O
fato de alguém sem conhecimento científico, sem a mínima
experiência na área, sem sequer um curso universitário, ser nomeado
ministro da Ciência e Tecnologia de uma das 10 maiores economias do
mundo seria, por si, um acontecimento espantoso.
Atualmente,
o perfil mínimo que se espera para tal cargo, em qualquer país
decente, é ou o de um gestor científico com décadas de experiência
ou o de um acadêmico responsável por pesquisas de monta, em ambos
os casos com titulação mínima de doutor. Afinal, ele será a mais alta autoridade a lidar diretamente tanto com desenvolvimento tecnológico quanto com pesquisa - fora e, em parceria com o MEC, dentro da academia, em níveis diversos, inclusive de ponta.
Na contramão do mundo
Mas
o Brasil, após 12 anos sob administração petista, tornou-se um
país em que, ao contrário do que acontece no resto do mundo, quanto
mais qualificada a pessoa, mais risco ela corre de não conseguir
emprego.
Cresce
de forma exponencial, ano após ano, o número de doutores
desempregados – gente que dedicou mais de uma década ao estudo e à
pesquisa, fez graduação, mestrado e doutorado, para, ao final, já
não tão jovem, subsistir em subempregos ou viver o drama do
desemprego.
Uma comparação
O
caso-síntese desse estado de coisas veio a público em um dos
debates eleitorais (na Globo), em que a então candidata Dilma,
respondendo pergunta de uma economista de meia idade, com doutorado,
desempregada, recomendou-lhe que “se reciclasse” fazendo um curso
técnico no Pronatec, menina dos olhos da mandatária. Algo como
sugerir a um graduado em Engenharia da Computação que aprenda
conserto de computador por correspondência.
Aldo
Rebelo (PC do B/AL) não sabe consertar computador, não tem curso técnico no
Pronatec, graduação, mestrado e muito menos doutorado. Sequer
currículo Lattes, item mandatório para quem lida com ciência, ele tem. A formação dele é muito pior do que a
da economista desempregada alvo da resposta desdenhosa de Dilma. Mas,
como recompensa a tanto despreparo, a presidente decidiu nomeá-lo
ministro da Ciência e Tecnologia.
Palavras ao vento
Pois,
à revelia do que Aldo fará em relação a Ciência e Tecnologia,
Dilma, cuja alegada prioridade à educação raramente transcende o mero discurso para além do ensino técnico, sabe que pode contar com a fidelidade canina do assessor.
Afinal, ele também não entendia nada de Esporte e foi ministro da
pasta.
O
“novo” ministro, um nacionalista autoritário, é tão ignorante em relação à área sob sua
responsabilidade que “faz parte do grupo de pessoas que nega o
aquecimento global, um debate que já não faz mais parte da ciência.
Comprovadamente, o aquecimento está sim acontecendo, como mostram
10.883 dos 10.885 artigos revisados por pares em climatologia em
2013” - aponta Tulio Baars, em artigo demolidor no Brasil Post.
Contra a ciência
Fica
ainda pior: Aldo demonstra desconhecer a própria metodologia
científica ao considerar o materialismo diáletico, método forjado
por Marx a partir de bases hegelianas, uma “ciência da natureza”
- algo que a própria crítica marxista de ponta há tempos revisou.
Isso
justifica o temor, ora difundido no universo acadêmico-científico,
de que ele venha a sobrepor ideologia à ciência. Sua relação com seu colega da Educação, Cid Gomes (PMDB/CE), ex-governador que vivia às turras com os professores, é também motivo de constrangimento e preocupação. Abaixo-assinados
com milhares de assinaturas vêm circulando em tais ambientes e devem
ser remetidos à Presidência.
Dupla dinâmica
Os receios se justificam. Há fortes indícios de que a principal função
de Aldo, no novo cargo, será repetir a tabelinha que, em 2011, fez
com a “Miss Desmatamento” Kátia Abreu (PMDB/TO) – agora sua colega da
Agricultura. Na época, os dois atuaram intensamente em prol da
votação do projeto de reforma do Código Florestal, a qual visava
permitir o cultivo em Áreas de Preservação Permanente, diminuir a
conservação da flora nas margens dos rios e isentar de multas os
agricultores desmatadores.
Ou
seja, ele deve funcionar como uma especie de cão de guarda junto à
comunidade científica. Por um lado, concentrando esforços no
sentido de estimular a produção de material de sustentação
teórico-metodológica ao modelo predatório de desenvolvimento tão
ao gosto de Dilma. E, por outro, retendo financiamentos e boicotando
a realização ou a difusão de pesquisas que deixem claros e
quantifiquem os danos ambientais inerentes a tal modelo.
O país relegado
Sua
nomeação ao ministério da Ciência e da Tecnologia é um escárnio.
Causa indignação, mas não surpresa, pois revela o retrato acabado de
um governo que recusa sistematicamente o diálogo, e que não
demonstra o mínimo pudor em sacrificar mérito, experiência e
qualificação em prol da imposição acrítica e totalitária de
seus objetivos. Os quais, como o caso Petrobras ilustra de forma clara,
estão longe de coincidirem com o que seria melhor para o país.
(Foto de Dida Sampaio/AE, retirada daqui)