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quinta-feira, 13 de abril de 2017

O sistema político à venda

Como noticiado ontem por The Intercept, "A Odebrecht teria pagado propina para que parlamentares e integrantes do Executivo favorecessem os interesses do grupo em ao menos 12 medidas provisórias, editadas entre 2005 e 2015 pelos ex-presidentes Lula e, especialmente, Dilma Rousseff, segundo depoimentos de executivos e ex-executivos da companhia."

Os atos descritos na delação evidenciam, uma vez mais, que o PT, no poder, não apenas deixou de combater a corrupção - abandonando uma de suas bandeiras históricas -, mas nela se chafurdou, traficando o Estado brasileiro.

Isso posto, é forçoso registrar que as mesmas delações as quais, comprovadas, incriminariam o PT, incluem expoentes de todos os partidos a habitar o condomínio do poder nos últimos 23 anos - inclusive o ex-presidente tucano FHC e o atual, Michel Temer (PMDB-SP), além de cerca de um terço do Senado. Tal fato leva a constatação - evidente aos não-militantes e aos que têm algum conhecimento da história política do país - de que a corrupção não começou com o PT e nem a este se restringiu.

Se o reconhecimento de tais obviedades, convém reforçar, não serve de álibi à conduta do partido dito de esquerda, tampouco justifica o tom dominante na cobertura televisiva do escândalo. Esta continua majoritariamente focada nas figuras de Lula e Dilma - sem justificação jornalística para a menor atenção ao também delatado Temer e a figuras do primeiro escalão do Executivo e do Legislativo atuais. Além disso, tem adotado o inédito cuidado de explicar, de forma reiterada, que ninguém é ainda culpado e de ouvir com parcimônia os acusados, exatamente como deve uma mídia responsável agir na democracia - só que não foi assim quando os acusados se limitavam ao PT.



A corrupção como regime político-eleitoral
À medida que a Lava-Jato avança, contrariando tanto a fabulação auto-vitimizante do petismo quanto o moralismo filisteu da atual coligação governista, vai ficando evidente que o que ela desvela é o modus operandi da política brasileira, historicamente entranhado e indistintamente praticado, sob o patrocínio das grandes corporações, pelas agremiações partidárias que assomam ao poder.

Somada às diversas delações acerca de doações eleitorais, a admissão de que a corrupção ativa da Odebrecht teria resultado em 12 medidas provisórias de interesse da empresa torna lícito questionar se e até que ponto é o eleitor que determina, com seu voto, o futuro do país, ou se a democracia representativa brasileira, na prática, é uma ficção destinada a encobrir, com um véu de republicanismo, o conluio entre interesses do capital e a ambição de máfias de políticos. Pois, como observa Pablo Ortellado, professor de Gestão de Políticas Públicas na USP,

"Não estamos falando mais do velho modelo da fraude de licitação na qual o sobrepreço é dividido entre a empresa e o agente público corrompido. Estamos falando de bilhões de reais na forma de propina e na forma de financiamento de campanha sendo diretamente trocados por obras e benefícios legislativos e tributários. Não estamos falando da corrupção individualizada ou mesmo setorializada, mas da subordinação de todo o sistema político ao interesse de uma empresa. Ficamos pensando o que uma investigação no setor de carne e alimentos, no setor financeiro e no setor de telecomunicações descobriria."

Tal questão, trazida para as urgências do presente, torna imprescindível interrogar se as ditas "reformas"defendidas por Temer - com amplo apoio midiático - como a única saída para a crise do país, à custa de trabalhadores e aposentados, seriam mesmo uma tentativa bem-intencionada de tomar providências em benefício do país, ou se não passam de medidas patrocinadas pelo grande capital em seu próprio benefício, em troca do enriquecimento de uma corja de criminosos travestidos de políticos.

Será mesmo preciso aguardar uma nova etapa da Lava-Jato, lá por 2020, para obtermos as respostas?





(Ilustração retirada daqui)

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