O
Rio de Janeiro vivencia, neste momento, uma explosão de violência
urbana inédita neste século: dias de intenso tiroteio por tomada de
territória na Rocinha, prestes a ser cercada pelo exército; tiros
também na Maré, no outrora "pacificado" Dona Marta, na
Linha Vermelha.
Escolas
fechadas, túneis bloqueados, "bondes" de bandidos no
Leblon, carros alvejados na Lagoa-Barra, rajadas de metralhadoras e
explosões seguidas de granadas na zona sul.
Enfim,
tudo aquilo que se proclamava relegado ao passado no discurso
triunfalista de governos recentes (ditos de esquerda), promotores - em
paralelo ao patrocínio mal disfarçado às milícias -do
modelo alegadamente redentor das unidades pacificadoras (UPPs), marca de
fantasia da maior e mais longa repressão estatal contra populações
civis na história do país.
Tudo em nome da Copa e das Olimpíadas - e ai de quem ousasse criticar ou apontar o que havia de pernicioso, de perigoso e de flagrantemente cerceador das liberdades inidividuais em tais medidas.
Tudo em nome da Copa e das Olimpíadas - e ai de quem ousasse criticar ou apontar o que havia de pernicioso, de perigoso e de flagrantemente cerceador das liberdades inidividuais em tais medidas.
O
resultado aí está. Pânico, medo coletivo, prejuízos à economia e
à mobilidade urbana da cidade, superlotação carcerária e,
sobretudo, muito sangue derramado - não raro, de pessoas não
ligadas ao tráfico nem à polícia.
A
conclusão, como as UPPs - e todos os modelos de segurança
anteriores, sem exceção - deixam claro, é que não há solução
militarista, não tem como mudar essa situação mandando polícia,
Bope ou exército enfrentarem bandos armados coligados entre si, com
a população no meio do tiroteio.
Portanto,
nos atemos aos fatos: a "guerra às drogas" mostrou-se
absolutamente ineficaz em relação àquilo que se propõe. Ela
serve, na verdade, para outros fins, como a prosperidade da indústria
bélica, a corrupção política e policial, e, sobretudo, como
pretexto perfeito para a repressão periférica, a prisão e o
assassinato sistemático de pobres e negros.
Não
deixa de ser sistemático que a violência no Rio recrudesça na
mesma semana em que o presidente de um dos países que mais sofreu
com a violência associada a produção e tráfico de entorpecentes,
Juan Manuel Santos (Colômbia), não apenas reconheça a ineficácia
da "guerra às drogas" mas, na ONU, confronte Trump e clame
por um "novo enfoque" à questão, baseado nas
bem-sucedidas experiências de descriminalização experimentadas por
alguns países.
No
Brasil, passa da hora de deixar os preconceitos e o moralismo de lado
e discutir a sério a descriminalização das drogas com decorrente
mudança de enfoque, de questão de segurança pública para questão
de saúde pública.
Do
contrário, para além do agravamento da violência urbana no Rio e
em outras regiões metropolitanas, continuaremos a ser o país da
polícia que mais mata no mundo e do mais alto índice de homicídios
do planeta, com 279 mil pessoas assassinadas nos últimos quatro anos
- realidade que acarreta um volume de sofrimento humano que a frieza
dos números não é capaz de captar.
(Foto de Rommel Pinto retirada daqui)
Nenhum comentário:
Postar um comentário