Desatento ao lançamento do novo filme de meu ídolo Woody Allen e fisgado pela intensa publicidade do filme, fui ao cinema para ver A Rede Social. Decepção.
O filme tem uma das aberturas mais chatas da história do cinema, um longo e palavroso diálogo, num pub com música alta, entre o universitário e futuro fundador do Facebook Mark Zuckerberg e a garota de quem – como o filme tenta nos fazer crer - gosta. A função desses torturantes minutos é abrir uma brecha, ao final, para o resgate sentimentalóide do protagonista. Tal operação soa particularmente deslocada em um filme que se gaba de ser sóbrio e "profundo" (mas acaba por confirmar a boutade de Linda Williams segundo a qual “Todo filme norte-americano é melodramático”).
Como se sabe, a trama conta como em quatro anos, Zuckerberg, um (com o perdão pelo pleonasmo) geek antisocial que, em pleno inverno, andava de chinelo Rider e meias no campus de Harvard, se torna o mais jovem bilionário da história mundial, no bojo da criação do site Facebook e da disseminação do conceito de rede social na internet. Mas o filme dirigido pelo classudo David Fynch - que tem no currículo filmes cultuados como Clube da Luta, Seven e Zodíaco - está longe de oferecer a essa fantástica estória um tratamento à altura.
Sempre arrastada, a narrativa se divide em dois tempos fílmicos: no primeiro é restituído o processo inicial de concepção, lançamento e expansão do Facebook – para o qual colaboram, inicialmente, ainda em Harvard, o brasileiro de origem judaica Eduardo Saverin (Andrew Garfield) e, posteriormente, na Califórnia, o rival deste, Sean Parker (Justin Timberlake), um dos fundadores do Napster e o um tanto caricato vilão do filme.
No segundo pólo da trama, passado em 2007, são reencenadas, com licenças dramáticas, os processos judiciais movidos pelo preterido Eduardo e pelos gêmeos aristocráticos (e remadores olímpicos pelos EUA) Winklevoss, que teriam, segundo eles, criado o conceito que levou ao Facebook . Diálogos em torno de uma mesa, mediados por advogados. Very boring.
O filme faz uso de elementos propriamente cinematográficos para distinguir passado e “presente”: no primeiro prevalecem uma direção de arte carregada, detalhista, e tons amarelados, marrons e verdes,”esquentados” e iluminados de forma pontual pela direção de fotografia; já os debates de 2007 se dão no ambiente clean de um escritório de advogacia, com a predominância do azul escuro, do metálico e do marrom-madeira, iluminados de forma fria e com pouca textura.
Onipresente, o único quesito que realmente se salva em A Rede Social é o desenho de som, auxilado por uma ótima trilha musical, a cargo de Trent Reznor e Atticus Ross. Toda a narrativa é perpassada por uma vibração sonora pulsante, meio drum’n’bass e algo rascante, com distorções “sujas” – como na canção “Even though” com Norah Jones ou no álbum Homogenic, de Bjork. Isso cria uma atmosfera tensa e, paradoxal e eventualmente, uma sensação de relaxamento e fruição - ou seja, é a cara desta década. Mas, afinal de contas, desenho de som é um quesito cultuado apenas por iniciados ou por acadêmicos que se dedicam ao estudo do som no cinema.
Naturalmente, não é tal "detalhe" que tem sido vendido como o grande atrativo do filme, mas sua sobriedade, sua alegada recusa às fórmulas fáceis de Hollywood em prol da densidade dramática e da profundidade psicológica, seu casting que recusa o star system - como se utilizar-se de atores pouco conhecidos, por si, fosse sinal de qualidade. Porém, comparado ao cinema de arte europeu ou mesmo ao novo cinema argentino, a profundidade psicológica dos personagens de A Rede Social é rasa como um pires.
Essa alegada recusa dos cânones hollywoodianos, somada aos tiques modernóides e açulada por um marketing onipresente, tem se mostrado bem-sucedida em, ao mesmo tempo, dotar o filme de uma aura de grande arte e garantir seu sucesso. A Associação Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA acaba de encher A Rede Social de prêmios, incluindo melhor filme, diretor, roteiro adaptado (do livro The Accidental Billionaires, de Bem Mezrich) e, acreditem, ator para Jesse Eisenberg no papel do fundador do Facebook – premiação esta que é, no mínimo, uma idiossincrasia: a atuação dele se limita a fazer uma mesma expressão de nerd enjoado o filme todo, como se o diretor tivesse se limitado a uma única ordem: - “Jesse, faça cara de bunda!”.
Na vida real, Zuckenberg (foto) declarou que o filme está longe de retratá-lo com fidelidade. O pífio resultado ajuda a pensar que talvez ele esteja com a razão.
3 comentários:
Já não tava correndo para o cinema, agora vou pensar umas vezes antes de encarar,viu...
Ainda bem que vi esse post, estava achando só eu achava esse filme muito supervalorizado.
E tenho certeza que vai ganhar alguma coisa da panela do Oscar. E o pior que nao é por falta de concorrente, Já que temos por exemplo Black Swan. Esse sim um filme digno de levar estuetas.
Zirigdum, A Rede Sociual vai ganhar vários prêmios no Oscar, tenho certeza. Pois o que controla esse prêmio são os interesses dos estúdios. Não é à toa que gênios como Chaplin e Hitchcock nunca ganharam (a não ser Oscar honorários).
Vergonha!
Postar um comentário