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sexta-feira, 26 de junho de 2015

Dia histórico para os Direitos Humanos

Dia histórico para a humanidade e para a luta pelos Direitos Humanos: os EUA abolem qualquer restrição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Não foi uma decisão do Executivo, comandado por Obama, como muitos vêm divulgando, e sim da Suprema Corte, que, ao utilizar a 14ª emenda da Constituição para proibir que qualquer estado restrinja o direito à união civil, acabou por legalizar, na prática, o "casamento gay".

Trata-se de um direito tão básico - o de compartilhar o corpo, o afeto e a vida com o parceiro ou a parceira que for de nossa escolha - que sua consagração talvez nem devesse causar tal celeuma, não fosse inédito e se desse em contraposição ao acentuado conservadorismo das últimas quatro décadas. Um período em que, ao contrário do que fora previsto, a imbricação entre religião e política institucional recrudesceu-se intensamente.



Retrocesso
Cresci ouvindo que o Brasil era um país liberal, tolerante, afável. Os EUA, ao contrário, com sua combinação de herança protestante e capitalismo selvagem, seriam o locus da intolerância, do repressivo, do conservadorismo.

Mas, hoje, enquanto os EUA suportam legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito de fumar uma erva cujos efeitos colaterais são mínimos, se comparados ao do legalizado álcool, os brasileiros vivem sob a tutela da intrusão do poder religioso na política, com a aliança entre um partido que se diz de esquerda e uma bancada religiosa impedindo todo e qualquer avanço na biopolítica do país.

Em decorrência, enquanto a maconha continua a ser tratada como questão policial, na contramão do mundo e numa prorrogação despropositada da fracassada “guerra às drogas”, os gays brasileiros, além de sofrerem toda sorte de discriminação - da ofensa ao espancamento, do boicote no emprego ao assassinato – continuam a ser tratados pelo Estado como cidadãos e cidadãs de segunda categoria.



O espelho distorcido
Imitar os EUA tem sido, há tempos, uma quase obsessão nacional: talk shows, gírias, vestuário, gadgets e geringonças eletrônicas, tendências profissionais e acadêmicas, enfim,quase tudo que compõe o american way of life é copiado e reproduzido – e de um modo cada vez menos fiel à antropofagia oswaldiana.

Talvez seja hora de nos inspirarmos, e importarmos, adaptando ao contexto brasileiro, a prioridade efetiva à educação, as bibliotecas abarrotadas de livros e DVDs, o respeito às faixas de pedestre e, no que nos interessa particularmente no âmbito deste texto, políticas de gênero e de drogas compatíveis com uma democracia contemporânea, com o século XXI e com o futuro.


(Imagem de Ian McKellen e Derek Jacobi retirada daqui)

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