Dia histórico para a
humanidade e para a luta pelos Direitos Humanos: os EUA abolem
qualquer restrição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Não foi uma decisão
do Executivo, comandado por Obama, como muitos vêm divulgando, e sim
da Suprema Corte, que, ao utilizar a 14ª emenda da Constituição
para proibir que qualquer estado restrinja o direito à união civil,
acabou por legalizar, na prática, o "casamento gay".
Trata-se de um direito
tão básico - o de compartilhar o corpo, o afeto e a vida com o
parceiro ou a parceira que for de nossa escolha - que sua
consagração talvez nem devesse causar tal celeuma, não fosse
inédito e se desse em contraposição ao acentuado conservadorismo
das últimas quatro décadas. Um período em que, ao contrário do
que fora previsto, a imbricação entre religião e política
institucional recrudesceu-se intensamente.
Retrocesso
Cresci ouvindo que o
Brasil era um país liberal, tolerante, afável. Os EUA, ao
contrário, com sua combinação de herança protestante e
capitalismo selvagem, seriam o locus da intolerância, do repressivo,
do conservadorismo.
Mas, hoje, enquanto os
EUA suportam legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o
direito de fumar uma erva cujos efeitos colaterais são mínimos, se
comparados ao do legalizado álcool, os brasileiros vivem sob a
tutela da intrusão do poder religioso na política, com a aliança
entre um partido que se diz de esquerda e uma bancada religiosa
impedindo todo e qualquer avanço na biopolítica do país.
Em decorrência,
enquanto a maconha continua a ser tratada como questão policial, na
contramão do mundo e numa prorrogação despropositada da fracassada
“guerra às drogas”, os gays brasileiros, além de sofrerem toda
sorte de discriminação - da ofensa ao espancamento, do boicote no
emprego ao assassinato – continuam a ser tratados pelo Estado como
cidadãos e cidadãs de segunda categoria.
O espelho distorcido
Imitar os EUA tem sido,
há tempos, uma quase obsessão nacional: talk shows, gírias,
vestuário, gadgets e geringonças eletrônicas, tendências
profissionais e acadêmicas, enfim,quase tudo que compõe o american
way of life é copiado e reproduzido – e de um modo cada vez menos
fiel à antropofagia oswaldiana.
Talvez seja hora de nos
inspirarmos, e importarmos, adaptando ao contexto brasileiro, a
prioridade efetiva à educação, as bibliotecas abarrotadas de
livros e DVDs, o respeito às faixas de pedestre e, no que nos
interessa particularmente no âmbito deste texto, políticas de
gênero e de drogas compatíveis com uma democracia contemporânea,
com o século XXI e com o futuro.
(Imagem de Ian McKellen e Derek Jacobi retirada daqui)
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