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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Lei "antiterrorismo" ameaça manifestações populares

O Senado acaba de aprovar, sob o pretexto de combater o terrorismo, uma lei que, na prática, servirá para criminalizar manifestações e protestos populares – inclusive e principalmente aqueles que vierem a pedir o impeachment de Dilma, o que fatalmente acontecerá se a crise, que já produziu 1.250.000 desempregados desde janeiro, continuar no atual ritmo e se transformar em tragédia social.

Com a precisão costumeira, o poeta e artista multimídia Andre Valiias radiografa o absurdo: “a presidente é autora da lei que será usada para criminalizar os manifestantes que irão às ruas contra sua deposição”. Mais maquiavelismo do que isso, impossível. E ainda tem gente que acredita que o PT é de esquerda...

De acordo com o projeto, que agora volta à Câmara (onde ja fora aprovado em agosto), as penas podem chegar a até 30 anos. 
Estamos, portanto, não apenas em meio a um gigantesco retrocesso econômico e social – promovido por um governo que se elegeu vendendo um pais de comercial de margarina e prometendo preservar empregos -, mas a um aumento do poder repressivo do Estado contra o direito constitucional à manifestação.

Trata-se do maior ataque à liberdade de ação política desde a ditadura.

Caracteriza-se, ainda, como uma reação última e tardia às Jornadas de junho, em 2013, momento traumático para o petismo, choque de realidade que desconstruiu a narrativa de prosperidade geral e evidenciou a insatisfação de amplos setores, notadamente os jovens.

A derrocada do petismo no poder começa ali, ao fingir não entender o sentido dos protestos, ao preferir propostas cosméticas, ao reprimir brutalmente enquanto preparava o endurecimento da legislação.

Ante o pesadelo que tem sido o segundo mandato de Dilma, muitos, atualmente, perguntam: até quando as pessoas aguentarão? Por que o povo ainda não promoveu protestos massivos?

A resposta certamente passa pela memória ainda viva da brutalidade da repressão a 2013, da violência policial desmedida, dos jovens manifestantes que amargaram meses de cadeia.
E inclui fatores que talvez estejam funcionando como elementos de dispersão, nublando uma percepção mais clara da gravidade do cenário político, tais como:

1) A premissa de que a mídia esteja contra Dilma (então como expllicar o apoio entusiasmado ao ajuste fiscal, ou a parca cobertura dos protestos de ontem contra a presidente); 

2) A alegada dicotomia entre governo progressista e Congresso conservador (“como se esse não fosse o Congresso eleito pelo esquema corrupto de governabilidade montado pelo PT”, como aponta o profesor Giuseppe Cocco);

3) O próprio fla-flu político, acirrado pela a atuação irresponsável de uma oposição sem propostas para o país, interessada tão somente na deposição da presidente.
Tudo isso é agravado pela ação de uma militância em grave estado de negação, que finge não ver o estelionato eleitoral, a repressão incompatível com democracia, o neoliberalismo como orientador da política econômica. Assim como passou anos tapando o nariz para a degradação ética da política inerente a alianças antiéticas com tipos como Maluf e Collor.,

Uma militância que, se Aécio, Marina ou qualquer outro candidato tivesse sido eleito e tomasse as mesmas medidas que Dilma vem tomando desde janeiro, estaria nas ruas a exigir a deposição do presidente.

Mas não, anestesiada, aceita passivamente a – e torna-se, portanto, cúmplice da –  criminalização das manifestações públicas. A história há de lhes cobrar o preço pelo fanatismo cego.


(Imagem retirada daqui)

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