Neste
momento, a lama tóxica do rompimento da barragem da Samarco arrasa
com a vida de seres humanos, animais, rios e ecossistemas, em dois
estados.
A
empresa - cuja primeira atitude foi convocar jornalistas e advogados,
para depois chamar o socorro - vai alegar inocência e culpar a
natureza, contando para isso com a cumplicidade dos governantes
(temerosos de perderem doações eleitorais e recursos milionários)
e da mídia (cuja cobertura apelativa, sentimental, oculta as razões
comerciais de seu desinteresse investigativo). Uma estratégia de
encobertamento, dissimulação e vitimação que Vinicius Duarte
disseca com agudeza.
Mas
tal reação não oculta o fato de que se o ambientalismo fosse
respeitado no país, o desastre simplesmente não teria acontecido.
Pois uma barragem operava no limite, e outra a 10% deste. É a visão
de que licenças ambientais são frescura, uma mera burocracia
a ser "desenrolada" com a máxima rapidez, que leva a
desastres como o de Mariana, evitáveis se um laudo sério
orientasse o licenciamento – obtido, no caso em questão, sabe-se
lá como.
Porém,
infelizmente, primeiro o conservadorismo tornou a ecologia um tema de
chatos, e depois o petismo - Dilma à frente - o tratou como um
empecilho mesquinho a atrapalhar o progresso. O resultado aí está.
Esta
é uma tragédia com múltiplos autores: Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) tem a culpa pela privatização irresponsável da Vale; Aécio
(PSDB) pela forma leviana como seu governo concedeu licenças
ambientais; Fernando PImentel (PT), o atual governador, por continuar
emitindo licenças descriteriosas e por assumir a defesa da Samarco
antes de qualquer investigação; e Dilma (PT) porque foi omissa em
enviar ajuda, mesmo porque preferiu usar recursos para constituir uma
Força Nacional para espancar jovens que exercem seu direito
constitucional à manifestação pública, em vez de constituir e
enviar forças para socorrer grandes desastres.
Não
há, portanto, inocentes nessa história: ela confirma, uma vez mais,
que PSDB e PT são farinha do mesmo saco.
Talvez
a maior lição do desastre de Mariana, a bottomline, seja que o
Estado sucumbiu de vez à inciativa privada, que a privatização
criou - e as relações incestuosas com políticos dos mais diversos
partidos deram um poder descomunal a - megaempresas capazes de coagir
governos e mídia. Esta ainda disfarça, com uma cobertura de apelo
sentimental, mas no fundo pouco interessada em questionar a razão do
choro dos afetados, o que demandaria investigação séria sobre as
culpas e responsabilidades pela tragédia.
Já
a indistinção entre interesses públicos e privados é ainda mais
patente. Torna-se cristalina na inacreditável atuação de Fernando
Pimentel em defesa da Samarco, um governador que tem o desplante de
se dirigir ao público, em pronunciamento oficial, de dentro da sede
da empresa - onde fica localizado, aliás, longe da vista da
população e da imprensa, o Centro de Operação e Buscas.
O
certo é que a lama tóxica de Mariana, que ora se alastra pelo
Espírito Santo, é, muito provavelmente, o primeiro dos grandes
desastres que a fúria desenvolvimentista e o desleixo para com a
regulamentação ambiental legarão ao país.
E
que tendem a se repetir enquanto a ecologia e o ambientalismo forem
considerados excentricidades e empecilhos, e não a única garantia
de desenvolvimento sustentável, de continuidade da vida de pessoas,
animais, rios e ecossistemas.
(Imagem
retirada daqui)
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