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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Cunha e a moral cínica

Se confirmada, será um acinte a anunciada decisão de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) de começar a votação pelos deputados do Sul, como forma de "criar um clima pelo impeachment" e pressionar parlamentares do Nordeste (alegadamente mais propensos a votar em Dilma).

Mesmo na sessão do impeachment de Collor, em 1992, que contava com uma quase-unanimidade a favor (a qual não se verifica no processo atual), a votação foi em ordem alfabética, justamente para evitar acusações de favoritismo ou distorções no processo.

Não tenho dúvidas de que quanto mais evidentes as manipulações de Cunha, mais alimentarão o discurso do "golpe" e o ressentimento de parcelas dos eleitores, o que pode resultar tanto em irrupções de violência pública no curto prazo quanto, para 2018, num refortalecimento do lulismo.

É verdadeiro o argumento de que Cunha foi cobra criada pela aliança entre PT e PMDB no Rio, só tendo sido alçado à posição de poder que ocupa graças ao misto de irrealismo, incapacidade de articulação política e megalomania delirante de Mercadante e Dilma, cuja decisão desastrada de "desidratar o PMDB", principal partido da aliança, está na gênese da crise. Constatar tal retrospecto, no entanto, não me parece minimamente suficiente para justificar que sejamos complacentes com as tramoias de um político que age com total desfaçatez e à revelia da ética. A menos que o ódio ao petismo se sobreponha ao apego pelos ritos básicos da democracia.

Com todo respeito aos que pensam de outra forma, alegar que o petismo, no poder, tampouco tem respeito pela democracia, não obstante tratar-se de uma verdade cristalina - como se vê nas sucessivas violações aos direitos trabalhistas e previdenciários, no uso da Força Nacional para reprimir manifestantes pacíficos, no genocídio indígena, nos inúmeros casos de corrupção -, não me parece um argumento convincente de que, então, as violações democráticas contra o PT tenham de ser toleradas.

Pois tal retrospecto não significa, automaticamente, a concessão de um salvo conduto para que os críticos do petismo nos calemos ante as flagrantes violações diretas ou indiretamente ligadas ao processo de impeachment em curso - pelo contrário: a coerência, para mim, consiste em condenar todas e quaisquer violações ao Estado de Direito, mesmo quando elas se voltam contra aqueles aos quais póliticamente nos opomos. A mesma indignação contra as violações de direitos que fez com que me opusesse e as denunciasse, na era Dilma, faz com que as denuncie agora, ainda que contra aquela que julgo a pior presidente do período pós-ditadura.

O contrário disso me parece a adoção de um duplo padrão ético - ou, em outras palavras, a adesão a uma lógica de moral cínica.



(Imagem retirada daqui)

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