Nos bares, nos
pontos de ônibus, nos corredores das escolas, nos almoços familiares, o tema do momento é
“o que vai ser do governo Dilma?”. Há quem torça contra, há
quem torça a favor, mas poucos conseguem ficar indiferentes, pois a
pergunta relaciona-se diretamente a uma questão de suma
importância para a vida de todos: “o que vai ser do Brasil?”.
O clima dominante é de
estupefação: “Ela tem um plano B?”; “Você acha que ela
cai?”; “Como vamos sair dessa crise?”; "Por que Dilma fez de tudo pra
vencer as eleições, apelando pro jogo sujo, se era pra fazer o
que tá fazendo?”, perguntam, atônitos.
São pessoas de
diversas classes e áreas: a dentista que viu sua clínica na
periferia esvaziar à medida que o desemprego ao redor tornava-se
endêmico; a cozinheira de um restaurante por quilo que funcionou
por 14 anos, até que a combinação de inflação e crise o obrigou
a fechar as portas; o advogado com um escritório no centro de
São Paulo cujo lucro caiu da casa dos oito dígitos para um montante
com o qual não dá pra sustentar a família, recém-aumentada; a faxineira cujo marido
diabético e amputado sofre no corpo, a cada ida ao posto ou hospital, os
efeitos dos cortes na Saúde; a agente de turismo que só conseguiu
manter o emprego dobrando o serviço, mas sem aumento de salário; o
jornalista com doutorado no exterior que está
desempregado e vê a tesoura de Levy podar até os concursos que poderiam levá-lo à sonhada carreira como professor universitário.
Enquanto isso, em seu
universo paralelo - a Petelândia -, a militância do partido que está há mais de 13 anos no poder continua a dar mostras de grave alienação da realidade, utilizando-se de exceções e
de exemplos estapafúrdios para negar a crise e repetindo o mantra do
golpismo, da velha e pra lá de datada comparação com FHC, e da
recusa a qualquer forma de autocrítica (incluindo a negação do
estelionato eleitoral praticado por Dilma).
Porém, no mundo real, a
crise – que a maioria dos economistas jura que irá se agravar em
2016 – é bem concreta e diariamente vivenciada por um número
crescente de desempregados, de pequenos comerciantes exasperados ante
o iminente fechamento de sua fonte de sustento, de pais e mães
tornados incapazes de prover seus filhos.
São pessoas cuja
tensão constante e cujas aflições diárias são gatilhos para o
“surto” de depressão e de demais patologias psicossociais que
ora acomete nossa sociedade, pois o efeito do desemprego, da
falência e da carestia não é apenas econômico, mas psicológico.
Liga-se diretamente ao que Vivianne Forrester, no clássico O
Horror Econômico, classifica
como o “o drama das
identidades precárias ou anuladas”, devido “à perda
muitas vezes de um teto, à perda de toda consideração social e até
mesmo de autoconsideração”
(1997, p. 10).
É muito fácil ver a
crise a partir do sofá da sala, de forma indireta, refletida na frieza dos números e das
estísticas, que quase sempre se prestam a uma manipulação
argumentativa. Mas é através do contato com seus efeitos em
pessoas de diferentes formações, ofícios e classes sociais que não
só ela se evidencia, mas revela sua capilaridade e seu grau de
perversidade.
Enquanto a sociedade sofre e debate, ansiosa, a
presidente e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy estão, neste exato momento, determinando
cortes ainda mais profundos, que vão assumidamente incidir sobre
áreas sociais - inclusive Educação e Saúde, as mais sacrificadas
até agora. Além disso, confirmam um aumento generalizado de impostos
que, uma vez mais, poupa os bancos, o mercado financeiro e o
rentismo, as entidades religiosas
e as grandes fortunas, penalizando sobretudo os trabalhadores.
e as grandes fortunas, penalizando sobretudo os trabalhadores.
Resta saber se o governo vai enxugar as suas próprias gorduras, os inacreditáveis 38 ministérios, as verbas publicitárias de R$ 2,5 bi ao ano, as viagens a granel ou o quarto de bilhão gasto em garfos para o Palácio do Planalto.
Cobrindo ou não o rombo governamental, uma coisa é certa: os cortes anunciados e o aumento de impostos vão refrear ainda mais a atividade econômica, agravando a recessão e piorando a perspectiva de desempregados e de pequenos comerciantes.
Cobrindo ou não o rombo governamental, uma coisa é certa: os cortes anunciados e o aumento de impostos vão refrear ainda mais a atividade econômica, agravando a recessão e piorando a perspectiva de desempregados e de pequenos comerciantes.
São, assim, medidas que
reforçam o caráter elitista do governo petista, sua insensibilidade
social e seu desprezo pela esquerda, evidenciado na predileção
recorrente pela adoção do receituário neoliberal. Fica claro que
Dilma e o PT não têm a compreensão das dimensões da crise e da
gravidade de seus efeitos na vida dos cidadãos.
(Imagem retirada daqui)
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