O
Senado acaba de aprovar, sob o pretexto de combater o terrorismo, uma
lei que, na prática, servirá para criminalizar manifestações e
protestos populares – inclusive e principalmente aqueles que vierem
a pedir o impeachment de Dilma, o que fatalmente acontecerá se a
crise, que já produziu 1.250.000 desempregados desde janeiro,
continuar no atual ritmo e se transformar em tragédia social.
Com
a precisão costumeira, o poeta e artista multimídia Andre Valiias
radiografa o absurdo: “a presidente é autora da lei que será
usada para criminalizar os manifestantes que irão às ruas contra
sua deposição”. Mais maquiavelismo do que isso, impossível. E
ainda tem gente que acredita que o PT é de esquerda...
De acordo com o projeto, que agora volta à Câmara (onde ja fora aprovado em agosto), as penas podem chegar a até 30 anos.
Estamos,
portanto, não apenas em meio a um gigantesco retrocesso econômico e
social – promovido por um governo que se elegeu vendendo um pais de
comercial de margarina e prometendo preservar empregos -, mas a um
aumento do poder repressivo do Estado contra o direito constitucional
à manifestação.
Trata-se
do maior ataque à liberdade de ação política desde a ditadura.
Caracteriza-se,
ainda, como uma reação última e tardia às Jornadas de junho, em
2013, momento traumático para o petismo, choque de realidade que
desconstruiu a narrativa de prosperidade geral e evidenciou a
insatisfação de amplos setores, notadamente os jovens.
A
derrocada do petismo no poder começa ali, ao fingir não entender o
sentido dos protestos, ao preferir propostas cosméticas, ao reprimir
brutalmente enquanto preparava o endurecimento da legislação.
Ante
o pesadelo que tem sido o segundo mandato de Dilma, muitos,
atualmente, perguntam: até quando as pessoas aguentarão? Por que o
povo ainda não promoveu protestos massivos?
A
resposta certamente passa pela memória ainda viva da brutalidade da
repressão a 2013, da violência policial desmedida, dos jovens
manifestantes que amargaram meses de cadeia.
E
inclui fatores que talvez estejam funcionando como elementos de
dispersão, nublando uma percepção mais clara da gravidade do
cenário político, tais como:
1) A premissa de que a mídia esteja contra Dilma (então como expllicar o apoio entusiasmado ao ajuste fiscal, ou a parca cobertura dos protestos de ontem contra a presidente);
2) A alegada dicotomia entre governo progressista e Congresso conservador (“como se esse não fosse o Congresso eleito pelo esquema corrupto de governabilidade montado pelo PT”, como aponta o profesor Giuseppe Cocco);3) O próprio fla-flu político, acirrado pela a atuação irresponsável de uma oposição sem propostas para o país, interessada tão somente na deposição da presidente.
Tudo
isso é agravado pela ação de uma militância em grave estado de
negação, que finge não ver o estelionato eleitoral, a repressão
incompatível com democracia, o neoliberalismo como orientador da
política econômica. Assim como passou anos tapando o nariz para a
degradação ética da política inerente a alianças antiéticas com
tipos como Maluf e Collor.,
Uma
militância que, se Aécio, Marina ou qualquer outro candidato
tivesse sido eleito e tomasse as mesmas medidas que Dilma vem tomando
desde janeiro, estaria nas ruas a exigir a deposição do presidente.
Mas
não, anestesiada, aceita passivamente a – e torna-se, portanto,
cúmplice da – criminalização das manifestações públicas. A
história há de lhes cobrar o preço pelo fanatismo cego.
(Imagem retirada daqui)
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