A
história do cinema brasileiro, feita de “mortes súbitas e
renascimentos precários”, como define Roberto Moura, ainda
apresenta zonas obscuras, períodos e tendências pouco conhecidos
fora dos escaninhos da academia ou da cinefilia militante.
A produção
concentrada entre o final dos anos 20 e dos anos 40, em que a ousadia estético-narrativa de Limite convive com as primeiras
tentativas de industrialismo, talvez seja um dos exemplos mais
eloquentes.
É
exatamente sobre tal período que se concentram os três volumes da
Coleção Cinema Brasileiro – Clássico ▪ Industrial, organizada
pela professora e pesquisadora Daniela Gillone.
Lançado
esta semana, o primeiro volume tem como tema o cinema de Humberto
Mauro (foto abaixo), prospectando o veio temático que Paulo Emílio Salles
Gomes pesquisara com alento e primor há mais de 40 anos, no livro
clássico Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte (São Paulo:
Perspectiva, 1974).
Olhares diversos
Prioriza-se
a análise de sua produção nos anos 30 e 40 ( quando protagoniza a
aventura industrial da Cinédia), mas sem deixar de levar em conta o
ciclo de Cataguases (1925-29) e sua atuação como
"cineasta-educador" no INCE (Instituto Nacional de Cinema
Educativo), uma trajetória em "que se destaca pelos
compromissos estéticos, políticos e sociais", como assinala a
organizadora.
Sheila
Schwarzman, que há uma década renovou os estudos sobre o cineasta,
perfaz um corte transverso na produção mauriana, com maior foco na
fase do INCE (onde Mauro atuou de 1936 a 1964), período que também
é privilegiado na análise de Caio Lamas. Joelma Ferreira dos Santos
inventaria representações de brasilidade na fase sonora da produção
mauriana, enquanto a minha contribuição ao volume examina a relação
entre narratividade e representação no filme Lábios Sem Beijos
(1930, foto abaixo). Já Marcelo Miranda interroga as linhas gerais da volumosa
produção crítica sobre Mauro assinada por Ronaldo Werneck, cujo
texto sobre cartazes dos filmes encerra o tomo.
Acessibilidade
Com
um projeto gráfico a um tempo sóbrio e refinado, o primeiro volme,
com a versão integral dos textos em PDF, pode ser baixado
gratuitamente no site da coleção.
O trabalho tem o mérito adicional de não se prender ao convencionalismo acadêmico: escritos por pesquisadores e críticos de cinema, os ensaios são mais curtos que o padrão burocrático que se tornou norma para papers, e refletem sobre os aspectos históricos, políticos e estéticos do cinema mauriano sem verborragia ou artificialismo teórico.
O trabalho tem o mérito adicional de não se prender ao convencionalismo acadêmico: escritos por pesquisadores e críticos de cinema, os ensaios são mais curtos que o padrão burocrático que se tornou norma para papers, e refletem sobre os aspectos históricos, políticos e estéticos do cinema mauriano sem verborragia ou artificialismo teórico.
Graças
ao trabalho da Fundação Dorina Nowill para Cegos, o primeiro tomo
está disponível para deficientes visuais e pessoas com baixa
visão através da tecnoogia DDReader, e a coleção será lançada
também em DVD, que pode ser encomendado por bibliotecas e
associações.
Os
demais volumes serão dedicados, respectivamente, ao citado
Limite, obra seminal do cinema autoral dirigida em 1929
por Mario Peixoto, e à era dos estúdios.
Vale a pena esperar.
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