
Ao contrário da versão que se tornou mais corrente (e que a Wikpiédia “compra”), a pornochanchada surge no final dos anos 60, com um pólo carioca (Reginaldo Faria, Pedro Carlos Rovai), de temáticas mais “malandras”, praianas e descompromissadas, seguido, já na década seguinte, por um pólo paulista, na “Boca do Lixo”, em que se destacam os produtores A. P. Galante, Alfredo Palácios e Osvaldo Massaini e que acabaria por incorporar, em alguns filmes, um subtexto político.

Um dado interessante das produções da Boca - feitas com orçamentos apertados e prazos bem curtos - é que, apesar de no mais das vezes não serem co-financiadas pelo Estado, elas respondem por cerca de 60% da produção nacional entre 1972 e 1982 (quando a estatal Embrafilme dominava o mercado), pagando-se na bilheteria, um luxo ao qual o grosso do cinema brasileiro atual não pode sequer sonhar.
Experimentalismo e política
Numa primeira fase, o gênero iria servir de plataforma de lançamento para diretores talentosos que iriam trilhar o caminho de um cinema mais autoral ou atuar no Cinema Marginal, com o qual a pornochanchada inicialmente às vezes se confunde. É destacadamente o caso de Carlos Reichenbach – o mais bem-sucedido estética e ideologicamente dos realizadores que dialogavam com a pornochanchada - mas também de João Callegaro (O Pornógrafo) e do porno-horror de José Mojica Marins (o "Zé do Caixão').
Com o tempo, a produção pornochanchadesca iria consagrar um elenco de realizadores identificados com o gênero , como Jean Garret (que dirigiu o "clássico" A ilha do

Gêneros e popularidade
Como anota Nuno César de Abreu no verbete “Pornochanchada” do Dicionário do Cinema Brasileiro, “Servindo-se de um erotismo implícito, combinando títulos com duplo sentido, situações e quiprocós amorosos, piadas maliciosas e gags imaginosas, a pornochanchada condensa um imaginário que chega ao público ‘popular’ de forma precisa”.
Os títulos dos filmes filiados a tal produção fornecem uma ilustração que permite entrever tal relação: Reformatório das Depravadas; Tem Bububu no bobobó; O bem-dotado, o homem de Itu; Oh! Rebuceteio; O beijo da mulher piranha; Emoções sexuais de um jegue e por aí vai.
Musas eternas
A razão de ser das pornochanchadas são suas musas, que inspirariam gerações de adolescentes espinhudo

Adele Fátima, protagonista do clássico Histórias que nossas babás não contavam (analisado aqui pela pena do mestre Luiz Antonio Simas) reinava absoluta entre as negras (a rigor, Zezé Motta nunca fez pornochanchada, embora Xica da Silva dialogue com o gênero, como a campanha de marketing do filme de Cacá Diegues evidenciava).
Quanto às loiras, havia a belíssima Monique Lafond, a arrasa-quarteirões Vera Gimenez (mãe da não menos vuluptuosa apresentadora Luciana), as classudas Kate Lyra e Maria Lúcia Dahl (última foto) e a sumida Nádia Lippi (cuja foto encima este post, pois, com seus dentinhos proeminentes e olhos verdes, era uma favorita deste blogueiro), entre tantas outras musas.
Entre os homens (argh!), eram figurinhas carimbadas Nuno Leal Maia, Reginaldo Farias, Jece Valadão (que fazia o tipo machão e, para inveja dos pobres mortais, era casado com Vera Gimenez), Toni Tornado (um raro galã negro, exceção ao racismo dominane) e David Cardoso (que era também um bem-sucedido produtor).
Respeitabilidade e decadência
Havia ainda, em meio a toda essa produção, o caso dos filmes situados numa zona limítrofe entre o drama ou a comédia erótica e a pornochanchada, mas não necessariamente rotulados como esta. É o que ocorre com da obra de Walter Hugo Khouri, repleta de influências do cinema de arte europeu dos anos 60. Ela antecede e supera a época da pornochanchada

A partir dos anos 80, uma série de razões – o advento do videocassete, a competição dom o pornô hardcore de baixo custo importado e, segundo alguns autores, até mesmo a democratização política (?!) – transformaria a pornochanchada no reino do sexo explícito. Ainda assim, alguns talentos excêntricos, como Sady Baby e Juan Bajon, e algumas “musas perversas”, como Sandra Morelli e a hiperfogosa Márcia Ferro se destacariam – mas com temáticas e abordagens não digeríveis por qualquer público.
Desatenção e culto
O preconcei

Quando, em meio a um zapping madrugadeiro, me deparo ocasionalmente com filmes da pornochanchada, não raro eles me agastam e não prendem minha atenção, mas às vezes encontro autênticas jóias de criatividade, humor e erotismo – e de uma certa espontaneidade e improvisação que andam faltando no cinema nacional atual, muito pseudo-hollywoodiano pro meu gosto.
6 comentários:
Maurício,
Infelizmente não assisti a grande maioria dos filmes nacionais que carregam o rótulo de "pornochanchada". Exeto um ou outro, lá pelo final dos anos 80 (e começo dos 90) nas madrugadas da Globo e da Bandeirantes.
Lembro da popularidade dos colegas da escola cujos pais iam dormir cedo, deixando a TV livre para o safado que descrevia o que havia assistido para os alunos interessasos.
Bem, meu pai muitas vezes pegava no sono na sala, então raramente eu conseguia assistir a tv altas horas da noite. E mesmo quando tentava era difícil minha mão não mandar eu ir dormir. Mas lembro também que quando fiquei mais grandinho acabei pegando raiva desses filmes. Que instigavam, instigavam (era assim que a gente reclamava na época) e nada! Achava até o termo pornochanchada fajuto, 3nganação, mesmo (raramente eles eram apresentados assim, mas todo mundo chamava desse jeito).
No post você conta que a fase mais "pornô", digamos assim, teve lugar a partir de 1980, certo? Pergunto porque já ouvi muito que o termo pornochancada era usado de modo pejorativo para denegrir o filme e seus autores. Bem, pelo menos aqueles que eram exibidos nas madrugas de fato eram "bobos" demais para justificar essa classificação.
Já asssiti, em sessões especiais de cinema, há alguns anos, filmes dessa fase do cinema nacional _ não cito seus respectivos títulos por entender que este é um blog família _ que realmente podiam ser classificados assim, aliás, só o termo chanchada é que não tinha muito a ver. Esses jamais passariam - e jamasi passarão _ na televisão.
É uma pena que aqui em casa não pegue a TV Brasil, seria uma boa oportunidade para conhecer melhor essa fase do cinema nacional. E agora com outros interesses.
Excelente post, Maurício! MErecia parte 2, 3, 4...=)
Só um detalhe, é Sady Baby e não Sandy Baby como você escreveu no post!
Nadia Lippi era e continua sendo MARAVILHOSA!
Adorei demais o post e a homenagem a um gênero tão subestimado.
Mas faltou um que adorei e não conhecia, mas graças ao CanalBrasil passei a adorar - Giselle
a resenha que segue aqui é fantástica. http://estranhoencontro.blogspot.com/2005/10/giselle.html
bjs
Iaiá,
Faltaram VÁRIOS, além do Giselle, cheio de referências político-ideológicas.
O Estranho Encontro é excelente. Eu ia mencionar no post e acabei esquecendo...(mas acho que tá no blogroll).
Álvaro,
Hoje em dia não temos mais uma Nádia Lippi e seus dentinhos de coelha porque as ortodontistas, em conluio com o pessoal do Photoshop, não deixam...
Tsavkko,
Vamos ver se rolam continuações... (ando meio desanimado de blogar). Sady corrigido!
Eduardo,
Esse coisa do instigar, instigar e não entregar nada é típica das pornochanchadas em sua fase áurea (havia a censura da ditadura, com dona Solange e suas tesouras caretas, convém lembrar). Tinha de ser um pirralho muito tarado para - como diria Manuel Bandeira - ter um "alumbramento" com esses filmes.
A fase de pornô explícito - incluindo parafilias com jegues, cavalos e o zoológico todo - começa, a rigor, em 1983, precedida por uns títulos avulsos.
Um abraço em todos,
Maurício.
Muito legal o texto!
Lembrança das "broas" assistindo ao Sala Especial, hehehehehe
Provos Brasil
Postar um comentário