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terça-feira, 19 de maio de 2009

Lula, o pusilânime, e a CPI

Se danos comerciais e de imagem vierem a afetar a Petrobrás por conta da CPI destinada a investigá-la a conta deve ser debitada não apenas ao desespero e à índole antibrasil que caracteriza o conluio PSDB/DEM, mas à pusilanimidade e à leniência do presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Está mais do que provado que o modo lulista de fazer política inclui não apenas uma visão por demais elástica dos limites da realpolitik, a ponto de incluir alianças com figuras como Romero Jucá, José Sarney e até mesmo Fernando Collor de Mello, mas também, o que é mais grave, a inapetência para cobrar dos membros de tais alianças o apoio que lhe devem como ressarcimento pela parte que lhes cabe no butim do estado brasileiro.

Que, durante a era Lula, o fazer política continue a se basear em tais práticas mercantilistas – que vão contra tudo o que Lula e o PT historicamente defenderam – é algo deplorável, ainda mais porque os cerca de 80% de aprovação média do presidente permitiriam almejar maior coerência entre passado e presente, fosse esta a intenção do mandatário. A realidade, infelizmente, não é assim e todos parecem resignados com isso. Mas o cenário é ainda pior, pois mesmo submetendo-se ao jogo de interesses que sempre criticou, Lula, a despeito de seu prestígio e aprovação popular, não consegue mover as peças, vive encurralado por velhos caciques do mundo político. E quem paga por isso é o país.

Eduardo Guimarães, em seu blog, diagnostica com precisão cirúrgica o modus operandi de Lula, versão paz e amor: “O presidente não briga, porém. Politicamente, como ele afirmou, não é recomendável. O país perde, claro, mas não foi ele que o sabotou. Foram os tucanos, ora. Foi Serra, no fim das contas (...) Contudo, o país perde. E é uma depois da outra. Temos que pagar pela irresponsabilidade da oposição, mas também pela do governo. Aquela porque sabota o país e este porque não a denuncia, não reage à altura, não briga por nós, pois sabe que perderia eleitoralmente”.

Assim, por ocasião da votação da CPI da Petrobrás - cuja aprovação, ressalte-se, seria potencialmente desastrosa não apenas à empresa ou às ambições eleitorais do grupo governista, mas aos interesses do país -, o presidente não se prestou sequer a fazer valer sua autoridade para que os acordos com o PMDB fossem cumpridos, o que beira a irresponsabilidade administrativa. Sim, pois bastaria que o PMDB fosse enquadrado e cumprisse seus acordos com o governo para que a CPI da Petrobrás não fosse aprovada, já que se deve aos votos dos peemedebistas Geraldo Mesquita (AC), Mão Santa (PI), e dos santos do pau oco Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS), todos do partido da suposta base de apoio a Lula, a derrota do governo.

Por um lado, isso não se quer dizer, de forma alguma, que a oposição deva ser inocentada no episódio, nem mesmo sob o argumento – ao meu ver correto – de que o PT faria o mesmo se estivesse na oposição. Janio de Freitas, de volta à grande forma, observa que “Se o PSDB que agora clama pela CPI em defesa da ‘Petrobras que é um patrimônio do Brasil’. tivesse, de fato, dedicação perceptível à coisa pública, seus congressistas não chegariam a condutas até sórdidas para impedir CPIs no governo Fernando Henrique. Nem as ostensivas prevaricações na privatização da telefonia os sensibilizaram".

Por outro lado, o fato de a leniência acomodada de Lula ser prejudicial ao país - nesse episódio talvez como em nenhum outro - não iguala o seu governo ao de seus predecessores. Como aponta Idelber Avelar, “há um conjunto de forças políticas que trabalharam e trabalham pela privatização do patrimônio público. E há um outro conjunto que, com todos os problemas, têm mantido e ampliado esse patrimônio”. Embora trate-se de uma diferença essencial entre dois projetos de país, essa é apenas uma entre várias outras possíveis nas quais o governo Lula sai bem melhor na foto, em comparação com os tucanos. Mas não é este o momento de fazer um balanço da atual administração. Pelo contrário. É momento de cobrar uma atuação mais firme e corajosa do presidente Lula em sua relação com seus supostos aliados.

5 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

Mauricio,

O quadro político-partidário brasileiro é uma loucura. O congresso nacional fragmentado em partidos mil e tendo como principal agremiação um PMDB - a oposição consentida de outrora, hoje, uma confederação de párocos de província, não raro, inimigos entre si - é sintomático.

Nesse sentido, temos o PT, a coisa mais próxima de um partido político que tivemos na história nacional, agindo como uma nau sem rumo há algum tempo. O projeto petista para o Brasil é melhor do que o tucano? Sem dúvida, até pelo motivo de que o segundo é um não-projeto.

No entanto, o modo petista de se articular politicamente para consecução de seus objetivos é lamentável. Como externei no meu post sobre o Maranhão, em muitos momentos, o modus operandi lulista cruza a linha tênue que divide a ponderação e a pasmaceira total dasurrealpolitik, onde você dá concessões para adversários que não querem - ou mesmo não podem - lhe oferecer muita coisa.

Enfim, temos um cenário muito complexo onde a esquerda está sim em crise e os setores denominados como direita não conseguem superar aquela política de vira-latas coloniais. O PSDB, nesse sentido, é o partido que eu vejo mais desgastado - e descaracterizado - nesse processo todo.

Unknown disse...

Surrealpolitik é ótimo!

Hugo Albuquerque disse...

hehehehehehe tive de cunhar esse neologismo para explicar certas...idiossincrasias dos estrategos petistas.

Eduardo Prado disse...

Muitas das posições _ e das omissões _ do presidente Lula e do PT no congresso me incomodam bastante. Tem a ver com o modelo político brasileiro, que dá muito poder poder ao parlamento (herança de uma constituição que pensava no Brasil como uma República parlamentarista), mas também tem a ver com a fragmentação das esquerdas nacionais, com alguns partidos que também fazem oposição governo, assim como a centro-direita. Seria esta a política do possível ou é falta de política mesmo?

Unknown disse...

Taí uma grande questão, Eduardo. Como respondê-la? Sinceramente, não sei...

Quanto ao PT, tenho uma opinião um tanto contraditória. acho que é um partido que vacilou muito, sobretudo durante o primeiro mandato. Mas muitas vezes eu tenho a impressão de que muitas das culpas que derivam, na verdade, de atos do presidente Lula ou das falhas do próprio sistema político são atribuídas ao partido; e, ainda com mais frequência, que a "grande mídia" - que muitas vezes teve seus interesses contrariados pelo PT - aproveitou a onda e transformou o partido numa espécie de "Judas" da política brasileira.

Creio que o tempo, um menor envolvimento emocional e acesso a informações devidamente apuradas vão fornecer uma visão mais apurada do papel do PT nesta década. Se para o bem ou para o mal, não sei.