"Marina vai acabar
com o Bolsa-Familia e liberar o trabalho escravo; o Estado vai deixar
de ser laico e virar evangélico, com gays e ateus perseguidos nas
ruas; a Petrobras e o Pré-Sal serão privatizados e, com a economia
estagnada para preservar o meio ambiente, o Banco Central, nas mãos
do Itaú, vai mandar no governo. Ah, e vai voltar a censura".
Quem frequenta redes
sociais se depara a todo momento com afirmativas muito similares às
acima reproduzidas, marteladas por perfis petistas, sobre que virá a
ser um futuro governo Marina Silva. Um verdadeiro Festival de Besteiras que Assolam o País (FEBEAPÁ, como diria Stanislaw Ponte Preta). Seria cômico se não fosse
trágico (e uma porcentagem de eleitores nelas não acreditasse).
Na falta de
realizações...
A boataria é parte da
estratégia que adotaram para tentar vencer essas eleições:
desqualificar e difamar ao máximo a única candidatura que ameaça a
reeleição dé Dilma Rousseff, difundindo o medo. Esse jogo baixo
faz com que estejamos tendo a eleição mais suja do período
pós-ditadura.
Por que os petistas,
tão difamados no passado, quando opunham a esperança ao medo –
lembram-se?- agem desse modo?
A resposta é óbvia:
após 12 anos de PT no poder, o que têm a apresentar aos eleitores
não é suficiente para garantir a reeleição. A economia está em
recessão técnica, com o segundo menor PIB da América Latina e
percepção de inflação bem mais alta do que sugerem os índices,
além de desindustrialização e sinais generalizados de retração
da atividade econômica; a Petrobras,sabe-se agora, além de
barbeiragens a granel, vinha sendo dilapidada pela corrupção; a
violência torna-se epidêmica; a saúde alterna macas nos corredores
e falta crônica de remédios, inclusive para doenças graves. Isso
sem citar os efeitos da combinação de autoritarismo com modelo
arcaico de desenvolvimento.
Como angariar eleitores
com tal "currículo"? Resta aos petistas difamar o
adversário para subtrair-lhe votos, sem a mínima consideração com
a ética na política, na base do vale-tudo. Daí o fato de até a
presidente Dilma Rousseff negligenciar a liturgia do cargo e, tal
como uma Regina Duarte rediviva, viajar o Brasil divulgando os
horrores que, segundo ela, nos trará uma presidência Marina Silva.
Tática deliberada
Acontece que a baixaria
não é fruto apenas do voluntarismo de militantes aloprados. Segundo
reportagem desta semana da revista Época, a campanha de
ataques vem sendo coordenada a partir do Muda Mais, instituto de
Franklin Martins que, por razões óbvias, primeiro quis atuar
incógnito, depois foi obrigado pela Justiça Eleitoral a assumir-se
como órgão petista.
As redes sociais foram
privilegiadas como estratégia eleitoral justamente porque nelas a
expressão individualizada disfarça as estratégias coletivas, além
de serem menos suscetíveis aos rigores da Justiça Eleitoral (não
obstante calúnia, injúria e difamação constituírem crimes contra
a honra, convém sempre lembrar).
Os ataques, incessantes
desde o final do velório de Eduardo Campos, demoraram a surtir
efeito nos índices de votação de Marina Silva, mas, segundo a
última pesquisa Datafolha, por fim vingaram. E, assim sendo, o
marketing petista, com a sem-cerimônia que o caracteriza, já
anuncia que vai ampliá-los.
Reações
necessárias
Não se trata de mera
questão de preferência partidária, ainda que assumidamente esta
esteja também em jogo. É pelo próprio bem da democracia que a
Justiça Eleitoral deveria atuar de forma mais atenta contra os
abusos, repetitivos e disseminados de forma impune por avatares,
blogueiros “progressistas” e tuiteiros que, renunciando a
qualquer consideração ética ou preocupação quanto ao futuro de
sua imagem pública, se transformaram, no vale-tudo pela reeleição
de Dilma, em verdadeiros jagunços virtuais.
A campanha de Marina
Silva, por sua vez, deveria não só de denunciar com mais veemência
a campanha que ora sofre, mas, já que os desmentidos que a toda a
hora vê-se obrigada a publicar estão longe de obter o mesmo alcance
do ataque difamatório petista, mobilizar seus próprios
apoiadores para que - sem incorrer no baixo nível predominante - o
denuncie e refute, restaurando o primado do dito sobre o não-dito,
do fato sobre o boato, da verdade sobre a mentira.
Além disso seria
proveitoso, para a elevação do nível do debate politico. que os
cidadãos e cidadãs que condenam tais métodos, marinistas ou não,
reajam, denunciem, refutem, não deixem o difamatório e falseador
prevalecer, sobretudo ante eleitores que não têm capacidade ou
preparo para discerni-lo do que é verdadeiro.
Democracia sob
ameaça
Estamos diante de um
impasse que pode ser decisivo para o futuro da democracia e das
eleições no país. Uma vitória petista conquistada a partir do uso
de táticas de desqualificação, difamação e difusão de boatos
inverídicos, sem que tenham sequer apresentado um Programa de
Governo, representará um alvará para a baixaria, fazendo das
próximas eleições um espetáculo de ataques, mistificações e
engodo eleitoral digno da Republica Velha.
Chega de vale-tudo. Um
governo ético começa na campanha.
(Imagem retirada daqui)
2 comentários:
Adorei o texto, assim como outros sobre política publicados neste blogue. Uma ilha de sensatez num mar de asneiras que virou a internet!
Obrigado, Marc!
Um abraço,
Mauricio.
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