O desespero dos jornalões ante o avanço da internet sobre seu faturamento está, como sabemos, nas alturas. E é transnacional, como demonstra a publicação, pela Folha de São Paulo, de artigo meio maroto do New York Times sobre o assunto (infelizmente, só pra assinantes).
Escrito pelo usualmente sóbrio Nicholas D. Kristof, o texto (aqui, em inglês) elenca uma séria de pesquisas - sem um pio sobre os métodos por elas adotados - para sustentar que como, na internet, o público é "seu próprio editor", escolhendo o que ler, isso tenderia a tornar as pessoas mais fechadas em torno de suas ideologias pré-concebidas e menos abertas a tomar contato com opiniões das quais divergem.
Até aí, nada demais. Generalizante, mas dá pra discutir. O sublead que a Folha bolou é que é um primor: "Ao contrário do jornal, internet nos leva a buscar ideias afins às nossas e vai nos isolar ainda mais em nossas câmaras políticas hermeticamente fechadas".
Como assim, "ao contrário do jornal"? Deixa ver se eu entendi: quer dizer que quando escolhemos um jornal - e o fazemos, no mais das vezes, por afinidade com sua linha editorial - aí não estamos buscando "idéias afins às nossas"?
E quando, no jornal que escolhemos, sempre lemos alguns colunistas, negligenciando a leitura daqueles que não nos agradam, aí não estamos buscando "idéias afins às nossas"?
Como distorcer o sentido de um artigo dessa forma, se o próprio Kristof o encerra com uma piada na qual diz que, para exercitar o contraditório, agora vai ler o editorial de um jornal - vejam bem, de um jornal, não de um site - concorrente do NYT (o Wall Street Journal)?
Tenta outra, Folha. Essa não colou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário