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sábado, 7 de março de 2009

Estreia pífio carbono de "Cidade de Deus"


Quem leva o Oscar a sério? Todos os anos, ali pelo fim de fevereiro, início de março, essa pergunta é repetida mundo afora. São poucas as pessoas a responder "eu levo!". Mas, no dia da premiação, é aquela audiência na casa das centenas de milhões mundo afora.

A dissimulação é compreensível: como levar seriamente em conta uma premiação que nunca contemplou mestres como Hitchcock, Max Ophüls e Fritz Lang e que só concedeu duas estatuetas meio de esgueio a Charles Chaplin: uma pela música de Luzes da Cidade (Limelight, 1952) e outra, honorária (que ele, aos 83 anos, se conservasse o ativismo político da juventude teria feito muito bem em recusar)?

Mas não é preciso olhar para o passado distante para questionar os Academy Awards: nos últimos anos, produções atolados de estatuetas têm-se revelado mera repetição de fórmulas (neé, Benjamin Button?) ou mesmo filmes medíocres - como Shakespeare in love ou Chicago - quando “confrontados” no multiplex mais próximo.

Quem quer ser um milionário (Slumdog Millionaire), contemplado com 8 estatuetas e que estreou recentemente no circuito nacional, não foge à regra. Dizer que o filme foi influenciado por Cidade de Deus é eufemismo. Ele copia descaradamente a estrutura narrativa, o tema (a evolução de um grupo de crianças pobres, com suas trajetórias reconstituídas em flashback a partir do único personagem que se tornou um adulto bem-sucedido, exatamente como no filme aqui produzido) e até os padrões fotocromáticos da obra dirigida por Fernando Meirelles e Kátia Lund. A coisa é tão descarada que até um clímax dramático baseado na violência brutal contra crianças os dois filmes têm em comum. (como acontece com o filme de Meirelles e Lund, Quem quer ser um milionário também tem dois diretores: o inglês Danny Boyle e o indiano Loveleen Tandan. O fato de você, eu e o resto dos mortais só termos ouvido falar do primeiro não tem nada a ver com herança colonialista, claro que não, imagina...).

O que diferencia essencialmente o filme estrangeiro é que a ação se passa na Índia (no caos urbano de Mumbai) e há um suspense, meio bobo, que atravessa toda a narrativa: conseguirá o ex-menino de rua que protagoniza o filme ficar milionário ganhando o prêmio máximo de um desses jogos televisivos estilo Sílvio Santos? Tan, tan, tan, tan...

Deve-se, a bem da verdade, reconhecer que o diretor Danny Boyle demonstra todo seu talento. Pena que este se resuma a dar um tratamento de videoclip frenético, anfetamina pura, à narrativa – o que, somado aos tiques maneiristas de cinema indiano, diluições “pra inglês ver”, trazidos por Tandan, sumariza toda a originalidade do filme. Oito Oscars? É pouco, por que não 12?

Muitos críticos apontaram que a exageradamente generosa premiação a Quem quer ser um milionário - reforçada pelo prêmio de Melhor Atriz coadjuvante para a espanhola Penélope Cruz - seria um indício do ímpeto multiculturalista que estaria a assolar a “academia”. Será mesmo? Enquanto a exigência de que os filmes concorrentes sejam falados em inglês, a tendência é que ela siga preferindo a bugiganga-pastiche aos originais de qualidade.

4 comentários:

flavia disse...

Nossa! Fiquei até curiosa pra ver o filme, mas juro por deus que não o verei jamais




(por acaso já te disse que sou atéia?)

Celta X Fome disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo Augusto disse...

Me desculpa. Não concordo em nada com o que escreveu. Absolutamente nada. Primeiramente, isso tudo me soa como uma teoria de conspiração cinematografica.

Não existe esse lance de multiculturalismo, nada de supervalorização de categorias. Isso é uma teoria até engraçada.

Quem quer ser um Milionario, não é um plagio de Cidade de Deus. O filme tem outra abordagem. O maior erro dessa interpretação é achar que a violencia e as dificuldades sofridas por Jamal são o alvo do filme. Eles são um plano que inspira a história. O alvo do filme é a força do destino entrelaçada com a persitencia de Jamal.

Nada a ver com Cidade de Deus. Cidade de Deus é uma crítica social. O tema ambiente segue o caminho inverso do QQSUM. Não confuda os enfoques. O filme é merecedor de seus premios, apesar de ter sido sim aclamado excessivamente. O filme pode não ser teoricamente original, mas a pespircacia que o filme contem, e a combinação perfeita entre fotografia, musica, montagem, edição, transformam esse filme em um filme diferente, encantador.

Ele tem seu proprio charme. O filme é rodado em outra cultura, e o seu enfoque nao deve ser confundido. Sejamos coerentes e vamos interpretar o filme isoladamente e vamos tambem analisa-lo como um todo.


Belo blog! ;P serei seguidor!

Marcelo Augusto disse...

Agora falando do seu blog, eu achei o blog que eu procurava sobre cinema.
Apesar de nao ter concordado com o seu argumento, gosto de seu senso critico!

virei sempre aqui!