Os
graves problemas de comunicação da presidência Dilma Rousseff não
se restringem a uma situação circunstancial, solucionável com uma
mera troca de nomes na SECOM. Pelo contrário: para além das
dificuldades da administração em se fazer ouvir na arena midiática,
tais problemas dizem respeito, em primeiro lugar, a uma questão
estrutural do setor comunicacional no país, extremamente concentrado
nas mãos de poucos; em segundo lugar, e parcialmente em decorrência
disto, verifica-se uma deficiência atávica do poder público em
relação à comunicação; e, por fim, há uma questão de fundo,
diretamente relacionada à postura pública do atual governo e de sua
presidente e do grau de diálogo por eles estabelecido com a
sociedade.
Em coluna
recente, intitulada "Os desafios da opinião pública", o
jornalista Luis Nassif classifica como impressionante "o
desaparelhamento do setor público brasileiro, em todos os níveis,
em relação a esse tema, ainda mais nesses tempos de Internet, redes
sociais e notícias online." Em um momento em que as
dificuldades de comunicação da atual administração federal chegam
a um ponto de transbordamento, eventualmente contrapondo, à
passividade de Dilma, os desejos de setores do PT por uma política
comunicacional mais ativa, uma mirada histórica sugere que não há
razões para supor que os governos que, desde a redemocratização,
antecederam a hegemonia petista na Presidência tivessem tido um
desempenho muito superior no que concerne à comunicação pública.
O diferencial tem sido a predisposição do aparato midiático para com eles, em comparação com sua postura ante os governos Lula e Dilma. Pois, no decorrer da última década, tornou-se evidente que a mídia corporativa está engajada em uma campanha contra o governo federal, como chegou a admitir a executiva da Folha de S. Paulo e sindicalista patronal Judith Brito ao afirmar que a imprensa cumpria, sim, uma função de oposição, já que esta, enfraquecida, não estaria conseguindo desempenhar a contento o seu papel. Só faltou admitir que essa instrumentalização voluntária da imprensa pela oposição inclui olhos fechados e ouvidos moucos para as falcatruas e incompetência de tucanos e assemelhados – e em nada se assemelha a jornalismo.
O
papel das redes
Num
primeiro momento, o enfrentamento dessa situação foi um dos motivos
principais a impulsionar e fortalecer o papel dos blogs políticos e
das redes sociais, notadamente a partir da virada do milênio,
culminando, até agora, com uma maior diversificação dos meios
alternativos de difusão de informação e de análises políticas.
Eles têm se mostrado ótimos instrumentos de contrainformação e
formam, ao lado das redes sociais, uma força comunicacional capaz de
reagir, com a devida rapidez, ao bombardeio da mídia corporativa
Ocorre
que, por mais que tais atores comunicacionais constituam, hoje, uma
força comunicacional de algum peso e que tende a se expandir muito
nos próximos anos, os limites efetivos de sua atuação não fazem
frente à ação minuciosamente calculada e intensificada das forças
da mídia corporativa, claramente empenhadas a alvejar Lula e a
impedir a reeleição de Dilma Rousseff em 2014. A prova maior disto
é que é a mídia corporativa, no mais das vezes, quem pauta a
blogosfera e, sobretudo, as redes sociais – o contrário só
acontecendo com extrema raridade.
A
contribuição da presidente
Não
bastassem tais problemas estruturais, o governo Dilma tem dado uma
contribuição muito peculiar ao agravamento da questão da
comunicação no país, mesmo se comparada à do governo Lula. Tal se
dá não apenas pela recusa da presidente em, até agora, mover uma
palha para regulamentar a mídia ou ao menos para parar de
alimentá-la com as polpudas verbas da publicidade federal – embora
este seja o ponto nodal da discórdia.
Inclui,
ainda, a maneira idiossincrática com que ela lida, desde o início
do governo, com os grupos de mídia – no início fazendo questão
de ir até a festinhas de um jornal em plena decadência, pouco a
pouco restringindo-se a frases de efeito em defesa da liberdade de
expressão, cujo efeito é evidenciar uma visão no mínimo simplista
da questão.
Torre
de marfim
E,
por fim, encontra na falta de diálogo do governo com os movimentos
sociais, no tratamento truculento que foi dado, o ano passado a
algumas greves – notadamente a dos professores universitários
federais, a qual, como afirmei à época, só foi deflagrada e só se
prolongou por inacreditáveis três meses devido à postura
majestática do governo – a sua contribuição mais original, se
comparada à administração anterior, em que o Palácio do Planalto
vivia de portas abertas a qualquer setor que desejasse reivindicar ou
debater propostas e o diálogo franco era a característica
distintiva da relação de Lula com a sociedade.
Nos
meses imediatamente posteriores à posse, o estilo mais comedido de
Dilma foi saudado pela mídia, pois se contrapunha ao perfil
expansivo e improvisador de Lula, o qual esta sempre detestou. Após
dois anos, pode-se afirmar com certeza que, na imagem pública de
Dilma, o que era nublado tornou-se opaco, impenetrável e o que soava
como comedimento e talvez até timidez transformou-se em rigidez e
impenetrabilidade. Isso acabou por instituir-se como marca
(não)comunicacional do governo, e se torna no modo como as decisões
são tomadas e anunciadas, sem consulta com a sociedade ou com os
setores afetados, sem balões de ensaio plantados na imprensa para
testar reações, sem um terreno preestabelecido para repercutir as
medidas governamentais. Não é preciso ser nenhum gênio para se
aperceber de que tal comportamento, num cenário como o atual, em que
a mídia corporativa partiu para o tudo ou nada, tende a resultar
contraproducente para o próprio governo.
Helena
Chagas, a Judas da vez
Daí,
ante a omissão de Dilma, tornou-se lugar comum, de uns tempos para
cá, tentar botar a culpa pelas falhas de comunicação do governo os
ombros de Helena Chagas, em uma operação que inclui a difamação
de seu pai, o veterano jornalista Carlos Chagas, e a evocação da
figura de Franklin Martins, secretário da SECOM no governo Lula,
como panaceia para a babel comunicacional dilmista. Trata-se de uma
falácia, não só por ser açulada, entre outros motivos menos
confessáveis, pela tendência que a memória humana tem de realçar
os bons momentos enquanto esquece os maus: a comunicação, nos dois
governos Lula, era só um pouco menos eficiente do que a atual, sendo
que a mídia, àquela época, não obstante virulenta, ainda não
tinha partido para o tudo ou nada em várias frentes, como hoje se
verifica.
A
prova disto é que os graves problemas na área da comunicação
foram todos herdados pela gestão Dilma – e basta um pouco de para
constatar que seu eventual agravamento se deu, em grande parte, em
virtude de fatores decorrentes de decisões questionáveis ou da
personalidade da atual mandatária. Restringindo a análise apenas à
questão da comunicação, chega a ser surpreendente, em tal cenário,
que a aprovação da atual mandatária e de seu governo mantenham-se
em índices bem elevados. Mas é preciso a humildade de admitir que
isso provavelmente se deve muito mais aos méritos que a mídia não
reconhece na atual administração – como o baixo desemprego, a
manutenção do poder de compra dos salários, o combate à miséria
e à pobreza, o acesso ao crédito por estratos há décadas alijados
do sistema bancário, a relativa bonança da economia social
brasileira em meio a uma das mais terríveis crises da economia
mundial – do que a uma administração eficiente da comunicação
no âmbito federal.
Triplo
desafio
Pois,
em relação à comunicação, o atual governo federal enfrenta um
triplo desafio:
Em
primeiro lugar, a necessidade de superar a falta de uma cultura de
comunicação pública, instituindo-a em bases regulares, promovendo
um aggiornamento de práticas
e técnicas de forma a adaptá-la aos meandros da comunicação
digital contemporânea, e renovando-a de tempos em tempos.
Em
segundo lugar, defrontar-se com a face mais óbvia do
imbroglio: a necessidade de
democratizar o sistema comunicacional brasileiro, historicamente
concentrado nas poucas mãos de uma plutocracia preocupada tão
somente em defender seus interesses políticos e econômicos e não
em praticar jornalismo como um serviço público de parâmetros
deontológicos elevados.
Por
fim, adotar ante a sociedade e seus setores representativos uma
postura que, de fato, estimule e favoreça a comunicação e a
participação política, estabelecendo diálogo contínuo com
sindicatos e entidades classistas, submetendo de forma clara suas
medidas políticas de maior relevo ao debate com a sociedade e
trabalhando para criar e utilizar com maior frequência mecanismos de
participação popular direta, como a própria candidata Dilma
Rousseff aludiu em seus discursos durante a campanha eleitoral.
(Desenho retirado daqui)
2 comentários:
Gosto demais de cinema, assisto 2 a 3 filmes por semana.
Você poderia postar algumas novidades de filmes que demonstram atitudes de homens poderosos e atraentes, tipo James Blond.
Muito bom, depois que comecei a namorar peguei ao costume de ir ao cinema todo final de semana e estou adorando.
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