Ele comemora seu primeiro ano de vida quando essa mesma mídia corporativa à qual a Folha pertence acaba de se juntar em um evento tão cômico quanto ameaçador. A máfia ítalo-americana costumava reunir-se em Cuba, em meio a daiquiris e praias tropicais, para tramar suas jogadas mais sujas e ousadas. A mídia brasileira, ainda mais jeca e alérgica a tudo o que seja tropical, prefere convescostes a R$500 a cabeça (não se assuste: só otários pagam, a maioria entra na faixa) em hotéis metidos a besta. Lá articula – em público, pela primeira desde 1964, como aponta o jornalista Gilberto Maringoni em artigo intitulado “O rosnar golpista do Instituto Millenium” – uma reação conjunta contra uma das candidaturas presidenciais – no caso, a de Dilma Rousseff (PT).
Isso não quer dizer, no entanto, que eles assumirão em seus veículos “jornalísticos”, de forma clara e transparente, a posição que fazem questão de ostentar através do convescote: a Folha continuará a se autodefinir como “Um jornal a serviço do Brasil”, a Veja como a principal e mais vendida publicação brasileira graças ao alegado alto nível profissional de seus colaboradores, e o/a Globo, assim como alega jamais ter deixado de cobrir as Diretas Já ou manipulado o debate entre Collor e Lula em 1989, continuará exaltando a imparcialidade inerente ao tal Padrão Globo de Qualidade. Não seria muito mais honesto se fizessem como alguns bons jornais norte-americanos e assumissem suas preferências eleitorais junto ao eleitor/telespectador? Esta é, aliás, uma das sugestões saídas do evento, mas quantos acreditam que será mesmo seguida?
No evento, ao menos dois dos palestrantes do evento – os inacreditáveis Demétrio Magnolli e Denis Rosenfied – fizeram acusações diretas ao PT relativas a seu suposto totalitarismo. Para o primeiro, que parece ignorar a revolução silenciosa que ora ocorre na internet, na difusão das pequenas e médias publicações no interior do país e nos Pontos de Cultura espalhados de forma capilar pelo território nacional, o partido “dá marcha a ré em todos os assuntos que se referem à democracia”. Já para o filósofo gaúcho, “"O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso” – o eminente masturbador mental não se preocupa em oferecer exemplos que permitam que sua afirmação peremptória soe como algo além de mero devaneio pessoal emitido por um ator político folclorizado pelo conservadorismo anacrônico de suas posições.
Não deixa de ser irônico que, como seus dois acólitos o demonstram, um dos sucessos da mídia brasileira em seu penoso estágio atual tenha sido, em conluio com o demotucanato, atribuir ao lulopetismo pendores autoritários – aos quais costumam se referir com a acusação genérica e conceitualmente imprecisa de “stalinismo”. Mas a verdade largamente comprovada por fatos históricos é que o PT nunca foi stalinista – muito pelo contrário, surgiu sindicalista e em oposição às linhagens soviéticas em confonto no interior do PCB, evoluindo, a partir dos anos 90, para uma espécie de social-democracia de resultados.
Também desconhece-se qualquer medida efetiva de cerceamento da liberdade de expressão durante a Presidência de Luís Inácio Lula da Silva. O único momento da história mais ou menos recente do pais em que houve, de fato, de forma inegável, censura institucional e sistemática – a ponto de destruir carreiras artísticas – foi durante a ditadura militar, notadamente no pós-AI-5. E quem apoiava tal regime? A maioria dos grupos de mídia presentes ao convescote – alguns inclusive com a cessão de carros para transporte de presos para a tortura - e os mesmos políticos do DEM (então Arena, depois PDS) que hoje berram ante qualquer proposta de regulação da atividade midiática. Será que não é evidente a contradição aqui, a sustentar o truque de acusar em outrem aquilo que o próprio acusador pratica?
Um dos recorrentes prolemas com o lulopetismo, em parte devido à concentração da mídia corporativa em mãos inimigas, em parte à crônica incompetência comunicacional própria, é a baixa capacidade de reação ante acusações e campanhas difamatórias. Cola-se com extrema facilidade no PT, em Lula e em membros do governo acusações que são claramente falsas. O exemplo acima é eloquente, com uma gritaria anti-autoritarismo petista ocultando, como tão bem diagnostica Luiz Egypto, a luta por manter a mídia acima da lei, livre para praticar um "jornalismo" que não atende nem à demanda pública nem à busca pela fidelidade aos fatos, mas tão-somente à satisfação de seus próprios interesses corporativos.
Assim foi também com o factóide desta semana - provavelmente o primeiro de uma escalada - , segundo o qual Lula licenciar-se-ia por 2 meses, sendo substituído durante tal período por Sarney. Desde o primeiro momento esteve clafro, para mim, tratar-se de um absurdo total, ao qual Lula, por consciência dos danos que tal ato poderia trazer a si e à sua candidata, jamais recorreria. Mas a “notícia” espalhou-se como rastilho: da coluna de O Globo para os blogs corporativos da empresa – que, numa clara orquestração, incluiu até os que cobrem segurança pública e cultura – e daí para os tuiteiros tucanos, os simpatizantes e os indecisos, todos a difundir freneticamente o que não passava de uma especulação sem valor jornalístico algum. E na sequência, como a corroborar a ideia de uma articulação conjunta, vem à tona a manchete de anos atrás requentada por Veja – que, de novo, tem feito muita gente boa cair como patinho.
Portanto, o segundo ano do blog começa com a perspectiva de uma disputa de baixíssimo nível à frente. Mas nossa intenção é de continuar, defendendo os valores que julgamos importantes - notadamente a ética no jornalismo e a prioridade ao social na política. E, quem sabe, como era a ideia inicial, inserir mais cinema, mais música e mais literatura nos posts, para a brincadeira ficar mais gostosa. Aos seguidores e seguidoras, agradeço pelo estímulo e reitero o convite ao diálogo.
(Imagem retirada daqui)
4 comentários:
Primeiro aniversário? Parabéns, cara.
Que tal uma porção de cerveja e umas coxinhas geladas???? Cê sabe onde!!!
é sempre ler-lhe nobre amigo,localizou bem a questão midiática, vamos debatendo quais as nossas alternativas.
Abraços
Arnobio
Obrigado, meus caros!
Puebla: estou estudando seriamente sua proposta, que me deixou com água na boca. Quem sabe amanhã?
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