A
possibilidade de um petista ser eleito para a presidência da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos
Deputados foi, em um primeiro momento, saudada nas redes sociais, até
mesmo pela oposição à esquerda. Isso se deu pela nomeação
supostamente significar a retomada da comissão para o campo
progressista, após um mandato sob o comando do pastor Marco
Feliciano (PSC/SP), que fez dela palco para o proselitismo religioso,
o ataque contra gays e minorias e o retrocesso na pauta dos Direitos
Humanos.
No
entanto, o alívio pela eleição de Assis do Couto (PT/PR) logo
cedeu lugar a frustração e raiva, à medida que se evidenciava o
perfil do deputado: um especialista em agricultura familiar,
conservador, contrário ao aborto e sem conhecimento ou experiência
mínima no campo dos Direitos Humanos.
Baixa
política
Sua
nomeação é fruto direto do desleixo e do descaso petista para com
os DHs: Couto já estava assegurado para a presidência da Comissão
de Agricultura, a preferida do PT, disposto a abrir mão, uma vez
mais, da Comissão de Direitos Humanos. Porém a forte reação
contrária nas redes sociais e entre setores da militância,
inconformados ante a possibilidade de que os DHs permanecessem mais
um mandato nas mãos do conservadorismo religioso, obrigou o partido
a recuar.
Esse
recuo, no entanto, foi meramente cosmético. Sem renegociar, sem
sequer empenhar-se em nomear um quadro com histórico de lutas pelos
DHs - os nomes mais cotados eram os de Nilmário Miranda (MG) e Erika
Kokay (DF) –, o PT, uma vez mais, privilegiou a pequena política e
seus obscuros acordos paroquiais, em detrimento de uma ação
republicana, consistente e socialmente responsável.
Prêmio
de consolação
Ao
encarar a presidência da CDHM como um "prêmio de consolação",
uma troca desvantajosa imposta pela forte reação contrária, o
partido deu vazão a um comportamento que sequer dissimula sua má
vontade e seu caráter pirracento, pouco consequente.
Em
decorrência, ao optar por preterir quadros reconhecidamente capazes
no campo dos DHs e nomear um agricultor familiar, inexperiente no
tema e ligado à "Frente Mista Em Defesa da Vida – Contra o
Aborto" (que reúne evangélicos e católicos, como ele), o
partido se omite e, uma vez mais, deixa explícita a pouca
importância que atribui aos Direitos Humanos.
Os
DHs sob ataque
Tal
omissão é particularmente grave neste momento histórico do país,
em que os índios são vítimas de um novo genocídio, em nome de um
modelo arcaico de desenvolvimento e sob o silêncio cúmplice da
mídia.
Em
que gays são rotineiramente agredidos e assassinados, seja no Baixo
Augusta ou nos arrabaldes de cidadezinhas perdidas no tempo.
Em
que, a despeito do esforço civilizante e da Lei Maria da Penha, a
violência contra as mulheres se mantém em níveis endêmicos.
Em
que cresce impunemente a ação de linchadores contra pequenos
delinquentes, amarrados a postes como figuras de Debret, numa
reatualização muito além de iconográfica do legado da escravidão.
Em
que à violência policial como repressão periférica soma-se – e
se torna rotineira - a brutalidade da PM contra os que exercem o
direito constitucional à manifestação pública.
Truculência
recorrente
Não
que chegue a causar estranhamento essa postura do petismo. A falta de
dialogo com o sindicalismo, com as organizações públicas e com a
sociedade em geral é um traço distintivo desses três anos e pouco
de governo Dilma. Renato Janine Ribeiro relata a estupefação de um
grupo de grandes empresários com o imperscrutável comportamento
presidencial: -"Ela não ouve. Nem fala".
Ainda
mais explícitos em seus intentos autoritários são o endosso do
governo a uma legislação draconiana de combate ao terrorismo –
AI-13? -, supérflua ante o Código Penal e desautorizada por
juristas de gabarito e democratas de juízo; a aposta de Cardozo na
repressão e a facilidade com que oferece a Força Nacional para
reprimir os "vândalos baderneiros"; e, entre outras tantas
manifestações de truculência antidemocrática, o entusiasmo de
Fernando Haddad ante a "Tropa Ninja" da PM paulista, que
ajudou a brutalizar as últimas e até então pacíficas
manifestações em São Paulo.
E
sendo que tudo se dá num contexto no qual o Ministério dos Direitos
Humanos, sob a complacente Maria do Rosário, mantém os olhos
cerrados para toda a violência oficial, fingindo ser um órgão
destinado tão somente a defender cidadãos fardados.
Pingos
nos is
A
eleição de Assis do Couto insere-se, portanto, em um contexto
maior, a partir do qual sua intencionalidade se explica (mas não se
justifica). Ela vem fornecer mais um exemplo cabal do quanto o PT
negligencia os Direitos Humanos.
Tornou-se
corrente, entre as hostes governistas, atribuir tal percepção
negativa ora à má vontade da mídia, ora a uma alegada falha de
comunicação do próprio governo. Mas claramente não é este o caso
no que concerne à atuação do partido no episódio, fruto de uma
política deliberada, um cala-boca improvisado e desdenhoso contra a
gritaria dos que ousaram protestar.
Tudo
somado, a nomeação, pelo PT, de Assis Couto para a CDHM deve ser
entendida como o que é: um acinte e um deboche.
(Cartum de Latuff retirado daqui)
Um comentário:
Triste PT.
Lula foi inocente ao negligenciar as nomeações para a PGR e para o STF ou agiu de forma intencional?
A indicação de Dilma foi um desastre anunciado ou tática de subserviência ao capital?
Infelizmente, Maurício, seu texto expõe a nu a verdadeira face trabalhista, aliada do capital e mais nada.
Abraços!
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