generalizada que tal indistinção propicia, fomentar a ameaça totalitária que vê em golpes militares a panaceia contra a corrupção.



Prioridade atual
A emoção profunda que acometeu a presidente Dilma em seu discurso, no ato de entrega do relatório da Comissão da Verdade, se justifica, tanto (certamente) em termos pessoais quanto cívicos: com todas as muitas críticas que se possa tecer à sua administração – e este blog não se tem furtado de fazê-la -, a cerimônia de hoje representa uma grande conquista para sua gestão e para o país.

E, importante: não só pelo imprescindível e inadiável acerto de contas com a brutalidade dos métodos ditatoriais, mas por apontar temas urgentes e atuais de máxima importância, como o fim da tortura como técnica disseminada de investigação policial, sobretudo contra os pobres, a necessidade de adoção de um modelo desmilitarizado de força policial e a urgência de se combater a hoje insuportável violência urbana sem abrir mão do respeito a direitos humanos internacionalmente consagrados. O futuro do Brasil enquanto sociedade depende disso.

(Imagens retiradas, respectgivamente, daqui, dali e dacolá)