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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

127 horas supera desafios

Se no Oscar houvesse prêmio para Melhor Abertura de Filme, 127 Horas seria o favorito. Utilizando-se da divisão de tela (split-screen) em três faixas verticais, aliada a uma pulsante trilha sonora pop, ela evidencia, em belas imagens num impressionante trabalho de montagem, o desejo humano por aventura e ainda cumpre a função narrativa de introduzir o contexto em que o jovem protagonista sai, sozinho, para uma jornada de esportes radicais (biking, montanhismo e mergulho).

O tema do filme, baseado numa história real relatada em livro por quem a protagonizou– a desventura do montanhista Aron Ralstom (encarnado com garra por James Franco), que, em um cânion deserto de Utah, teve seu braço preso a uma rocha por 127 horas, antes de tomar uma medida extrema para libertar-se – impõe um grande desafio cinematográfico na forma de não-variação espacial e de imobilidade e falta de ação do protagonista , dificuldade agravada pela relativamente baixa compressão do tempo (pouco mais de 127 horas em 92 minutos).

De início, o roteiro de Simon Beaufoy e do também diretor Danny Boyle (de Trainspotting e Quem quer ser um milionário?) convida o espectador a identificar-se com o aventureiro e compartilhar de suas sensações enquanto pedala ou caminha entre as montanhas de rocha do enorme parque nacional. Quando o protagonista conhece duas jovens perdidas no lugar e - numa sequência que remete a A praia, dirigido pelo mesmo Doyle - as leva para mergulhar em um poço azul entre as rochas, a excelência visual do filme, com as cores fortes e a iluminação eventualmente saturada que são a marca registrada do diretor, torna-se ainda mais evidente.

Porém tais sequências iniciais ocupam apenas 20 dos 92 minutos de duração do filme – que, somados aos 21 minutos pós-auto amputação do antebraço, deixam ao diretor e aos roteiristas a dura missão de entreter o espectador por longos 51 minutos tendo como tema tão somente um homem preso a uma pedra.

E a forma como eles levam a cabo tal tarefa é admirável: além de explorar com inteligência e criatividade o uso que o protagonista faz de sua câmera portátil para registrar seu drama e de otimizar o tanto a exploração gráfica do espaço adjacente às rochas quanto o uso da trilha sonora do indiano A. R. Rahman (Quem quer ser um milionário?), a narrativa vale-se de sonhos durante o sono, delírios induzidos pela degradação das condições físicas de Aron (sem água e sem comida nos últimos dias) e uma visão premonitória para, na prática, introduzir tramas paralelas que trazem diversificação dramática e espacial e permitem ao filme (e ao espectador) respirar.

Indicado a seis Oscar – filme, roteiro, ator, edição, trilha sonora, canção e edição -, 127 horas supera os desafios que o tema impunha graças, em grande parte, ao roteiro. Mas este seria apenas uma fonte literária de eventos bem encadeados, não você seu uso pela direção segura e criativa de Boyle, a qual, aliada à excelência da direção de fotografia (do equatoriano Enrique Chediak, que filmou Besouro no Brasil, e de Anthony Dod Mantle) torna o filme, de fato, um espetáculo cinematográfio grandioso. Assim, a não-indicação ao Oscar de Diretor e de Direção de Fotografia é não só uma injustiça, mas uma incongruência.


(Imagens retiradas, respectivamente, daqui e dali)

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