Foi anunciado ontem o fim do blog A Nova Corja, que se destacou pela cobertura política da recém-finada (mas ainda não enterrada) “administração” Yeda Crusius. O motivo principal para o encerramento das atividades seria o "desânimo" causado pelos processos judiciais movidos pelos jornalistas Políbio Braga e Felipe Vieira e pelo Banrisul, que tomam tempo, dinheiro e disposição física e psicológica dos blogueiros.
O fim do blog gaúcho revela o quanto é necessária a criação de alguma forma institucional de representação dos blogueiros independentes, sobretudo no sentido de se constituir uma malha de proteção jurídica à atividade. Venho insistindo nessa tecla há tempos, em conversas tête à tête ou virtuais e em comentários em blogs alheios. Sei que muitos resistem devido ao temor de que isso venha a comprometer sua independência. Não vejo como tal coisa poderia acontecer.
O jornalista, professor de Comunicação e ex-membro do blog gaúcho, Marcelo Trässel, que comunicou a decisão de fechamento do ANC, expressa preocupações semelhantes:
“Desde o primeiro processo iniciado contra a Corja, cristalizou-se em meu ponto de vista a necessidade de uma organização como a Eletronic Frontier Foundation no Brasil. Seu objetivo seria a educação da sociedade quanto aos direitos e deveres do cidadão na Internet e também o apoio técnico e jurídico a repórteres amadores e demais vítimas de litigância de má-fé e outras injustiças. Um dia, quem sabe, a idéia sai do papel”.
Concordo, mas não penso ser possível esperarmos tanto tempo. Creio que a montagem da rede de proteção jurídica aventada parágrafos acima seria algo víavel a curto ou médio prazo. Ela poderia ser erguida, por exemplo, com a participação de advogados voluntários, cientes da importância do papel da blogosfera independente e dispostos a contribuir com seu tempo e saber jurídico da mesma forma generosa e gratuita que os blogueiros se dedicam às atividades de pesquisa e redação (Alô, alô, Túlio Vianna!).
Do contrário, é isso: um blog que teve grande importância na denúncia dos desmandos no RS na “administração” Yeda – fornecendo, ainda, uma visão crítica do papel da monopolizada mídia gaúcha - cai ante os primeiros processos judiciais. Não é a primeira e muito provavelmente não será a última vez que isso acontece. Pior: quem acompanha O Biscoito Fino e a Massa sabe que há tempos blogueiros e cidadãos comuns vêm sendo sucessivamente processados por crimes de opinião.
E a situação tende a se agravar: como revelou Luis Nassif ontem, políticos estariam contratando profissionais de troll para atuar diuturnamente contra blogueiros e colunistas. Com a tendência ao acirramento dos ânimos à medida em que se aproximam as eleições de 2010, a internet tem grandes chances de vir a se tornar campo de batalha em que acusações caluniosas, uso massivo de troll e até práticas piores serão utilizadas visando acirrar os ânimos e criar condições propícias à litigância de má-fé.
Com efeito, seria muita ingenuidade achar que os poderosos e os corruptos, acostumados há décadas a usufruir das benesses do poder ao seu bel prazer, encobertos pelo silêncio cúmplice da grande imprensa, iriam ficar inertes vendo suas falcatruas e suas jogadas sujas serem reveladas por francoatiradores que atuam de graça ou, em alguns casos, auferindo rendimentos mínimos.
É triste, é lamentável, mas é essa a realidade.
Por outro lado, quem se presta a manter um blog deve estar ciente de que, a despeito de a Constituição garantir, em seu quinto artigo, liberdade de expressão, há limites legais que regem tal direito, especificamente os artigos de 138 a 145 do Código Penal. Crítica fundamentada, sim; agressão gratuita, não. É preciso ter em mente, ainda, que o dono do blog é co-responsável legal pelo que é publicado em sua caixa de comentários. Mesmo se todos esses cuidados forem tomados, nada garante, no entanto, que o blogueiro deixe de ser vítima de litigância de má-fé.
Portanto, se nada for for feito para garantir ao menos a certeza de defesa jurídica, a blogosfera política independente e crítica – que, diante dessas circunstâncias, tende a encolher – vai repetir o que acontece no universo do grande capital que tanto critica: blogueiros que são suportados por portais ou que, devido a alta audiência e longevidade na rede, já constituiram suas próprias redes informais de proteção jurídicas, tendem a sobreviver; a massa de neófitos e de independentes que lutam para conquistar um espaço ficará jogada aos tubarões da litigância. Portanto, é preciso reagir. E já.
O fim do blog gaúcho revela o quanto é necessária a criação de alguma forma institucional de representação dos blogueiros independentes, sobretudo no sentido de se constituir uma malha de proteção jurídica à atividade. Venho insistindo nessa tecla há tempos, em conversas tête à tête ou virtuais e em comentários em blogs alheios. Sei que muitos resistem devido ao temor de que isso venha a comprometer sua independência. Não vejo como tal coisa poderia acontecer.
O jornalista, professor de Comunicação e ex-membro do blog gaúcho, Marcelo Trässel, que comunicou a decisão de fechamento do ANC, expressa preocupações semelhantes:
“Desde o primeiro processo iniciado contra a Corja, cristalizou-se em meu ponto de vista a necessidade de uma organização como a Eletronic Frontier Foundation no Brasil. Seu objetivo seria a educação da sociedade quanto aos direitos e deveres do cidadão na Internet e também o apoio técnico e jurídico a repórteres amadores e demais vítimas de litigância de má-fé e outras injustiças. Um dia, quem sabe, a idéia sai do papel”.
Concordo, mas não penso ser possível esperarmos tanto tempo. Creio que a montagem da rede de proteção jurídica aventada parágrafos acima seria algo víavel a curto ou médio prazo. Ela poderia ser erguida, por exemplo, com a participação de advogados voluntários, cientes da importância do papel da blogosfera independente e dispostos a contribuir com seu tempo e saber jurídico da mesma forma generosa e gratuita que os blogueiros se dedicam às atividades de pesquisa e redação (Alô, alô, Túlio Vianna!).
Do contrário, é isso: um blog que teve grande importância na denúncia dos desmandos no RS na “administração” Yeda – fornecendo, ainda, uma visão crítica do papel da monopolizada mídia gaúcha - cai ante os primeiros processos judiciais. Não é a primeira e muito provavelmente não será a última vez que isso acontece. Pior: quem acompanha O Biscoito Fino e a Massa sabe que há tempos blogueiros e cidadãos comuns vêm sendo sucessivamente processados por crimes de opinião.
E a situação tende a se agravar: como revelou Luis Nassif ontem, políticos estariam contratando profissionais de troll para atuar diuturnamente contra blogueiros e colunistas. Com a tendência ao acirramento dos ânimos à medida em que se aproximam as eleições de 2010, a internet tem grandes chances de vir a se tornar campo de batalha em que acusações caluniosas, uso massivo de troll e até práticas piores serão utilizadas visando acirrar os ânimos e criar condições propícias à litigância de má-fé.
Com efeito, seria muita ingenuidade achar que os poderosos e os corruptos, acostumados há décadas a usufruir das benesses do poder ao seu bel prazer, encobertos pelo silêncio cúmplice da grande imprensa, iriam ficar inertes vendo suas falcatruas e suas jogadas sujas serem reveladas por francoatiradores que atuam de graça ou, em alguns casos, auferindo rendimentos mínimos.
É triste, é lamentável, mas é essa a realidade.
Por outro lado, quem se presta a manter um blog deve estar ciente de que, a despeito de a Constituição garantir, em seu quinto artigo, liberdade de expressão, há limites legais que regem tal direito, especificamente os artigos de 138 a 145 do Código Penal. Crítica fundamentada, sim; agressão gratuita, não. É preciso ter em mente, ainda, que o dono do blog é co-responsável legal pelo que é publicado em sua caixa de comentários. Mesmo se todos esses cuidados forem tomados, nada garante, no entanto, que o blogueiro deixe de ser vítima de litigância de má-fé.
Portanto, se nada for for feito para garantir ao menos a certeza de defesa jurídica, a blogosfera política independente e crítica – que, diante dessas circunstâncias, tende a encolher – vai repetir o que acontece no universo do grande capital que tanto critica: blogueiros que são suportados por portais ou que, devido a alta audiência e longevidade na rede, já constituiram suas próprias redes informais de proteção jurídicas, tendem a sobreviver; a massa de neófitos e de independentes que lutam para conquistar um espaço ficará jogada aos tubarões da litigância. Portanto, é preciso reagir. E já.
13 comentários:
Iniciativas como o Trezentos são um passo na direção de uma blogagem mais colaborativa e até mais protegida mas, realmente, urge a criação de alguma organização ou mesmo de elaboração de propostas para salvaguardar o direito de opinião na rede...
Qualquer indivíduo com um blog bem acessado pode se ver vítima de ataques e processos. Se eu fosse espanhol já teria sido processado por lá pela minha posição quanto ao conflito Basco. É muito fácil ser vítima quando se está "aberto" na internet
Muito bem colocado, Maurício. Aliás, a tese da trollagem profissional faz todo o sentido e se coaduna perfeitamente com o clima que viveremos na campanha presidencial do ano que vem - assim como ataques a blogs, prepare-se.
Mais uma vez, um ótimo artigo. Este merecia sair no Observatório.
A preocupação que você levanta nos leva a uma segunda questão, qual seja, a incipiência desse fenômeno do jornalismo virtual cidadão encarnado nos blogs aqui no Brasil.
Por mais otimistas que sejamos, que eu saiba, são poucas as iniciativas desse cunho que sejam anteriores a 2005, 2006. Até lá, os blogs eram mais conhecidos no país como diários pessoais de pré-adolescentes.
Mesmo considerando os dias de hoje, com todos os avanços em termos de melhoria da condição econômica de milhões de brasileiros, junto à progressiva inclusão digital -- que começou no telefone celular e agora se propaga pelos PCs de baixo custo --, estamos longe de um nível tal em que começamos a perceber uma efetiva democratização desses meios, o que acompanharia a formação de instituições como essa que você propõe.
Curto e fino, a internet no Brasil ainda não é poliárquica.
Isso obviamente não deve servir de desculpa para não se tentar esforços comunitários de proteção mútua do novo jornalismo; deve servir, não obstante, como lembrete de que a tarefa certamente é mais complexa do que possa parecer.
Um abraço,
Seu leitor,
Flávio.
Tsavkko, preciso conhecer melhor o Trezentos para poder opinar. Agora, se você fosse espanhol, a uma hora desssas estaria sendo torturado pelos discípulos de Franco...rs.
Hugo, obrigado. De fato, estou atento a isso. Dependendo do que acontecer, instituirei postagem moderada.
Flávio, obrigado. Sem dúvida, à incipência a que você se refere deve ser creditado parte do problema; mas, como você mesmo escreve, isso não pode servir de desculpa.
Um abraço a todos.
Lamento informar, mas o A Nova Corja não fechou por causa dos processos judiciais. Muito pelo contrário.
Anônimo,
Não precisa lamentar, porque você não "informou" nada: apenas lançou suspeitas ao léo, sob o manto covarde do anonimato.
Maurício,
Ótima análise sobre esse tema. Parabéns!
Abraços,
Cadu Lessa
Ótima análise, Maurício.
Um abraço
Obrigado, Cadu e João!
E vamos á luta!
Um abraço,
Maurício.
É oportuno lembrar o caso do fechamento do Novo Jornal, de Belo Horizonte, ano passado.
Oi, Luis Henrique,
Não conheço bem o caso. Se você souber algo e quiser postar aqui, fique à vontade.
Um abraço,
Maurício.
Oi Maurício,
O Novo Jornal era uma publicação eletrônica, o (talvez) único veículo de imprensa que criticava o governador Aécio Neves.
Eu guardei uma screenshot da vergonha, que registrava o 'crime cibernético' do site pelo Ministério Público de Minas Gerais.
Foi um negócio bem dita nada branda.
Mas felizmente, depois de uma boa batalha, o jornal está de volta em novo endereço.
Bacana, Luis Henrique,
Ótimos links!
Eu tinha uma vaga memória do epísódio, mas, agora que você postou, lembrei direitinho de ter lido a respeito no Observatório da Imprensa.
Obrigadão!
Um abraço,
Maurício.
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