Em São Paulo, no entanto, há tempos ele não vale mais. Aqui, se um manifestante levantar uma faixa durante um discurso de prefeito leva uma gravata de seus seguranças; se um bando de estudantes resolver gritar palavras de ordem contra o aumento na passagem de ônibus, toma tiro de bala de borracha da PM.
Uma das grandes conquistas do demotucanato bandeirante – ao lado do transporte público de primeiro mundo, dos altos salários dos professores e delegados, dos rios sempre desassoreados e das ruas que não alagam – é, justamente o que muitos paulistas, orgulhosos, chamam de “vitória da ordem contra a baderna”.
Agindo com pulso firme, o ex-governador Serra conseguiu, acreditem, igualar um feito do bravo coronel Erasmo Dias em plena ditadura, quando este invadiu a PUC. O ex-candidato presidencial fez melhor: mandou às favas os escrúpulos e ordenou que sua mansa polícia invadisse a USP, violando, eis que enfim, o outrora sacrossanto espaço de uma universidade pública, cuja utilização foi deturpada por uma juventude que vive a gazetear, a cheirar maconha e a fumar cocaína.
Como sempre, houve quem chiasse, uns defensores de direitos humanos para bandidos, falando em truculência e abuso policial. Porém, como demonstrou um brilhante jornalista, em esforço de reportagem, o que os manifestantes praticaram na USP foi, na verdade, mais do que agressão: terrorismo. Observem os flagrantes das fotos dos guerrilheiros e o texto imparcial do escriba e confiram vocês mesmos, caros leitores.
Mídia imparcial
Pois o tal pessoal do contra acha que uma das principais funções sociais da mídia seria justamente registrar e difundir o que chamam, afetadamente, de “violações e agressões contra a cidadania perpetradas por forças do estado”. Felizmente, o que temos visto em São Paulo é o oposto disso: quando não simplesmente deixa de publicar essas arruaças inconsequentes, nossa briosa imprensa, sempre ao lado dos mais fracos, exagera na indulgência e noticia a ação das forças da ordem contra os provocadores e desordeiros com palavras “neutras” ou que sugerem reciprocidade, tais como “confusão”, “conflito”, "tumulto", “confronto”.
O modo comedido como a imprensa aborda tais temas, recusando-se a demonizar a esquerda e as manifestações populares, embora não de todo fiel à verdade, tem uma razão de ser. Reflete o seu cuidado para com os jovens leitores que, graças à melhoria constante do jornalismo ético que pratica, conquistou.
Pois o governo tucano, através de seu impoluto secretário Paulo Renato, ciente da preciosa fonte de informação confiável que é a nossa imprensa – e com a certeza de que R$250 milhões jamais alterariam sua criteriosa linha editorial - generosa e desprendidamente contratou milhares de assinaturas de nossos mais destacados periódicos para melhorar ainda mais – se é que isso é possível - o nível de ensino nos colégios estaduais.
Assim, em plena liberdade democrática e com a aliança entre estadistas no poder, imprensa ética e povo esclarecido, construiremos, em São Paulo, a civilização do futuro.
(Foto retirada daqui)
3 comentários:
Tivesse lido isso ontem entrava no post de comentários sobre Sampa em seu aniversário!=)
Vai bem de encontro com o que disse o Sakamoto e o Hugo, por aqui as coisas parecem funcionar em uma lógica própria, que não respeita nada nem ninguém.
http://tsavkko.blogspot.com/2011/01/o-aniversario-de-475-anos-da-cidade-de.html
Conferi um dos links e encontrei o termo "petralha", de conhecimento recente: não acreditei quando, em uma roda de conversa, ouvi o disparate de tudo. Mas os eleitores de Serra têm uma estranha particularidade: seu discurso é fechado, pronto, como uma muralha, aqueles que discordam não conseguem sequer abrir a boca, mesmo porque tudo é dito em alto e bom som. Nada mais democrático.
Olá, Maurício!
O mais impressionante é que a truculência policial e a imprensa trabalham juntas com o governo (municipal e estadual) para impedir que movimentos reivindicatórios cresçam e ganhem repercussão, contagiando o restante da sociedade. É um jogo muito bem orquestrado entre as esferas de poder , com juiz comprado. Neste jogo o interesse público perde sempre.
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