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quinta-feira, 23 de junho de 2016

Paulo Bernardo e o golpe

Paulo Bernardo é, com certeza, uma das figuras políticas mais abjetas da era petista. No primeiro governo Dilma, à frente do ministério das Comunicações, encarregado de efetivar as promessas que a candidata acordara - em troca de apoio - com os setores mais avançados do ativismo digital, protagonizou, de forma deliberada, um engodo contra os cidadãos, numa versão precoce e pouco debatida de estelionato eleitoral.

Logo após a posse e durante o primeiro ano de mandato, ele comprometeu-se a aperfeiçoar a qualidade e a democratizar a banda larga, como parte de um ambicioso - e necessário - projeto de inclusão digital, o qual anunciava não apenas nos fóruns convencionais, mas em interações diárias e diretas nas redes sociais.



Sumiço
Porém, essa então novidade - para o Brasil - de um membro do alto escalão do Executivo dialogar diariamente com os cidadãos foi desaparecendo à medida que se tornava evidente o descumprimento das promesas originais do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). A inclusão digital global saiu da pauta, as verbas escassearam e o processo de desmanche do projeto foi denunciado em Carta Aberta à Presidenta Dilma, no bojo da eclosão de "crise entre os membros da sociedade civil, agentes da inclusão digital e o governo federal".

Logo ficou evidente que tal abandono se dava em prol do fortalecimento do poder das teles, cujas dívidas milionárias eram anistiadas a cada final de ano, enquanto - sob a inação cúmplice da Anatel - continuavam a oferecer um serviço de qualidade precária e altos preços, se comparados aos padrões internacionais. Ato contínuo, significadamente, tornam-se as principais financiadoras da milionária campanha da esposa do então ministro, Gleisi Hoffman, ao governo do Paraná, em 2014.



Outro mensalão
Tal atuação já seria mais do que suficiente não apenas para ruir a imagem de Paulo Bernardo como homem público, mas para torná-lo "pessoa de interesse" para a Justiça.


Mas não acaba aí: com sua prisão, no bojo da operação "Custo Brasil" - deflagrada hoje pela Polícia Federal -, descobre-se que a atuação do ministro durante os governos petistas foi ainda mais vergonhosa: incluiria, segundo denúncia do MPF-SP, um esquema de recebimento de propina baseado no direcionamento de licitação pública e no recurso a empresas de fachada, esquema esse que teria movimentado R$100 milhões, com R$7 milhões em dinheiro público indo para os bolsos do político do PT.

Para tornar tudo ainda mais repulsivo, tal esquema - do qual, segundo a denúncia, beneficiavam-se Paulo Bernardo, um escritório de advocacia e o Partido dos Trabalhadores - desviava recursos de empréstimos consignados de servidores e pensionistas, ou seja, de contingentes pobres e remediados da população. (Cabe notar que, à diferença, por exemplo, do "Petrolão", não se trata da ação de uma empresa estatal autônoma, mas de um foco de corrupção agindo nas entranhas mesmo do governo, a partir de um ministério afixado no organograma do Executivo.)



Explorando os necessitados
Antes e à revelia da eclosão do escândalo, a própria modalidade do empréstimo consignado já vinha se mostrando extremamente polêmica. Pois, criada para facilitar o acesso ao crédito a aposentados e determinados estratos de baixa e média renda - como forma de incentivar o consumo na Era Lula -, tem resultado em um processo cruel de endividamento e de redução substancial dos vencimentos mensais (dos quais se desconta o pagamento do empréstimo), notadamente no que tange a idosos e pensionistas, com reflexo na capacidade da compra de medicamentos e alimentação.

Um método de corrupção que não hesita em explorar tais atores socioeconômicos explicita o grau de crueldade, de degeneração e de desprezo por regras básicas do convívio republicano durante os governos petistas. Isso, sim, é golpe.



(Imagem retirada daqui)

terça-feira, 21 de junho de 2016

Haddad na encruzilhada eleitoral

Uma maioria maciça de 55% dos eleitores considera a gestão Haddad ruim ou péssima, registra pesquisa do Ibope divulgada hoje. Para 33% ela é regular e para meros 12%, ótima ou boa.

Haddad é, ainda, o candidato com a maior rejeição, com 46%, um índice que supera em quatro pontos o limite-padrão de viabilidade eleitoral estabelecido pelos especialistas para eleições em dois turnos.

Cabe assinalar, ainda, ser provável que essa pesquisa - feita entre os dias 16 e 19 - tenha captado só parcialmente o desgaste do prefeito em decorrência de sua política desumana para com os moradores de rua, amplamente perceptível nos fóruns públicos e redes sociais (que o apelidaram, significadamente, de Maldadd).

Pode-se argumentar que, na eleição anterior, em 2012, Haddad também largou mal, foi subindo, subindo e saiu vitorioso no segundo turno, enquanto Serra e Russomano [que tinha, na primeira pesquisa eleitoral, os mesmíssimos 26% ora captados pelo Ibope] decaíram. Só que ele era então uma novidade, quase um outsider, o jovem e promissor acadêmico com uma passagem tida (então) como brilhante à frente do Ministério da Educação.

Agora, a situação inverte-se: ele é situação e terá de enfrentar não só o ônus e o desgaste de quatro anos à frente da Prefeitura, mas a concorrência de candidatas que, como ele, têm origem no petismo, vivência na esquerda e experiência administrativa, como Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (PSOL) - as quais, com, respectivamente, 10% e 8%, aparecem à sua frente na pesquisa Ibope.

Além disso, os reflexos da derrocada moral e política do PT no âmbito nacional devem cobrar um alto preço. Como explicar, de forma eticamente coerente, que Gabriel Chalita, que até ontem era pupilo dileto de Temer - a quem os petistas acusam de golpista - tenha sido o escolhido para ser vice na chapa de Haddad?

Tudo somado, mesmo com toda a máquina estatal e a expertise marqueteira, tudo indica que será uma tarefa árdua para o PT reeleger-se para a prefeitura de SP - a mais simbólica e maior esperança do partido de administrar um orçamento público de grande porte a partir das eleições deste ano.


(Foto retirada daqui)