O fato de, no campo
conservador, José Serra ter praticamente monopolizado as eleições
majoritárias dos últimos anos, com seu estilo truculento, sem
limites e adepto das piores baixarias, fez com que alguns analistas,
mesmo entre os chamados blogueiros progressistas, acreditassem que o
PSDB tenderia a renascer como partido de oposição programática uma
vez livre dele, sem espaço na agremiação após sucessivas derrotas
eleitorais.
Só faltou combinar com
os russos, como diria o grande filósofo Garrincha. O anúncio, feito
hoje à tarde, de que o governador Geraldo Alckmin (PSDB/SP)
manteve a decisão de não prorrogar os contratos de concessão da
CESP, criando um obstáculo ao projeto do governo federal de baratear
o custo da energia elétrica, é revelador de um traço distintivo do
PSDB que andava anuviado sob o personalismo serrista: o caráter
antipovo e anti-Brasil das decisões do partido.
A este traço vêm se
somar a insensibilidade social - tão bem exemplificada na desfaçatez
com que o governo paulista impede, com a medida tomada, que cidadãos
e empresas gastem menos com energia elétrica num momento de crise
econômica mundial – e a primazia que concede ao grande capital,
cuja manutenção de altos lucros com pouco esforço cuida de
assegurar. Fechando o círculo, a mídia amiga cuida de esconder do
cidadão informações essenciais à compreensão do processo, como pode
ser constatado no relato
que a blogueira Maria Frô faz do comportamento da Folha de S.
Paulo no caso em questão.
Não
é nenhuma novidade esse elitismo insensível do PSDB. Quem vivenciou
os dois governos de Fernando Henrique Cardoso pôde testemunhar,
estarrecido, a uma ação governamental completamente dissociada do
bem público e voltada tão somente a assegurar a maximização dos
lucros financeiros, à custa da dissolução do Estado brasileiro –
e, portanto, do sucateamento da saúde, da educação e da
infraestrutura do país – e da submissão da economia às regras do
mercado – ou seja, do abandono de setores industriais e
empresariais em formação, condenados à bancarrota ante a
competição internacional com produtos subsidiados em seus países
de origem. Tudo isso sob o beneplácito de uma mídia deslumbrada e a
indiferença de uma Justiça manietada (como demonstra com
propriedade este post
de Cynara Menezes).
Entretanto,
a despeito de não constituir novidade, e, portanto, não
surpreender, causa alguma estupefação esse comportamento
peessedebista por estar diretamente ligado às razões que apearam o
partido do poder e por evidenciar-se contraproducente em termos
eleitorais – o que afigura-se proibitivo a um partido que está há
uma década afastado do poder federal e acaba de sofrer uma fragorosa
derrota nas eleições municipais, perdendo a prefeitura da maior
cidade do país – até então um seu feudo – para o arqui-inimigo
petista.
Com
Alckmin impedido de tentar voos mais altos, sob o risco de os tucanos
perderem também o governo para o PT, e com uma eventual candidatura
Aécio cambaleando na imaturidade viciosa do senador mineiro, o PSDB,
mesmo enfrentando um de seus maiores impasses desde sua fundação
como partido social-democrata (hoje não é nenhuma coisa, nem outra,
mas um anacrônico arremedo de conservadorismo e neoliberalismo),
segue apostando contra os eleitores e a favor do grande capital.
Muitos
podem achar bom, para a esquerda e para o petismo, que assim seja,
pois gera mais um fator de enfraquecimento do conservadorismo. Tenho
sérias dúvidas a respeito. Penso ser prejudicial para o país não
contar com uma oposição programática, que entrasse na luta pela
hegemonia e buscasse afirmar posições. Creio mesmo que o vácuo que
hoje o elitismo a-ideológico do PSDB deixa na política acaba
permitindo que o governo Dilma, em algumas áreas – como a
trabalhista e a previdenciária -, ao invés de afirmar princípios
programáticos e aprofundar conquistas, acabe por mimetizar posições
anteriormente assumidas pelos tucanos, ocupando espaço e ampliando
sua hegemonia entre parcelas do eleitorado conservador, como a
posição a favor da manutenção do fator previdenciário criado por
FHC e as ameaças de flexibilização de leis trabalhistas ilustram
muito bem.
O
avanço da democracia, no Brasil, passa pela constituição de uma
oposição menos mesquinha e que, ao contrário do PSDB, não se
deixe atrelar à defesa de interesses menores, de modo a elevar o
nível do debate político e a representar um desafio constante, que
impila as forças ora no poder a competirem pelo eleitor e a se
aprimorar.
(Imagem retirada daqui)
4 comentários:
Oi Mauricio. Você poderia, por favor, explicar em linhas rápidas como a não-renovação da concessão da CESP sabota o plano de redução das tarifas?
Olá, Adriano,
A meta do governo de reduzir em ao menos 20% a tarifa paga, no país, pelo consumidor pressupunha a adesão de todas as concessionárias ao novo modelo proposto (através do qual elas seriam recompensadas com uma indenização fiscal).
Essa diminuição da conta beneficiaria não só o consumidor domiciliar, mas também o empresarial, o que poderia funcionar como um estímulo ao crescimento da economia.
Como a Cesp e parte da Cemig (da qual o tucano Aécio Neves é sócio) não aderiram, o governo federal terá de recalcular, para baixo, de quanto será a diminuição do preço final da energia.
Mesmo com a recusa dessas concessionárias em aderir, o governo, segundo o diretor-geral da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), Nelson Hubner, quer buscar outros meios para alcançar os 20% de redução do preço ao consumidor.
Att.,
Maurício.
5 de dezem
Oi Mauricio. Obrigado pela resposta. Vou procurar acompanhar o tema. Pelo que entendo, a energia no Brasil é fundamentalmente de matriz hídrica e seus potenciais, as quedas d'agua, são propriedade da união. Nesse caso, só faz sentido as empresas deter a administração das usinas, uma vez que ativos construídos para a captação energética seriam necessariamente revertidos prá união ao final do contrato. Me pergunto se há outras matrizes envolvidas, tipo solar, térmica, etc.
Aproveito para parabenizá-lo pelo blog, mesmo sentindo na pele, PeTista que sou, suas duras e coerentes críticas.
OBS: O Nassif fará um Fórum temático próxima segunda-feira:
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/forum-brasilianasorg-discute-energia-eletrica-no-brasil
Obrigado, Adriano!
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