A traição eleitoral
perpetrada por Dilma Rousseff, que na campanha vendeu um pais de
comercial de margarina, assegurando ser a única candidatura capaz de
preservar a economia e os empregos, e agora submete a população a
um duríssimo choque neoliberal, produz danos que não se limitam à
crise recessiva e ao desemprego a caminho dos dois dígitos.
Pois tal choque, para
além dos cada vez mais graves efeitos na economia do país e no
cotidiano dos cidadãos, equivale, em termos ideológicos, a uma
hecatombe, com consequências de monta para o debate e os termos da
disputa politica nos próximos anos. O elasticismo aético da
realpolitik petista, com suas alianças amorais, seu vale-tudo em
nome da tal governabilidade e o decorrente desprezo por coesão
ideológica e programática cobra, enfim, com juros, o seu preço.
Economia sacrificial
Para piorar, sob o
pretexto do ajuste fiscal e da alegada necessidade de se obter um
alto superávit primário – ou seja, de dar prova, para o mercado, de
que o país é capaz de pagar os juros da dívida pública e ainda
economizar um tanto –, ganha força, cada vez mais, um velho
discurso de demonização dos gastos públicos e de defesa de um
estado mínimo. Vários países já viram esse filme – inclusive o
Brasil - e seu final é péssimo.
O corte de 75% das bolsas de pós-graduação, o adiamento ad eternum da compra de 22 milhões de livros pra as bibliotecas públicas, universidades com instalações em penúria, sem verba para pagar sequer limpeza e energia elétriva, a estagnação salarial de professores - isto tudo que ora ocorre, não obstante sua gravidade, não passa de uma prévia do que seria, apenas na área da Educação (que o governo Dilma alega ser prioritária), o país sob um Estado minimo.
Omissão e confusão
O discurso de viés
liberal que o defende baseia-se em uma omissão gritante e em uma confusão
deliberada. A primeira diz respeito ao peso, no balanço contábil
federal, do pagamento dos juros da dívida púbica. Os npumeros são eloquentes: no ano passado, o governo gastou R$ 978 bilhões só com pagamento de juros e amortizações da dívida, montante que corresponde a quase a metade (45,11%) do total de gastos orçamentários anuais.
Não é preciso ser nenhum gênio da economia para constatar que esse gasto, que não gera nada para o país - seja força de trabalho, melhoria de serviços ou produção de bem material - é muito mais nocivo do que os eventuais desperdícios e distorções causados pelo gasto da outra metade do orçamento, da qual uma parte sustenta quase oito milhões de famílias, em que ao menos um membro é funcionário público.
Questão
de prioridades
Não se pretende, com
isso, desmerecer a necessidade de uma maior racionalidade
administrativa. Qualquer pessoa sensata há de reconhecer que é um
despropósito o Brasil ter 36 ministérios e que o desperdício pode
ser contido e que os supersalários têm de ser revistos (embora seja
necessário ter claro que estes constituem exceção, a regra do
funcionalismo federal sendo salários de medianos pra baixo). Não se
pode, no entanto, superestimar o efeito de cortes em desesas públicas
se o pagamento de juros permanecer intacto, nem, muito menos,
confundir racionalidade administrativa com demonização do
funcionalismo público e defesa do Estado mínimo.
Ademais, ainda que o
governo Dilma, com sua guinada à direita, não o reconheça, o
verdadeiro dilema da crise não é à custa de que sacrifícios será
feito o ajuste fiscal, e sim por que direitos trabalhistas, empregos
e a qualidade de vida do povo têm de ser sacrificados para que o
lucro dos bancos com juros pornograficamente altos siga intacto?. Por
que um pequeno grupo de bilionários tem preferência ante as
demandas, muitas vezes urgentes, de milhões de cidadãos e cidadãs?
Não da para discutir
seriamente a questão fiscal brasileira omitindo tais fatores.
Tudo pelo poder
Já a confusão
deliberada parágrafos acima aludida recai sobre quais outras
despesas, além do pagamento de juros extorsivos, foram, ou têm
sido, responsáveis pela sinuca de bico em que o goveno Dilma por sua
própria incompetência se meteu.
Ao contrário do que o
discurso ofical quer fazer crer, com a narrativa fictícia do
agravamento de uma crise mundial que já é passado para os EUA e
maior parte dos países da Europa e mesmo da América do Sul, o fato
é que três fatores foram os determinantes para que o endividamento
do Estado brasileiro subisse a ponto de deflagrar a acrise atual: a
construção de megaobras como Belo Monte e Tapajós, as despesas
diretas e inditretamente ligadas à Copa do Mundo e a campanha
eleitoral mais cara da história da Humanidade.
Ouvidos moucos
Ou seja, se o governo
petista tivesse tido a humildade de ouvir o alerta de especialistas e
corrigido as diretrizes do investimento, deixaria de alocar montanhas
de dinheiro público em megaobras de grande impacto ambiental e
social, as quais visam prioritariamente fornecer energia para
abastecer o mercado chinês de bauxita, commodities e derivados.
Diminiuiria, assim, o hoje temível grau de dependência da economia
brasileira em relação à chinesa, que ora se retrai.
Teria, ainda, evitado
os sucessivos aumentos no preço da energia elétrica e do gás, que
ora sufocam os orçamentos das famílias e agravam a questão
inflacionária. Pois, se ouvisse os jornalistas e especialistas que
prefere desqualificar com grosserias, o petismo não teria mantido os
preços da energia elétrica congelados por um longo período, numa
típica medida eleitoreira, nem (por conta do aumento de consumo da
energia artificialmente barata) teria sido obrigado a recorrer com
frequência às caríssimas termoelétricas, gerando o caro caos
econômico-energético atual. Mas não: do alto de sua arrogância,
Dilma, a “gerentona”, preferiu afirmar sua expertise no setor.
Deu no que deu – e quem paga a conta é o povo.
Mentiras e violências
A presidente Dilma não
tem como alegar que desconhecia a gravidade da crise, como fez
recentemente. Primeiro, porque quem ocupa tal cargo tem a obrigação
de manter-se permanentemente atualizado em relação à situação e
aos rumos da economia do país. Segundo, porque, ao menos desde 2013,
mesmo na “imprensa amiga”, diversas matérias alertavam para a
iminente piora do cenário econômico, com a confluência maléfica
de aumento substancial da dívida pública, dos juros e da pressão
inflacionária. Exemplo disto é esta coluna
de Jaciara Itaim, publicada em 26 de novembro de 2013 por Carta
Maior.
Ela sabia. E a opção
por um modelo arcaico de desenvolvimento, à la Brasil Grande, baseado no estímulo ao consumo e infeso a
qualquer questão ecológica ou ao respeito às comunidades afetadas,
indígenas ou não, foi deliberada. Assim como o foi a repressão aos
protestos contra a Copa do Mundo, que variaram da tentativa descarada
de acobertar o montante de público gasto na preparação do evento
à violência oficial brutal - não só cedendo recursos materiais
às PMs, mas com o Exercito e a Força Nacional – contra
manifestantes que exerciam o seu direito constitucional ao protesto
público.
Perguntas sem resposta
Tudo isso para quê? De
que valeu a vitória nas eleições, se o resultado é o
neoliberalismo ortodoxo, de estirpe tucana, no comando da economia?
Para que tanto empenho em vencer? Para gerar um país rachado,
binário, com avalances de ódio? Para macular por décadas a
esquerda (como se de esquerda o petismo se tratasse), com o
fortalecimento de um ideário neoliberal de demonização do
funcionalismo público e do papel do Estado? Pelo poder pelo poder?
Para quê?
(Imagem retirada daqui)
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