Foi
um grande trunfo de marketing a fala que a presidente Dilma Rousseff
direcionou ontem ao país, via cadeia nacional de rádio e televisão.
Após ser duramente criticado por uma sequência de bolas fora, o
setor de comunicação do governo fez um gol de placa, acertando o
momento, o tom e o conteúdo da fala presidencial.
Quem
tem ainda fresca na memória as performances da candidata Dilma
Rousseff, há dois anos e meio, há de se espantar com a evolução
da capacidade de comunicação e de criar empatia da presidente,
ainda mais se se leva em conta o grau relativamente elevado de
elementos técnicos do discurso, muito bem redigido. Observado de um
ponto de vista estritamente técnico, o desempenho de Dilma
aproximou-se do ideal, não fossem detalhes, como o modo ainda
inseguro com que ela transita o olhar entre o teleprompter e a
câmera. Mas ela, falando com desembaraço, arriscando um meio
sorriso aqui, uma ênfase desabonadora ali, driblou com elegância as
armadilhas potenciais associadas à sua persona pública e ao
tipo de discurso ontem apresentado – ou seja, não soou,
respectivamente, nem arrogante nem populista.
Naturalmente,
o discurso da presidente, como qualquer peça de marketing
governamental, deve ser analisado como tal e em seu contexto,
interessado em promover o governo e em salientar suas supostas
qualidades e conquistas. Reconhecer seus méritos não significa, de
forma alguma, ignorar os desafios, inquietações e pontos
problemáticos do governo Dilma, os quais este blogueiro tem
procurado abordar de forma recorrente.
Mas
o fato é que o discurso de ontem, de enxutos oito minutos, marca,
talvez, o ponto mais alto dessa modalidade de comunicação
governamental tão eficiente (por alcançar um público vastíssimo)
quanto perigosa, a ser usada com extrema parcimônia (por interromper
a programação, interferindo abruptamente nas expectativas do
telespectador) que é a convocação da cadeia nacional de rádio e
televisão.
Em
seu desempenho a presidente mostrou-se capaz não apenas de assegurar
que não haverá, em suas palavras, "nenhum risco de
racionamento" de energia elétrica, mas de explicar
didaticamente como funciona o complexo e diversificado sistema
energético brasileiro e o papel que nele cumprem as usinas térmicas.
Resultou claro que a campanha midiática alardeando um iminente
racionamento de energia foi, para além de um ato de sabotagem que
nada tem a ver com jornalismo, uma desesperada tentativa de
intimidação causada pelo receio dos efeitos eleitorais que o
anúncio do decréscimo do valor da "conta de luz" deve,
certamente, causar.
As
reações imediatas, nas redes sociais e nas ruas, forneceram uma prévia do
desconforto das oposições: em contraste com o entusiasmo de muitos,
nenhuma crítica articulada, nenhuma argumentação consistente em
contrário. Além de uma chorosa nota publicada pelo PSDB, o senador e catão Cristóvão Buarque acusou o governo
de estimular o desperdício, enquanto Álvaro "Botox" Dias,
ao invés de explicar ao país as origens de seus bens, afirmou que
se fosse líder tucano reqsitaria pedido de resposta, como se fala
presidencial em cadeia nacional, prerrogativa de quem venceu eleições
e assegurou assim direito sobre as concessões de radio e
teledifusão, fosse um debate televisivo. Com uma oposição dessas,
o humor está garantido – e o PT fica mais uma década no poder.
A
lamentar, apenas, que a presidente tenha preferido, uma vez mais,
evitar qualquer crítica à mídia, preferindo fulanizar e falar
genericamente em "algumas pessoas" que "por
precipitação, desinformação ou algum outro motivo tenham feito
previsões sem fundamento". Poupa, assim, veículos que já
deram mostras de atuar contra o bem público e de forma partidária e
perde a oportunidade de alertar a um amplo público - que tem
justamente a televisão como meio primário de informação - para
que mantenha reservas quanto aos prognósticos e análises produzidos
pela mídia nacional.
Se
se omitiu ante a mídia, a presidente, embora sem nomeá-las, não se
furtou a criticar as concessionárias que se recusaram a aderir ao
plano que possibilitou a redução das tarifas, ao mesmo tempo em
que, dirigindo-se aos cidadãos que moram nas áreas por elas
cobertas, mostrou-se magnânima ao assegurar o desconto para todos. A
insistência de Dilma em baixar os preços, nos patamares
originalmente previstos, mesmo com o boicote das empresas elétricas
ligadas aos tucanos, provavelmente será vista, no futuro, como um
momento de plena afirmação de seu governo e uma de suas marcas
distintivas.
A
corrida eleitoral de 2014 começou ontem. E Dilma saiu, disparada, à
frente.
2 comentários:
Agora alguns comentaristas estão dizendo que o tesouro vai "torrar" bastante dinheiro para subsidiar a baixa da conta de luz. Tem alguma verdade isto?
Não, isto é completamente falso. Na verdade, não há subsídio, mas uma renegociação, com preços mais baixos, entre governo e concessionárias, que reduziu o custo final da geração de energia elétrica.
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