Os altos
índices de aprovação de que hoje goza o governo Dilma, da ordem de
63% para a administração e de 79% para a mandatária, têm sido
referidos, sobretudo, como vantagem antecipada para as eleições do
ano que vem – e uma ducha de água fria nas pretensões da oposição
e da mídia, ultimamente tão excitadas com a eventual candidatura
presidencial de Eduardo Campos (PSB/PE).
Com 85%
de aprovação ao governo Dilma no Nordeste, as possibilidades do
neto de Miguel Arraes diminuem drasticamente não só nas urnas, mas
no nascedouro mesmo da candidatura, neste momento, em seu potencial
de arregimentar apoio político e financeiro para viabilizar-se como
candidato com chances reais de vitória.
O PSDB,
por sua vez, mantém-se preso às divisões açuladas, por um lado,
pela obsessão que o campeão de rejeição e de derrotas José Serra
nutre pela Presidência e, por outro lado, pela hesitação de Aécio
Neves entre continuar inalando a boa vida de playboy na "Cidade
Maravilhosa" ou candidatar-se à aridez do Planalto Central,
ainda mais com FHC a tiracolo, obrigando-o a defender um modelo
econômico anacrônico, responsável principal pela crise global que
ora aflige os EUA e a Europa.
Eleição
antecipada
O anúncio
dos altos índices de aprovação de Dilma e de seu governo
mostra-se, portanto, alvissareiro por prognosticar que permanecerão
mantidas longe do poder as forças politicas que levaram, ao longo da
década de noventa e por mais de uma vez, a economia do país a um
estado pré -falimentar, com graves consequências sociais –
incluindo altos índices de desemprego e sucateamento das
universidades e hospitais federais.
Por outro
lado, de forma objetiva e levando em conta que estamos ainda a um ano
e meio das eleições presidenciais, há de se questionar que
benefícios os altos índices de aprovação do governo capitaneado
pelo PT trazem hoje ao país, no campo da esquerda. Dilma se valerá
de tal cacife para enquadrar seus aliados e exigir a obediência a
padrões republicanos para as alianças políticas, com o cumprimento
de acordo preestabelecidos e coibindo a chantagem no varejo a cada
votação no Legislativo, pavimentando o caminho para uma futura
reforma política (que, convém lembrar, era item de destaque em seu
programa como candidata, já adiado para o próximo governo)?
Questões
prementes
O governo
Dilma aproveitará o endosso popular para, como presidente de um país
às vésperas de receber três mega eventos globais (a Jornada
Mundial da Juventude, a Copa do Mundo e as Olimpíadas), patrocinar
uma campanha pelos Direitos Humanos que dissipe a impressão duvidosa
que tem deixado nesta área e reafirmar, não apenas com declarações
mas com medidas efetivas, a cidadania plena de grupos sociais que,
sob a complacência silenciosa do Estado, têm sido vítimas
recorrentes de violência, como os índios e os gays?
O governo
Dilma utilizará do voto de confiança da população para honrar, a
um tempo, outra promessa de campanha e o histórico do PT com os
movimentos que lutam pela democratização do solo, contrariando os
aliados de última hora advindos do agronegócio – entre os quais
se incluem acusados de empregarem mão-de-obra escrava – e
promovendo, com 200 anos de atraso, a reforma agrária? Fará ao
menos uma reformulação nas atuais políticas agrárias, que
privilegiam os mega latifúndios em detrimento dos médios e pequenos
produtores?
O governo
Dilma se valerá de tamanho apoio para promover um aggiornamento
cultural no país, retomando e
ampliando a efervescência dos Pontos de Cultura, vigorosa experiência
de estímulo à produção cultural diversificada e regionalmente
capilarizada levada a cabo pela gestão Gilberto Gil/Juca
Ferreira e inexplicavelmente sucateada pela deplorável
"administração" Ana de Hollanda no Ministério da
Cultura, e pela transformação deste em moeda eleitoral nas eleições
paulistanas, com a nomeação de Marta Suplicy, cuja experiência
como agente cultural é nula?
E,
sobretudo, o governo Dilma utilizará o reconhecimento popular de que
ora desfruta para, tal como hoje acontece tanto em democracias
avançadas como o Reino Unido e a Dinamarca quanto em países que
vivenciam um amadurecimento democrático, como nossos vizinhos
Equador, Venezuela e Argentina, patrocinar uma Lei de Meios que
regularize em padrões republicanos a atuação da mídia, fazendo
cumprir os preceitos constitucionais que regem a concessão de sinais
de rádio e TV e, assim, coibindo o golpismo, o partidarismo e o uso
recorrente de táticas de desqualificação e difamação por parte
do jornalismo midiático?
Impasses
e limites
Se a
resposta às perguntas acima vier a ser negativa, como tudo indica,
há de se questionar, por um lado, até que ponto os altos índices
de aprovação do governo Dilma Rousseff merecem ser motivo de
comemoração por significarem apoio e indício de garantia de continuidade de um projeto político que tem como principal mérito a
promoção da inclusão socioeconômica de setores historicamente
marginalizados da população brasileira.
E, por
outro lado, até que ponto os índices são indício dos limites de
tal projeto e de sua submissão, por interesses eleitorais, ao
conservadorismo (religioso ou não), ao fisiologismo político velho
de guerra, à acomodação inerte ante a oligarquia agrária e à
plutocracia midiática, representantes do que há de mais arcaico na
sociedade brasileira.
(Foto retirada daqui)
Um comentário:
Boa perspectiva!
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