O piripaque que
acometeu a candidata Dilma ao final do debate do SBT é um daqueles
eventos cuja simbologia impõe-se sobre qualquer ponderação ou
questionamento: não importa se a “queda de pressão” foi
autêntica ou, como querem alguns, simulada; de um jeito ou de outro,
ela evidencia a desumanidade, a inaturalidade, a brutalidade de uma
campanha política feita com o fígado e com sangue nos olhos, e não
com projetos e programa de governo.
E embora cúmplice e
co-promotor da baixaria, não se pode culpar exclusivamente o
candidato Aécio Neves. A bem da
verdade, a responsabilidade maior é do próprio PT, cuja campanha
desqualificadora contra Marina Silva, desprovida de qualquer
escrúpulo ou limite, numa abdicação deliberada do debate político
em prol da calúnia, do boato e dos ataques pessoais, ditou o tom do
pleito. Foi um dos mais covardes massacres que a política brasileira
já assistiu, mas sua eficácia garantiu seu prolongamento e
ampliação no segundo turno.
Também não
se pode atribuir tão-somente ao
marqueteiro João Santana o ônus de tal estratégia, como procuram
fazer os petistas mais cínicos, posto que tanto a militância,
virtual ou não, quanto a cúpula do partido – inclusive e de forma
destacada a candidata Dilma, sem demonstrar a mínima preocupação
em preservar o instituto da Presidência, pelo contrário–
aderiram de corpo e alma a essa estratégia covarde, antidemocrática
e negatória da Política no que esta tem de transcendental e
transformador.
A
confluência entre a Ciência Política e os Estudos em Comunicação
nos informa que a supremacia do marketing sobre a politica atingiu,
nas últimas décadas, no Ocidente, um ponto em que a transformação
de candidatos e plataformas programáticas em produto vendável é a
norma, e inclui o monitoramento constante da interação entre
candidatos, mídias novas e antigas, militância e eleitores – de
um modo tal que permita mensurar e controlar até a “espontaneidade"
do candidato.
A
presente campanha presidencial, porém, vai além: não contente em
esvaziar qualquer proposta ou debate propriamente político, ela foi
bem-sucedida em colocar a efetividade da agressão e da
desqualificação como os valores máximos de avaliação do
candidato.
Assim,
a disputa se resumiu, até agora, a determinar qual o candidato
aparentemente mais capaz de revelar podres do adversário, de
manipular ou ocultar os dados do próprio governo, de açular o medo
em relação ao futuro que habita o inconsciente coletivo.
Digo "aparentemente" porque, como o próprio estatuto de verdade ou de
fato é desprezado nos debates – inclusive pela mídia, numa grave
omissão -, substituído por uma avalanche de acusações que podem
ou não ser verdadeiras, esses eventos acabam se tornando apenas mais
um round de um enfrentamento
catártico e rebarbativo, onde o que conta é o impacto psicológico
dos golpes e a impressão de vitória que possam eventualmente
causar.
No entanto, como os juízes são os próprios eleitores, hoje em extrema polarização entre si, o resultado é um circulo vicioso em que as duas turbas comemoram a "vitória” de seu candidato, negam qualquer réstia de razão ao adversário, e se acusam mutualmente pelo baixo nível evidente. Enquanto mal disfarçam a torcida por sangue no ringue.
No entanto, como os juízes são os próprios eleitores, hoje em extrema polarização entre si, o resultado é um circulo vicioso em que as duas turbas comemoram a "vitória” de seu candidato, negam qualquer réstia de razão ao adversário, e se acusam mutualmente pelo baixo nível evidente. Enquanto mal disfarçam a torcida por sangue no ringue.
O
mal-estar físico da candidata Dilma acabou por chamar a atenção
para uma situação que muitos já consideravam intolerável. Mas,
tendo ocorrida em plena campanha, a dez dias do pleito, ao invés de
instigar um movimento de apaziguamento de ânimos e de cobrança por
debates éticos e programáticos, acabou por recolocar o círculo
vicioso de acusações, agora girando em torno de temas como a
agressividade maior de um ou de outro candidato, a veracidade ou a
simulação do mal-estar e as demais acusações mútuas que há tempos
caracterizam a dicotomia PT versus PSDB. Tudo, menos a autocrítica.
Na
reta final de uma campanha imunda, fica absolutamente claro que, seja
qual for o resultado das eleições, quem perdeu foi a democracia, a
cidadania e o país.
Na contramão de uma democracia mais participativa, tal como defendida nas Jornadas de Junho, os eleitores brasileiros se veem privados de tomar parte em um debate efetivo e qualitativo sobre Educação, Saúde, Mobilidade Urbana, Biopolítica e demais temas que julgar relevantes, preteridos ou ignorados na campanha, em prol de uma agressividade desqualificadora que equivale a barbárie antirrepublicana.
Na contramão de uma democracia mais participativa, tal como defendida nas Jornadas de Junho, os eleitores brasileiros se veem privados de tomar parte em um debate efetivo e qualitativo sobre Educação, Saúde, Mobilidade Urbana, Biopolítica e demais temas que julgar relevantes, preteridos ou ignorados na campanha, em prol de uma agressividade desqualificadora que equivale a barbárie antirrepublicana.
(Imagem retirada daqui)
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