Não tenho por hábito comer ou beber em shopping centers. E não só porque a assepsia reinante me faz sentir em um hospital, mas pela homogeneização que, sob o predomínio das cadeias de fast food, impede que se usufrua de um dos prazeres básicos da culinária - e da “bebelinária” -, o desfrute de um ambiente único em caracterização e em personalidade.
Abro duas exceções: a happy hour do Barbacoa Grill e a comida japonesa do Gendai, ambos no Shopping Morumbi, em São Paulo. O primeiro oferece, em um corredor isolado, num cantinho meio escondido (portanto longe das despersonalizadas e barulhentas praças de alimentação), um bom chopp, um serviço gentil (embora um tanto displiscente) e um buffet de petiscos de qualidade – farto e, o que é melhor, gratuito. A ambiência é agradável e de vez em quando aparece gente interessante e disponível, em geral funcionárias ou executivas dos muitos escritórios da região, que é perto da sede paulista da Globo.
Já o Gendai é uma ótima opção para quando o que se quer é comida japonesa trivial e barata, mas feita com bons ingredientes, peixes bem cortados, massas de arroz consistentes, combinados de modo a resultar num sabor com personalidade. De quando em vez passo lá e levo a bandeja para saborear tomando chopp num daqueles quiosques da Brahma que servem o famigerado “chopp paulista” – que é delicioso no primeiro gole mas, devido à inconsistência da espuma - que sai de uma torneira à parte -, esquenta mais rápido e se torna enjoativo lá pela metade da caldereta.
Há tempos notei que a fachada do restaurante japonês ostentava tão-somente duas placas: numa se lê os dizeres “Gendai” e, logo abaixo, “Japanese Food”; na outra, sobre o guichê dos caixas, “Order here”, encimando uma larga seta vermelha que aponta para baixo.
Abro duas exceções: a happy hour do Barbacoa Grill e a comida japonesa do Gendai, ambos no Shopping Morumbi, em São Paulo. O primeiro oferece, em um corredor isolado, num cantinho meio escondido (portanto longe das despersonalizadas e barulhentas praças de alimentação), um bom chopp, um serviço gentil (embora um tanto displiscente) e um buffet de petiscos de qualidade – farto e, o que é melhor, gratuito. A ambiência é agradável e de vez em quando aparece gente interessante e disponível, em geral funcionárias ou executivas dos muitos escritórios da região, que é perto da sede paulista da Globo.
Já o Gendai é uma ótima opção para quando o que se quer é comida japonesa trivial e barata, mas feita com bons ingredientes, peixes bem cortados, massas de arroz consistentes, combinados de modo a resultar num sabor com personalidade. De quando em vez passo lá e levo a bandeja para saborear tomando chopp num daqueles quiosques da Brahma que servem o famigerado “chopp paulista” – que é delicioso no primeiro gole mas, devido à inconsistência da espuma - que sai de uma torneira à parte -, esquenta mais rápido e se torna enjoativo lá pela metade da caldereta.
Há tempos notei que a fachada do restaurante japonês ostentava tão-somente duas placas: numa se lê os dizeres “Gendai” e, logo abaixo, “Japanese Food”; na outra, sobre o guichê dos caixas, “Order here”, encimando uma larga seta vermelha que aponta para baixo.
Estaria eu nos EUA? Logo me dei conta de que não, passando a achar patético tal demonstração de colonização cultural, sobretudo por se dar em um centro de compras suburbano, cuja frequência por estrangeiros desacompanhados de nativos é ínfima.
O primeiro pensamento que me ocorreu foi que, em plena popularização dos sushis e temakis, combinada à ascensão das classes C e D – estas, sim, frequentadoras visíveis daquele shopping – promovida pelo governo Lula, a placa “Order Here” poderia afugentar fregueses ao invés de atrai-los, já que o domínio do idioma inglês nesses estratos não é tão comum quanto uma certa elite - que pensa que todos dominam a língua – imagina.
Mas o que aconteceu, na verdade, foi mais surpreendente do que isso. Parei no guichê, atrás de um cara muito alto. Enquanto os atendentes brasileiros, irrequietos, faziam caretas de interrogação em direção a ele, cuja linguagem corporal era neutra, não denotando nenhum nervosismo. Este era perceptível apenas pelo tom crescente e irritadiço de sua voz. Falava inglês. Perplexo, ele constatava que um lugar que oferecia “Japanese food” e convidava a “Order here” não entendia a sua língua.
Mais por pressa irritada do que pelo desejo de bancar o anfitrião gentil traduzi aos pasmos atendentes que ele só estava perguntando se podia levar a comida para comer em casa. E fiquei rindo sozinho, pensando em quão patético pode ser o colonialismo cultural.
O primeiro pensamento que me ocorreu foi que, em plena popularização dos sushis e temakis, combinada à ascensão das classes C e D – estas, sim, frequentadoras visíveis daquele shopping – promovida pelo governo Lula, a placa “Order Here” poderia afugentar fregueses ao invés de atrai-los, já que o domínio do idioma inglês nesses estratos não é tão comum quanto uma certa elite - que pensa que todos dominam a língua – imagina.
Mas o que aconteceu, na verdade, foi mais surpreendente do que isso. Parei no guichê, atrás de um cara muito alto. Enquanto os atendentes brasileiros, irrequietos, faziam caretas de interrogação em direção a ele, cuja linguagem corporal era neutra, não denotando nenhum nervosismo. Este era perceptível apenas pelo tom crescente e irritadiço de sua voz. Falava inglês. Perplexo, ele constatava que um lugar que oferecia “Japanese food” e convidava a “Order here” não entendia a sua língua.
Mais por pressa irritada do que pelo desejo de bancar o anfitrião gentil traduzi aos pasmos atendentes que ele só estava perguntando se podia levar a comida para comer em casa. E fiquei rindo sozinho, pensando em quão patético pode ser o colonialismo cultural.
4 comentários:
E o Japão que o diga, Maurício. Com o perdão do sarcasmo, acho que pra fazer um resturante japonês legítimo hoje em dia é necessário colocar uns trecos em inglês para ficar característico - o Baseball não é o esporte número 1 do País do Sol Nascente nos dias atuais?
Se por um lado, o Japão sofre de Síndrome de Estocolmo em relação aos americanos, por outro, nosso Brasil varonil, tal como boa parte da América Latina, vive buscando modelos culturais desde a sua independência.
Sejamos sinceros: O Brasil, particularmente, só se tornou independente por conta da profunda imperícia da elite portuguesa, tivessem os lusos elaborado uma solução razoável para o seu relacionamento com Pindorama e é muito provável que fossemos Reino Unido a Portugal até hoje.
De lá pra cá, continuamos a funcionar como uma espécie de colônia; primeiro, servindo os ingleses e copiando os franceses; depois servindo e copiando os americanos; o que faremos em seguida? Copiaremos os chineses? Ou simplesmente vamos ficar malucos no mundo multipolar que se anuncia?
Enfim, cada vez mais eu costumo achar que muito do que achamos que as teorias política e econômica explicam, na verdade, pertencem ao campo da psicologia e da antropologia.
Hugo, muito engraçado seu comentário, hilário, ri muito!
Concordo plenamente que muitas coisas que as pessoas acham que devem ser explicadas pelas teorias econômicas e políticas só poderiam ser devidamente enfocadas pela psicologia!
Aliás, o Caetano Veloso, que é uma besta quando se trata de política, diz uma coisa que eu concordo inteiramente: que os jornais devem ser lidos PSICOLOGICAMENTE. Note que ele não se refere a subtextos políticos, a análise do discurso e das formas, mas ao inconsciente do jornal. Acho isso uma verdade indiscutível e um método genial para "entender" a nossa nobre imprensa.
Você conhece o Consulado Mineiro naquela praça.. ah, benedito calixto? Se nunca foi, recomendo ir. Com companhia, pois os pedidos são pratos grandes. E é fantástico.
Descansem, não vão encontrar o Caetano que já foi muito mais prazeroso de encontrar, mas que agora é Meloso, não mais Veloso, no local.
Ah, e quase não consigo me segurar de curiosidade pra ver aquele texto. Vai me matar de curiosidade, você
Flávia, a praça Benedito Calixto é um segundo lar para o meu pai, que tem lá uma barraca em que comercializa CDs e discos raros - o Museu da Voz - na feira de artes que acontece aos sábados. Por conta disso, passei muitos sábados de minha adolescência ali, e de vez em quando apareço pra uma visita.
O Consulado Mineiro, por sua vez, foi fundado por um amigo de meu pai, e eu cheguei a gravar, anos atrás (no tempo da fita) uma seleção de músicas mineiras que volta e meia eles punham pra tocar. Faz muito tempo que não vou lá, mas a comida é de fato deliciosa (e tem umas cachaças de alta categoria, melhor do que muito whiskie 12 anos).
Calma que o texto tá no forno...e, como diz o samba, devagar também é pressa...
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