É tempo de definição
das candidaturas presidenciais, e o que se vê é um museu de grandes
novidades. Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos são, hoje,
as únicas candidaturas com chance de vitória. Em termos
programáticos, mal dá para espetar um alfinete entre as propostas
de um e de outro: todos se esforçam como um cãozinho para agradar o
mercado, têm ojeriza ao diálogo com a sociedade e não hesitam em
jogar forças policiais contra o povo; em seus mandatos abundam
denúncias de corrupção – e de agirem para impedir as respectivas
investigações.
Pior: praticam a
política da forma mais convencional possível: alianças com velhos
caciques, comícios em que prometem mundos e fundos sem se
comprometerem especificamente com nenhum programa, uso baixíssimo e
pouco inteligente da internet e de suas possibilidades interativas.
Os três têm horror a tudo o que se refira a políticas públicas voltadas a sexualidade, questão de gêneros ou comportamento, de forma geral. Nenhum deles foi eleito por eleição intrapartidária em que as
bases tivessem pesos decisório, mas pelo velho dedazo. É
quase como se estivéssemos no século XIX.
Assim, como nenhum
desses candidatos atende minimamente ao que nosso maravilhoso mas
sofrido país merece, e como é franqueado a todos sonhar – sendo
que, para o dramaturgo barroco Calderón de la Barca, os sonhos
seriam mesmo a matéria constitutiva da vida -, apresentamos, a
seguir, o que seria, ao nosso entender, um programa mínimo, básico
mesmo, para um(a) candidato(a) a presidente merecer o voto em nosso
atual estágio de democracia, em pleno terceiro milênio.
Merece o meu voto um(a)
presidente que:
- Preserve a autonomia em relação ao mercado financeiro, priorizando o interesse público e as demandas urgentes da sociedade em relação às dos bancos e entidades financeiras que, além de lucrarem bilhões com os juros aqui praticados, querem, com o auxílio da mídia corporativa, sua parceira no capitalismo infotelecomunicacional, mandar no país;
- Recuse determinantemente as privatizações - ou concessões, ou que nome a novilíngua da vez adote – do patrimônio público nacional, de forma a preservar ao máximo as riquezas naturais e a autonomia econômica e decisória do país, renegando a adoção de medidas de orientação neoliberal das quais a privatização é ícone;
- Adote um modelo de desenvolvimento que leve em conta a finitude dos recursos naturais, fatores bioéticos, ecológicos e a necessidade de preservação da vida e do meio ambiente para as gerações futuras;
- Respeite e priorize os Direitos Humanos, fazendo valer o poder do Estado para difundir sua significação e importância e para aplicá-los, com particular atenção a violência contra crianças, mulheres, homossexuais, índios, minorias e à criminalização da pobreza.
- Apresente, já na campanha eleitoral, um planejamento estratégico do que realizaria – e com que recursos -, em curto, médio e longo prazos, em áreas essenciais como Educação, Saúde, Cultura, Transportes, Trabalho e Segurança Pública;
- Priorize de fato a Educação, com garantia de investimentos vultosos e continuados; suporte aos estados na melhoria do ensino de primeiro e segundo graus; oferta de treinamento e oportunidades de atualização a professores, cuja remuneração deve ser condizente à importância social da Educação numa sociedade democrática; manutenção e ampliação do ensino universitário público sem sucatear o sistema ou diminuir a qualidade da educação oferecida, ou seja, oferecendo campi em boas condições físicas e de mobilidade, com equipamentos e bibliotecas atualizadas e preservação, em índices internacionalmente recomendados, da proporcionalidade professor/aluno; acompanhamento rigoroso dos concursos públicos para contratação de professores, de forma a coibir a vergonhosas e disseminadas fraudes; rigor na fiscalização do ensino público privado; fim dos truques marqueteiros de programas como o "Ciência Sem Fronteiras", mera oportunidade turística para graduandos;
- Promova efetivamente a redistribuição de renda, a partir de uma lógica rigorosamente inversora, ou seja, que tire dos mais ricos para beneficiar os mais pobres, sem prejudicar economicamente ou estimular o preconceito contra estratos socioeconômicos intermediários;
- Adote o combate à corrupção como uma meta prioritária do governo, mobilizando todos os esforços para coibi-la em suas diversas manifestações, sem preservar os membros de grupos políticos aliados nem se valer de estratagemas como a manipulação e o sucateamento da Polícia Federal como forma de esvaziar seu ímpeto investigativo;
- Dialogue com a sociedade, respeite o direito constitucional a manifestação, protesto e greve, evitando a todo custo o uso da violência física por parte do Estado; que instaure novos canais de comunicação entre sociedade e governo, ampliando os meios de democracia participativa.
- Promova a regulamentação da Comunicação, através de amplo debate com a sociedade e de forma a proibir a concentração de empresas midiáticas na mão de poucos donos, vetar a propriedade cruzada de meios e criar meios eficazes de acabar com a impunidade midiática e punir a difamação e a calúnia com uma velocidade condizente à da era da informação tecnológica, promovendo, assim, a democratização e a pluralização da área;
- Patrocine uma reestruturação das forças de segurança, reforçando a Policia Federal e coordenando junto aos estados um processo de desmilitarização da Polícia Militar, com sua substituição por uma força policial em bases profissionais, desprovida dos ranços ditatoriais e de seus vícios, erradicando a tortura como método prioritário de investigação no país e restabelecendo a hoje deteriorada confiança do povo em suas forças de segurança;
- Cumpra os compromissos assumidos em campanha, não agindo de forma inversa ao sentido geral do programa eleitoral divulgado, a não ser devido a emergências sistêmicas ou catástrofes. Trata-se de um item cujo cumprimento extrapola o âmbito partidário e pede a ação efetiva da Justiça Eleitoral. Pois numa democracia em evolução não se pode tolerar, como temos visto em um passado recente, que, por exemplo, um candidato faça toda sua campanha eleitoral com um discurso caracteristicamente antiprivatização - inclusive anunciando em comícios e vídeos gravados que não irá privatizar o Pré-Sal - e, no poder, não só privatize o Pré-Sal, mas rodovias, aeroportos, portos, etc. Isso depõe contra a democracia do país e impede sua evolução.
Um comentário:
O amigo esqueceu de citar a Saúde, que sofre uma trava na sua eficiência a décadas.
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