Um oásis no deserto de idéias e de fórmulas que se repetem à exaustão do cinema americano atual, a produção independente O Casamento de Raquel (Rachel Getting Married, 2008) surpreende pelo modo despojado e desprovido de grandes artifícios com que retrata dois dias na vida de uma ex-drogada que, internada para tratamento por ordem judicial, volta à casa da família para o casamento da irmã (Rosemarie DeWitt, em primeiro plano na foto). A despeito do orçamento pequeno e do tema presumivelmente pesado, o filme alcança um resultado notável, combinando, numa narrativa fluente e inventiva, leveza, humor e intensidade dramática.
Quem conhece a atriz Anne Hathaway só pelas comédias românticas hollywoodianas vai se surpreender. A protagonista de O diabo veste Prada dá um show na pele de Kym, a ex-junkie que tem de enfrentar, a um tempo, os conflitos e rancores familiares, a inveja da irmã certinha que realiza o casamento dos sonhos (e a culpa por alimentar tal sentimento), além das consequências de seu vício, que vão de uma insegurança e inadaptabilidade social crônicas à necessidade de cumprir excruciantes exigências legais – como exames de sangue periódicos e frequência às reuniões de ex-drogados - para provar que está "limpa". Como são pouquíssimas as cenas catárticas e a trama se desenrola de forma intimista, no mais das vezes sob o convencionalismo de um ambiente familiar, a performance da atriz, econômica nos gestos, é fortemente concentrada na expressão facial – mormente nos olhos - e na transmissão de uma energia corporal ansiosa e reprimida.
A produção investiu o parco orçamento em locações tão marcantes quanto versáteis, valorizadas por uma câmera que “segue” e se reveza, “livre”, entre as personagens, um tanto à maneira do Woody Allen de Maridos e Esposas (Husbands and Wives, 1992), mas mais relaxada. Sem as facilidades proporcionadas pelos grandes orçamentos aos quais está habituado, o talento do diretor Jonathan Demme (Filadélfia; O silêncio dos Inocentes) se evidencia ainda mais, particularmente no senso de timing para conduzir a trama. na decupagem inventiva e, sobretudo, na performance de alto nível que arranca do elenco de intérpretes desconhecidos mas afiados, cuja coesão torna ainda mais evidente o grande diretor de atores que revelou ser desde o início de sua carreira.
Há, ainda, detalhes saborosíssimos ora no subtexto ora no segundo plano, proporcionados pela ironia sutil na observação dos esforços das duas famílias para dissimular qualquer indício de constrangimento por se tratar de um casamento interracial, por pitadinhas de humor através de personagens secundários, alguns deles hilários - como o DJ japonês maluquete -, e pela irrupção, na garden party do casamento, de uma autêntica – você leu autêntica - batucada brasileira para, como diria Benjor, a-a-a-a-a animar a festa.
O Casamento de Raquel é um daqueles filmes aparentemente simples mas que se revelam ricos em detalhes e situações, fazendo o espectador sair do cinema e, de quando em quando, retomar a trama em sua cabeça. Um filmaço!
Quem conhece a atriz Anne Hathaway só pelas comédias românticas hollywoodianas vai se surpreender. A protagonista de O diabo veste Prada dá um show na pele de Kym, a ex-junkie que tem de enfrentar, a um tempo, os conflitos e rancores familiares, a inveja da irmã certinha que realiza o casamento dos sonhos (e a culpa por alimentar tal sentimento), além das consequências de seu vício, que vão de uma insegurança e inadaptabilidade social crônicas à necessidade de cumprir excruciantes exigências legais – como exames de sangue periódicos e frequência às reuniões de ex-drogados - para provar que está "limpa". Como são pouquíssimas as cenas catárticas e a trama se desenrola de forma intimista, no mais das vezes sob o convencionalismo de um ambiente familiar, a performance da atriz, econômica nos gestos, é fortemente concentrada na expressão facial – mormente nos olhos - e na transmissão de uma energia corporal ansiosa e reprimida.
A produção investiu o parco orçamento em locações tão marcantes quanto versáteis, valorizadas por uma câmera que “segue” e se reveza, “livre”, entre as personagens, um tanto à maneira do Woody Allen de Maridos e Esposas (Husbands and Wives, 1992), mas mais relaxada. Sem as facilidades proporcionadas pelos grandes orçamentos aos quais está habituado, o talento do diretor Jonathan Demme (Filadélfia; O silêncio dos Inocentes) se evidencia ainda mais, particularmente no senso de timing para conduzir a trama. na decupagem inventiva e, sobretudo, na performance de alto nível que arranca do elenco de intérpretes desconhecidos mas afiados, cuja coesão torna ainda mais evidente o grande diretor de atores que revelou ser desde o início de sua carreira.
Há, ainda, detalhes saborosíssimos ora no subtexto ora no segundo plano, proporcionados pela ironia sutil na observação dos esforços das duas famílias para dissimular qualquer indício de constrangimento por se tratar de um casamento interracial, por pitadinhas de humor através de personagens secundários, alguns deles hilários - como o DJ japonês maluquete -, e pela irrupção, na garden party do casamento, de uma autêntica – você leu autêntica - batucada brasileira para, como diria Benjor, a-a-a-a-a animar a festa.
O Casamento de Raquel é um daqueles filmes aparentemente simples mas que se revelam ricos em detalhes e situações, fazendo o espectador sair do cinema e, de quando em quando, retomar a trama em sua cabeça. Um filmaço!
Um comentário:
parece ser legal.
Valeu a dica!
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