Ultimamente, parcela da mídia corporativa brasileira, um pouco por começar a inalar o incenso da falência, um pouco para fingir, aos ainda incautos, que pratica jornalismo equilibrado, tem procurado dissimular o ódio a Lula e a Dilma e o apoio ao tucanato e a seu candidato.
Assim, nas últimas semanas têm aparecido em setores da imprensa, com uma freqüência inaudita, artigos aparentemente justos com os fatos, e que insinuam, enfim, reconhecer méritos – esporádicos e mínimos que sejam – em uma administração federal apoiada, segundo as pesquisas, por cerca de 73% da população, em média.
O aparente equilíbrio jornalístico, porém, não resiste a um ou dois parágrafos, pois logo tem lugar o chamado “jornalismo do mas”, em que à mera menção do que possa ser positivo no governo Lula dá lugar a uma avalanche de conjunções adversativas – mas, porém, contudo, todavia, e por aí vai – que introduzem arrazoados sem razão e diabólicas diatribes na tentativa de convencer o leitor de que não é bom o país crescer, que essa história de deixar de obedecer cegamente aos EUA não vai dar certo e que o Bolsa-Família sustenta vagabundos.
Para completar, quando o jornal em questão é a Folha de S. Paulo, ao lado de uma matéria desse tipo há um box, intitulado “outro lado”, que, democraticamente, se dedica a ouvir... o mesmo lado, ou seja, os tucanos, demos e psolentos encarregados de entoar a cantilena dominante no artigo.
Na Folha, aliás, o tal “jornalismo do mas” não é novidade. Só que, no longo período em que o jornal parecia prestes a se tornar uma Veja diária – com direito a ficha falsa na capa, ataque de Frias a professores renomados, "denúncias" de Cesinha e anomalias do tipo -, essa exótica modalidade de jornalismo era de uso prioritário de seus colunistas – os quais, premidos pela necessidade de aparentar isenção, se viam, de quando em quando, obrigados a reconhecer um avanço ou outro, para logo em seguida sapecar um "no entanto" e começar a artilharia anti-Lula.
Por isso, a primeira vez que me apercebi do “jornalismo do mas” foi num artigo sobre Clóvis Rossi que escrevi para o Observatório da Imprensa e depois republiquei, com alterações, no blog. De lá para cá, tornou-se recorrente tal modalidade de apelação pseudo-jornalista, que não se restringe mais ao casmurro colunista e seus colegas que desempenham a mesma função no diário dos Frias.
Aliás, a Folha é, sem dúvida, o órgão que com mais frequência e da maneira mais deslavada tem recorrido a esse estratagema dissimulador, até para tentar convencer que à reforma gráfica recente do jornal, que tornou os infográficos ainda mais coloridos e pululantes, correspondeu uma revisão – com sinal progressista - de sua linha editorial. O que acontece, a bem da verdade, é exatamente o contrário, com colunistas mais liberais – como Paulo Nogueira Batista Jr. – tendo sido defenestrados, substituídos por imberbes colunistas de formação neocon.
O problema é que, longe dos círculos mais informados e da blogosfera de esquerda, há quem se deixe enganar pelo truque. Para meu espanto e decepção, tenho presenciado in loco tal fenômeno.
2 comentários:
pois, é, Maurício, "se deixar" enganar é bem o termo. Compartilhar das mesmas idéias difundidas por jornais como a Folha, o Estado, e mesma a Veja, ainda confere credibilidade dentro de alguns circulos. Há quem continue acreditando que reproduzir o que se lê nesses veículos é sinal de inteligência.
Para a velha mídia o Brasil continua avançando em algumas áreas, apesar do presidente Lula e do PT, mas pelo menos pararam um pouco com aquela história de que o Lula tem é sorte, e nada mais. Ainda leio algo assim de vez em quando, mas já não é tão frequênte.
Haja sorte! A cara-de-pau dessa turma é incrível - vide o debate dos presidenciáveis na Globo.
Assim como eu, você, que convive com estudantes, sabe que o problema é que muitos ainda embarcam nessa, crédulos...
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