"Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação Penal 470 e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes e as juízas do Brasil. Não passarão sobre novas esperanças do povo brasileiro, porque a decepção não pode estancar a vontade de acertar no espaço público. Não passarão sobre a Constituição do Brasil”
No
trecho acima reproduzido do voto que proferiu sobre o caso da prisão
do deputado Delcídio Amaral (PT/MS), a ministra Carmem Lúcia coloca
alguns pingos fundamentais nos is.
Primeiro,
ela alude à enorme diferença entre o que o PT prometeu que faria,
no poder, e o que realmente fez, que já era insatisfatório e se
encontra cada vez mais diminuído por uma das piores crises
econômicas da história do país – crise esta que deriva
diretamente das opções econômicas e morais go governo petista. Na
economia, representadas por uma política clientelista e
descriteriosa de concessões de vultosos empréstimos a corporações
próximas do poder e de isenções fiscais como forma de estimular o
consumismo individual (em detrimento do incremento dos serviços para
a coletividade); no aspecto moral, pela tolerância ou envolvimento
direto com o maior caso de corrupção da história brasileira, o
Petrolão.
Segundo,
a ministra explicita o quanto um discurso de moralismo na política –
uma das características distintivas daquele PT aguerrido pré-2002 -
foi, seguida e repetidamente, não apenas abandonado, mas desmentido
por escândalos sucessivos de corrupção envolvendo o partido e
vários de seus membros – por duas vezes de maneira sistêmica, tal
como reconhecido pela Justiça (por um STF cuja ampla maioria dos
ministros fora nomeada por presidentes petistas, convém registrar).
O PT
vive uma derrocada moral. Primeiro, o “Mensalão”; depois, o
escândalo da Petrobras. Anteontem, numa página incrivelmente
vergonhosa de sua história, o apoio a Eduardo Cunha, uma das mais
nocivas figuras a ocupar uma posição de protagonismo na política
institucional brasileira, em larga medida graças ao próprio PT,
que, em aliança amoral e arrivista com a matilha do PMDB fluminense,
o apoiou quando era um entre tantos malandros em busca de um mandato
no Rio, e agora evita sua queda, receoso de que ela venha a significar o
impeachment de Dilma.
Agora,
ante um senador e líder de governo preso por ordem judicial, o
petismo dá vazão a uma reação duplamente covarde: ora, num
espetáculo de corporativismo e flacidez moral, tentando anular sua
prisão no Senado; ora tentando ligá-lo ao PSDB e a Serra, embora
ele tenha sido eleito pelo partido de Lula, do qual era lider no
Senado, ao qual está filiado desde 2002 e pelo qual concorreu a
senador e a governador do Mato Grosso do Sul.
Tanta
conivência com a corrupção e tamanha e repetida traição ao que
fora aos eleitores prometido já é de conhecimento do povo, a quem
nas últimas eleições a candidata petista jurou defender e, em um
caso explícito de estelionato eleitoral, traiu com um ajuste fiscal
que ora os desemprega e pauperiza.
E a
reação certamente virá, a volta do chicote no lombo de quem mandou dar, e há de se manifestar em breve, talvez já no
próximo outubro. Então não haverá discurso de "golpismo"
capaz de enganar os traídos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário