Os textos deste blog estão sob licença

Creative Commons License

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Brasil, país da alegria

Pode-se acusar o Brasil de muitas coisas, menos de não ser um país engraçado. Neste exato momento, por exemplo, vivemos uma situação curiosíssima: a candidata da auto-denominada “esquerda” à Presidência, Marina Silva, deve lançar-se pelo Partido Verde (a cor, caro leitor, não se refere à imaturidade política do mesmo, mas sim à alegada priorização da ecologia), agremiação política comandada pelo notável defensor da natureza que é Zequinha Sarney (MA).

Zequinha, como o nome indica, vem a ser filho do cordial coronel José Sarney (PMDB-AP), até há pouco o homem forte do governo no Senado, o qual preside, e atual recordista de resistência individual no jogo de derruba-governo praticado pela oposição e pela mídia (que, em mais uma das peculiaridades dessa terra fascinante, vêm a ser a mesma coisa).

Não para por aí: o PV tem como estrela eleitoral Fernado Gabeira (RJ), aquele sujeito que muda de ideia como troca de sunga, que já foi guerrilheiro, depois virou ambientalista e defensor das minorias sexuais e canabisais, dai tornou-se deputado petista, depois mudou radicalmente de opinião uma vez mais e aderiu ao neoudenismo, tornando-se queridinho da mídia nacional, candidato da direita tucana no Rio de Janeiro e, completando esse triste quadro de decadência, colunista da Folha de S. Paulo. Pessoa muito coerente, como se vê. Pois Gabeira, sabe-se lá com que interesses (mas com conhecimento de caso), já declarou que Marina será “linha-auxiliar” do PSDB.

O prezado leitor está confuso? Eu também. Então vamos resumir a ópera-bufa: a candidata da “esquerda” será lançada pelo partido do filho do líder governista no Senado, partido este que é ligado à direita, capisce?

Não que essa transfiguração da esquerda em direita constitua novidade, longe disso. O PSOL, que pode vir a ceder sua “estrela” Heloísa Helena (AL) como candidata à vice de Marina, segue quase sempre os votos do PSDB e do restante da direita nas casas legislativas, a um ponto tal que certas línguas ferinas (no caso, a minha) deram pra sugerir que a sigla significa Partido de Suporte à Oligarquia.

A divisão da esquerda pela direita, para que esta ganhe eleições, também é historicamente recorrente. A única exceção à regra são os dois pleitos vencidos por Lula (João Goulart, numa piada institucional hilária, fora eleito para vice de um presidente contra o qual seu partido concorrera).

Mas o próprio Lula protagonizaria a mais nociva das divisões da esquerda em prol da direita, ao disputar com Brizola, em 1989, quem iria ao segundo turno com Collor. Segundo as pesquisas, Brizola, vencendo o primeiro turno, derrotaria Collor. Ao invés de um acordo que lhes garantiria vitória certa no primeiro turno, os dois oposicionistas preferiram o confronto entre si. E assim o país, numa piada de humor negro, perdeu a oportunidade de, após 25 anos de ditadura militar, eleger um candidato de esquerda, que significasse o repúdio de facto e de direito ao período autoritário.

Mas por que mesmo devaneio por esse triste passado se o assunto do post é o humor que perpassa a política brasileira, atualmente encarnado pela candidatura de Marina Silva, saudada, com isenção de interesses, por todas as nossas revistas semanais? Perdão, caro leitor, não há relação alguma de uma coisa com a outra, ne-nhu-ma.

O Brasil, como eu escrevi lá no início, é um país engraçado. Só não estou certo se poderemos continuar dando risada se a irresponsabilidade dessas “esquerdas” que não se avexam de servir sempre à pior direita acabar por entregar de novo o poder ao privatismo anti-Brasil e anti-povo do conluio PSDB/DEM. Pois se a combinação de ingenuidade e leviandade política prosseguir, eles podem vir a rir por último.


(Imagem retirada daqui)

4 comentários:

bete disse...

pois é ..me parece assim mesmo. sempre tragicômico. nunca sei se é pra rir ou pra choara enquanto assisto a escolinha do professor Sarney, ops, as sessões legislativas...

Hugo Albuquerque disse...

Maurício,

Em política, eu não duvido de mais nada, no entanto, tomo por conjunturalmente improvável que Heloísa se alie à candidatura Marina...

De resto, é mais ou menos por aí. Estou ponderando bastante sobre essa candidatura Marina, mas as minhas conclusões são muito pouco simpáticas ao que ela fez - Gabeira não dá assim como topar a tarefa de peão no lado tucano do tabuleiro não é fazer o jogo da direita, mas sim fazer parte dele ativamente.

Hugo Albuquerque disse...

ah e pra não passar batido: Nosso país seria cômico, se não fosse trágico.

Unknown disse...

Iaiá,

O jeito é rir, porque se for chorar não haverá lágrimas bastantes.


Hugo,

Eu também pondero bastante sobre Marina. É direito dela se candidatar. Mas não vejo resultado outro do que o benefício à direita.

Um abraço nos dois,
Maurício.