Neste
momento em que, com o desembarque do PP (e do PSD do "aliado"
Kassab), o impeachment torna-se uma possibilidade iminente, a linha
de defesa do governismo tem se concentrado em duas frentes: uma, a
tradicional tática de martelar mentiras, freneticamente reproduzidas
nas redes sociais por militantes e simpatizantes, cujo maior exemplo
- até agora - é um desenho com uma contagem alterada dos deputados
corruptos da Comissão de Ética que teriam votado pró e contra o
impeachment (apontando, respectivamente, 35x2. quando o placar
verdadeiro é 19x16).
A
outra é a aposta na tática do medo, carro-chefe eleitoral do
petismo e a principal responsável pela vitória de Pirro em 2014. Em
sua versão pré-impeachment, ela apregoa que o governo Temer será o
inferno neoliberal na terra, com privatizações a granel - inclusive
de universidades -, "entrega" do jamais leiloado Pré-Sal,
sacrifício dos (ora privilegiados) trabalhadores e aposentados,
repressão a manifestações e movimentos sociais (2013, Copa do
Mundo, alô?), além de um "mega" ajuste fiscal (o adjetivo
anteposto é para diferenciá-lo daquele praticado por Dilma, digo,
por Levy).
Contra
tanta maldade, a enésima reavivação da promessa de que Dilma
promoverá a tal guinada à esquerda (acredite... se quiser).
Questões
em aberto
Ironias
à parte, duas questões tomam corpo: 1) Quais as chances de isso
realmente acontecer? 2) Na hipótese de Dilma sobreviver à primeira
tentativa de impeachment, quão diferentes dessas seriam suas
pollíticas?
Em
um eventual governo Temer, como a situação econômica torna óbvio
constatar - e seu discurso "que vazou" confirma -, deve
ocorrer um aperto fiscal, o cenário recessivo tende a agravar o
desemprego; um aumento significativo das privatizações está em
pauta. Trata-se de uma perspectiva sombria, sem dúvida.
Tempo
exíguo
Porém,
a campanha para as eleições de 2018 está, na prática, há menos
de um ano de começar (em março do ano que vem). Se o governo Temer
fizer um terço das malvadezas recessivas que ora lhe atribui a
militância governista, lidar com o rótulo de golpista e com a
ruidosa oposição dos simpatizantes do PT será o menor dos seus
problemas.
Pois,
na prática, ele não disporá de tempo hábil para colher nada além
dos efeitos ruinosos dos ajustes, tendo de fazer campanha eleitoral
em cima de promessas de melhoras enquanto agrava-se a recessão e o
desemprego. Ou seja, um cenário de sonho para o retorno do
messianismo lulista, bradando o desempenho econômico do país
durante a sua presidência.
Impeachment
ou imobilismo
E
como seria com Dilma, na hipótese cada vez mais improvável de não
sair derrotada no domingo? Embora a memória seletiva da militância
(e de alguns inocentes úteis) finja esquecer, a pauta da presidente,
antes de parar de governar o país para se defender, leiloando
cargos, tinha dois itens prioritários: a "reforma" da
Previdência (leia-se tunga em aposentados) e a aceleração da
privatização da infraestrutura ("concessão", na
novilíngua petista; "vender o Brasil", quando quem
privatiza são os tucanos). O desemprego disparara, a inflação
projetara-se acima da meta, a atividade econômica e até a renda
mensal caíram. Nada minimamente ao gosto da esquerda, nem mesmo da
autodenominada "esquerda" governista (aquela que apoia Belo
Monte e Força Nacional).
Nos
próximos meses, com a economia em frangalhos - incluindo queda
vertiginosa na arrecadação de impostos, devido à recessão -, uma
base política esquálida e Dilma se equilibrando na corda bamba
enquanto a oposição, majoritária, lhe atira bananas, de onde ela
tiraria recursos e apoio político para, mesmo se quisesse, adotar
políticas anticíclicas?
Platonismo
político
Tais
questões, embora mais do que relevantes, necessárias, tendem a ser,
na verdade (se o impeachment não vier a significar um choque capaz
de produzir autocrítica e rearranjos partidários profundos),
meramente retóricas. Pois o petismo militante há tempos não está
mais interessado na materialidade das políticas levadas a cabo por
seus governantes e em seus desdobramentos. Prefere as substituir por
uma visão platônica de esquerda, em que, por um lado, as ações de
seu governo são, à revelia de efeitos nocivos e aspectos
retrógrados, avaliadas pelo que poderiam ser ou representar;
enquanto, por outro lado, a oposição é, invariavelmente, uma
alteridade maléfica e conservadora, a nêmesis neoliberal (ainda que
o neoliberalismo jamais tenha deixado de ser um elemento orientador
de políticas oficiais durante os governos Lula e Dilma).
Tudo
somado, em um caso ou em outro, as perspectivas, a curto prazo, são,
sem trocadilho, temerárias.
(Imagem retirada daqui)
2 comentários:
Parabéns por mais um excelente texto. Este é o único site que eu conheço que consegue analisar a política de acordo com o que eu observo, absolutamente coerente e sem defender quaisquer dos lados, que evidentemente comete seus muitos erros. Sem puxa-saquismo, este é o melhor site de política que eu já vi. E o que você disse é isso mesmo! Vamos aguardar o fechar de cortinas dessa novela e ver as consequências disso tudo.
Muito obrigado, Marc Pereira. Um abraço.
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