As cenas
de violência e intolerância por parte de manifestantes, que tiveram
lugar nas manifestações de ontem, de forma simultânea e em
diversos pontos do Brasil, evidenciam a necessidade de uma
intervenção mais efetiva da sociedade civil organizada – OAB,
ABI, CNBB, ONGs e entidades de Direitos Humanos -, de forma a criar
canais de interlocução com os organizadores dos protestos e
impedir que neles se instituam práticas antidemocráticas, como
impedir a livre manifestação de pessoas com vinculação partidária
ou sindical identificadas como tais.
É
necessário, ainda, que a sociedade e os órgãos responsáveis –
Ministério Público à frente – reflitam e investiguem sobre a
natureza suspeita dos eventos de ontem: o caráter simultâneo da
violência e os relatos coincidentes sobre grupos grandes com homens
muito fortes e encapuzados apontam para uma ação coordenada em
âmbito nacional por quem tem capacidade e meios para tal - e disso
se beneficiaria. Se levarmos em conta que não é do interesse do
movimento a disseminação da violência - e que esta até agora,
quando não partiu da PM, vinha sendo mantida em níveis mínimos,
resultando em passeatas pacíficas -, é forçoso reconhecer que ela
interessa sobretudo a duas esferas: a de grupos radicais
paramilitares ávidos por desestabilizar a democracia e a dos poderes
estaduais e federal – que poderiam fazer uso de serviço policial
reservado -, de forma a criminalizar, tornar perigosos e esvaziar os
protestos.
A eclosão
da violência suspeita de ontem serviu à disseminação, nas redes
sociais, do alerta de que haveria perigo iminente de golpe militar –
e que a mídia, rede Globo à frente, o estaria insuflando. Na ponta
de lança de tais alarmes, blogueiros governistas - como Paulo
Henrique Amorim e Eduardo Guimarães - que desde o início do
movimento procuraram desqualificá-lo, com argumentos idênticos aos
inicialmente empregados por ninguém menos que Arnaldo Jabor.
Assustados com a evidência inconteste, nas ruas de todo o país, de
que a presidente Dilma está longe de ter a aprovação popular que
supunham e que 2014 não vai ser as favas contadas que imaginavam,
agem como um "PIG do B", insuflando o temor e o clima de
suposta instabilidade institucional. De concreto, só uma tática
diversionista de quem não se conforma pelo PT ter perdido o
monopólio da mobilização popular que acreditavam ter.
Mas não
é só na relação entre política e popularidade que os fatos
teimam em contrariar tais blogueiros: na cobertura dos protestos, a
Globo repetiu várias de suas vicissitudes – construindo uma
narrativa maniqueísta protagonizada por manifestantes bonzinhos e
vândalos malvados; deixando de oferecer uma reflexão crítica
minimamente aprofundada sobre as razões do protesto e da violência;
reforçando as demandas populares que se referem ao governo Dilma e
minimizando as que afetam governadores tucanos. Mas se mostrou longe,
muito longe, neste momento, de praticar um jornalismo alarmista
visando pavimentar o terreno para o golpe, como alardeiam com
estridência e mentirosamente muitos governistas nas redes sociais.
Pois se
há um mérito indiscutível nas manifestações é que desvelaram ao
Brasil e ao mundo um alto grau de insatisfação popular por parte de
jovens, os quais passaram a maior parte da vida em um país governado
pelo PT – o que, justa ou injustamente e não obstante os avanços
alcançados, evidencia que o país está longe de ter se transformado
na maravilha que o petismo alardeia.
O fato de
os protestos terem irrompido e se alastrado durante o governo Dilma
Rousseff deixa cristalinamente claro que, como parte da esquerda
descontente vinha denunciando, acumulavam-se problemas de monta em
sua administração, e que ganhava corpo um sentimento difuso de
insatisfação popular, o qual as pesquisas de opinião ainda mal
haviam captado. Mas o governismo, como sempre, preferiu ignorar,
enterrar a cabeça na terra e utilizar-se de seu bode expiatório
favorito, o tal de "PIG", fingindo que os alertas sobre os
pesados aumentos de preços, consolidados, segundo dados do próprio
governo, num índice anual de inflação no quesito alimentos de
13,94% (bem maior do que a inflação total média do período FHC,
de 9,24%), era "terrorismo midiático"; que é normal um
governo que se elegeu criticando privatizações como um crime de
lesa-pátria trair seus eleitores e sair privatizando e lesando a
pátria impunemente; que vale tudo nas alianças, seja a direita
religiosa, a ruralista Kátia Abreu, o símbolo da corrupção Paulo
Maluf ou o prototucano Guilherme Afif Domingos, como se ninguém
estivesse vendo a ética ser jogada no lixo em nome do pragmatismo
eleitoral e da ampliação da hegemonia no poder (que, como assinalou
Gramsci, é diferente da hegemonia política). Os governistas
fanáticos fingiram não notar tais graves transgressões éticas e
achavam que o povo não as percebia, mas este, sem as amarras das
paixões partidárias, a tudo observou criticamente, até que sua
insatisfação transbordou.
A
invocação ao golpe militar, atual obsessão de blogueiros
chapa-branca e de governistas acríticos, é uma reação psicológica
a esse quadro, a expressão de uma necessidade de, a um tempo,
desqualificar os movimentos populares que deixaram claro que o rei
está nu (e que desta vez não vai haver quadro comparativo entre os
governos FHC e Lula que dê jeito) e reafirmar um suposto caráter
esquerdista e popular do governo Dilma, caráter este que a eventual
ação golpista, paradoxalmente, legitimaria. Ou seja, o fantasma do
golpe militar é, neste momento, um misto de alusão a um último e
abominável ato contra um governo democraticamente eleito e, para o
governismo bovino, um wishful thinking
inconsciente, inconfessável e redentor.
4 comentários:
1- Pessoal agindo como fascista
2- Querendo qualquer doido pra "organizar o país"
3- Confusão em Brasilia
Abre o olho cara! nao que seja um Golpe de 64. Mas tem merda no ar!
Faço votos que vc esteja certo! ;) Pelo bem de todos nós, que seja só dor de cotovelo de uns, e paranóia de outros.
E quando EU penso em golpe (e olha que eu custei pra pensar em um), não é militar! Mesmo que eu esteja vendo acontecer muito do que eu estudei, diante dos meus olhos, nunca pensei na hipótese de um golpe militar!
Mas, como eu disse antes, tomara que eu esteja errada que em janeiro de 2015 a gente veja a Dilma lá na cerimônia de posse, ou tomando posse novamente, ou passando a faixa pra outro, assim como a maioria desejar! ;) E eu vou rir de mim enquanto tomo umas cervejas!
PSDB e PT reagem, um reacendendo as brasas da ditadura bem vivas dentro estrutura policial, o outro alegando que qualquer contestação às decisões do atual poder federal é golpe - discurso muito semelhante no autoritarismo.
Fascistas sempre houve, prontos para aproveitar qualquer ocasião. E o que se pode fazer é disseminar a democracia e a educação/cultura (em lugar de pão/circo) para que não surjam oportunidades legítimas de contestação que possam servir de trampolim a esses aproveitadores.
Prezado,
Veja atentamente o vídeo que te envio, e os leia com igual atenção os textos que envio. Não são textos de "governistas", "petistas" e "blogueiros chapa-branca". Na realidade, todo material que envio abaixo são de estrangeiros. Espero que reflita e reconsidere sua posição. Creio, que você esteja equivocado em sua análise, embora sua análise seja honesta e encontre respaldo nos fatos.
http://www.youtube.com/watch?v=nQBQzNNS9eI
http://resistir.info/varios/aznarez_ofensiva_10jun13.html
http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/07/quem-agita-o-brasil-e-por-que.html
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/104967-as-maos-dos-eua-sobre-a-regiao.shtml
Postar um comentário