A adoção, pela
então recém-reeleita Dilma Roussseff, de uma política econômica
neoliberal, comandada por Joaquim Levy - pupilo do player
tucano Armínio Fraga -, consumou um estelionato eleitoral confirmado
por medidas como revogação de direitos sociais, empecilhos para
obtenção do Seguro-Desemprego, cortes vultosos mesmo em áreas
sociais e a nomeação, na cota pessoal da presidente, da ruralista Kátia Abreu à Agricultura.
Estelionato eleitoral
é, por definição, uma forma de golpismo, pois viola o contrato social estabelecido, durante a campanha eleitoral, entre candidata e os que
nela votaram. Numa democracia de fato avançada, a atuação
pró-ativa de tribunais eleitorais e os pesos e contrapesos do
próprio sistema político coibiriam ou rechaçariam tal prática.
Não é o caso do Brasil: aqui golpistas são os opositores...
Tudo
pelo poder
Passados oito meses,
com a crise econômica instalada, a aprovação do governo lá
embaixo e e a presidente em atroz isolamento, perdendo todas no Congresso, Dilma
volta à carga. No intuito de manter-se na Presidência com alguma
governabilidade – ainda que residual e manietada -, negocia
direitos sociais e de exploração das riquezas do país com o
conservadorismo, através de um programa que atende pela
marca-fantasia marqueteira de Agenda Brasil.
Tanto o espaço maior e
editoralmente simpático que Dilma de repente passou a desfrutar na
mídia corporativa quanto a ilusão de sobrevida política que lhe
foi recém-concedida encontram sua explicação em seu
comprometimento pela adoção de tal pacote.
O
pacote da insensatez
Trata-se de um conjunto
de 28 medidas que, em sua quase totalidade, propõe verdadeiros
atentados sociais, os quais a direita sempre sonhou em implementar no
Brasil, mas nunca teve a mínima condição real de fazê-lo, nem com
Collor, nem com FHC. Sobretudo porque, naquela época, tanto o
petismo quanto os sindicatos e movimentos sociais que hoje orbitam em
torno do governo, em pelega vassalagem, seriam os primeiros a
denunciar e a promover a mobilização, em solidariedade aos setores mais
economicamente carentes da sociedade.
O pacote se orienta por três objetivos principais: 1) Barateamento e desregulamentação do uso da mão-de-obra; 1) Exploração de terras e áreas protegidas sem entraves ambientais ou burocráticos; 3) Aumento sunstancial da privatização, venda e concessão de terras, bens e contrato para obras como forma de aumentar a arrecadação.
O pacote se orienta por três objetivos principais: 1) Barateamento e desregulamentação do uso da mão-de-obra; 1) Exploração de terras e áreas protegidas sem entraves ambientais ou burocráticos; 3) Aumento sunstancial da privatização, venda e concessão de terras, bens e contrato para obras como forma de aumentar a arrecadação.
Entre os mais
escabrosos itens do programa, destacam-se: aumentar ainda mais a idade mínima
para aposentadoria; regulamentar a terceirização (ou seja, promover, na prática, a
precarização definitiva do trabalho); remarcar terras indígenas
(tradução: cedê-las ao agronegócio como etapa final do
genocídio); acelerar procedimentos para concessão de licenças
ambientais (= tratorar geral); desvincular o gasto público do Orçamento,
flexibilizando-o (para a malta se fartar com dinheiro público
enquanto a patuleia sofre pra bancar o ajuste fiscal);
liberar obras em cidades históricas ou em patrimônio tombado;
proibir liminares judiciais que obriguem tratamento médico oneroso
(fazendo a festa dos planos de saúde, muitos dos quais hoje só fazem
exames e tratamentos caros após determinação judicial).
Efeitos
duradouros
Se o estelionato
eleitoral é um golpe, a Agenda Brasil é o golpe dentro do golpe.
Assim, está para o governo Dilma assim como o AI-5 esteve para a ditadura,
guardadas as devidas proporções de estarmos em uma democracia,
ainda que relativa. Se aquele ato reprimiu e
tornou clandestina a luta políica, este mina os direitos
trabalhistas e organização sindical de base, condenando dezenas de
milhões de trabalhadores à terceirização e à precarização, além de atentar contra direitos previdenciários em um momento de
crescimento exponencial do desemprego e do subemprego.
Se aquele significou, para muitos opositores,
exílio, tortura e morte, este tem, para os povos indígenas, o
sentido de desterro e aniquilação definitiva.
Se aquele ato
sacramentou a linha dura militar no poder, este corrobora a entrega
do poder de facto aos setores mais fisiológicos e conservadores da
aliança outrora capitaneada pelo PT, com o encargo de impementarem
medidas que são o exato opsto das prometidas or dilma em campanha,
e ainda mais retgrógradas e socialmente nicivas do que as que a
então candidata jurava que seus opositores implementariam.
Herança maldita
E assim,
ainda, à semelhança do ato do 13 de dezembro, os efeitos deletérios
da Agenda Brasil, se implementada, tendem a perdurar por um longo
período, afetando duramente os setores mais
precarizados da sociedade e gerando consequências catastróficas para o meio ambiente, para o patrimônio histórico, para as relações trabalhistas e para a própria democracia. Como aponta a jornalista Denise Queirpz, do Tecedora, o Afenda Brasil tem o potencial de cataclisma para várias gerações.
Não há, evidentemente, nesse
pacote-rendição final nada de esquerda ou de progressista ou de
benéfico à maioria da população. Pelo contrário: chegam a chocar
o elitismo, a insensibilidade social e o descompromisso ético dessas
medidas com que Dilma trafica o sofrimento do povo brasileiro em
troca da ilusão de mais alguns meses de poder.
A
claque lobotomizada
Se fosse Marina, Aécio
ou qualquer outro mandatário não-petista que simplesmente simulasse
efetivar tais medidas, os que hoje atuam como hordas fanáticas de
sustentação do petismo estariam protestando histericamente,
promovendo os ataques desqualificadores tão ao seu gosto, convocando
o povo às ruas. Mas ora preferem o silêncio conivente ou o aplauso
entusiasmado.
Assim, em termos de
incredulidade e estupefação, o anúncio das medidas da Agenda
Brasil talvez só seja superado pelo fato de que está sendo
aplaudido pela turminha de sempre, com a mentira esfarrapada e ora
mais do que nunca insustentável de que estão apoiando um governo
popular. A historia há de lhes cobrar o preço de sua autoilusão,
cooptação - voluntária ou remunerada - e traição aos princípios
da verdadeira esquerda.
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